Sigilos bancários obtidos por ISTOÉ
mostram que o empresário Adir Assad, operador flagrado no escândalo da
Delta, recebeu dinheiro do esquema Petrobras, através do doleiro Alberto
Youssef, para repassar a políticos
Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Há poucas
semanas, a Polícia Federal recebeu um arquivo digital com a quebra do
sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor
de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. São milhares de
transações realizadas nos últimos oito anos: depósitos, transferências e
saques de bilhões de reais oriundos de contratos de fornecedores da
Petrobras – dinheiro que saiu dos cofres da estatal para abastecer o
esquema de corrupção que pagou deputados, senadores, governadores e até
ministros. Ao analisar detalhadamente esse material, os investigadores
encontraram um personagem misterioso que pode ser a chave para comprovar
a distribuição de propina a políticos de diferentes legendas. Esse
personagem chama-se Adir Assad, empresário libanês apontado como
intermediário de propinas de outro escândalo recente, envolvendo fraudes
em contratos da empreiteira Delta com o Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT).
O empresário Adir Assad surge como o elo entre o doleiro e os políticos
Em 2012, durante a CPI que investigou o
caso Delta, o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira,
delatou a ação de Assad. Disse que o libanês era quem distribuía aos
parlamentares o dinheiro desviado pela Delta e por outras grandes
empreiteiras que mantinham contratos com o DNIT. Cavendish entregou o
nome de 19 empresas de fachada usadas por Assad para sacar os recursos. O
empresário chegou a ser convocado a depor, mas não disse nada –
protegido por um habeas corpus. A oposição também tentou quebrar o
sigilo de suas empresas, mas a maioria governista na CPI rejeitou o
requerimento.
Agora, Assad volta ao centro das
investigações. Nos sigilos bancários do esquema Youssef, a Polícia
Federal descobriu ao menos cinco das 19 empresas fantasmas de Assad:
Soterra Terraplenagem, Legend Engenheiros Associados, JSM Engenharia,
Rock Star Marketing e SM Terraplanagem. Entre 2009 e 2011, elas
receberam mais de R$ 65 milhões em recursos desviados de contratos da
Petrobras com a empreiteira Toyo-Setal. O dinheiro escorreu por meio de
uma filiada, a Tipuana Participações Ltda., registrada em nome de
Augusto Ribeiro de Mendonça, que há poucos dias firmou com o Ministério
Público Federal um acordo de delação premiada. Mendonça é o segundo
executivo do grupo Toyo a assinar um termo de colaboração. O primeiro
foi Júlio Camargo, cujas revelações têm surpreendido os procuradores.
A força-tarefa da Operação Lava Jato, que
investiga o esquema montado por Youssef e Paulo Roberto Costa, quer
saber agora quem foram os destinatários finais do dinheiro recebido por
Assad. Chama a atenção dos procuradores, por exemplo, três depósitos
idênticos de R$ 783.546,93 feitos simultaneamente, no dia 18 de dezembro
de 2009, nas contas das empresas Rigidez, Legend e DFS Participações.
Ocorre que o dia 18 de dezembro marcou o encerramento da CPI que
investigou a Petrobras em 2009. A investigação sobre a estatal terminou
como tantas outras, sem qualquer punição. A PF suspeita que o dinheiro
repassado pela Tipuana serviu para selar o acordo para pôr um fim na
CPI. Nas semanas que antecederam essa operação, a Legend, de Assad,
recebeu outros R$ 12 milhões. A PF já sabe que a empreiteira Rigidez,
que recebeu no total R$ 62 milhões da Tipuana, pertence ao doleiro
Alberto Youssef. Já a DFS está registrada em nome do próprio Augusto de
Mendonça.
Na semana passada, o líder do PPS na
Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), pediu a quebra de sigilo de uma das
empresas de Assad, a Rock Star Marketing. Até então, Bueno só tinha
conhecimento de que a Rock Star havia feito um depósito de R$ 1,2 milhão
na conta da MO Consultoria, outra das empresas de Youssef. Com as novas
evidências, Bueno vai ampliar seu pedido para todo rol de empresas
ligadas a Assad. Para a Polícia Federal, é necessário quebrar também o
sigilo bancário de todas as empresas ligadas a Augusto de Mendonça. No
histórico de operações da Tipuana, os investigadores identificaram
inúmeras transferências para empresas em nome de familiares de Mendonça e
sócios, num montante superior a R$ 100 milhões. Desse total, R$ 18,7
milhões foram para a Yellowwood Consultoria.
NA MIRA DA PF
Compra de empreendimento pelo deputado Celso Russomano
e pela filha do deputado Eduardo Gomes será investigada
Em 2012, a Yellowwood abriu em Brasília uma
filial do Bar do Alemão, situado às margens do Lago Paranoá, região
nobre de Brasília. O empreendimento ganhou notoriedade por reunir em seu
quadro societário o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) e a
filha do deputado federal licenciado Eduardo Gomes (SD-TO), hoje
secretário de Esportes do Tocantins. Tanto Russomanno como Gomes tiveram
dificuldades para explicar como conseguiram R$ 1 milhão cada um para
participar do negócio. O deputado paulista disse que pagaria sua parte
trabalhando na administração do bar. Seu colega do Tocantins alegou que
recorreu a empréstimos e economias. Agora, se sabe que a Yellowwood
pertence ao executivo da Toyo-Setal que mantém relações com Assad e
Youssef.
Para a PF, Russomanno e Gomes terão de
explicar melhor essa sociedade e a relação com Adir Assad. Há dois anos,
quando veio à tona o caso de corrupção envolvendo a Delta, Russomanno
foi flagrado num convescote com o empresário libanês na casa de Marcello
Abbud. Os dois teriam sido apresentados por Paulo Maluf, que teve
negócios com Assad no passado. ISTOÉ tentou contato com ambos, mas não
obteve retorno. O empresário libanês tem muito a dizer, resta saber se
desta vez a Justiça lhe garantirá o silêncio.
Foto: André Dusek/ Estadão Conteúdo
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