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Pedro Ladeira/Folhapress | |
Deputados discutem durante votação no Conselho de Ética |
A pressão do Palácio do Planalto para deputados do PT votarem no Conselho de Ética pela anistia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), colocou a cúpula do partido e a maioria da bancada da sigla em choque com o governo.
A sinalização de que representantes da legenda poderiam chancelar, nesta terça-feira (1º), a salvação de Cunha a pedido de aliados de Dilma Rousseff levou parlamentares e prefeitos da sigla a acionar a direção do PT com ameaças de desfiliação em série.
Três deputados petistas integram o colegiado e os votos deles são fundamentais para que o peemedebista consiga enterrar a discussão sobre uma eventual cassação de seu mandato por suposto envolvimento nas investigações de corrupção na Petrobras.
Os defensores de um acordo com Cunha, entre eles o ex-presidente Lula, acreditam que ele engavetará pedidos de impeachment contra Dilma se conseguir salvar seu mandato no Conselho de Ética.
No entanto, a direção do PT, a maioria da bancada e até uma ala minoritária do governo decidiu remar na corrente contrária. Eles defendem a tese de que salvar Cunha seria manter nas mãos dele um "cheque em branco" para chantagear a presidente. Pregam, inclusive, que a presidente deve "pagar para ver" e encarar a discussão sobre seu afastamento.
O choque ficou evidente durante o dia. Enquanto no Planalto o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) trabalhava para convencer os petistas a votarem a favor de Cunha, na Câmara a manobra era descrita por parlamentares do próprio PT como "suicídio político".
Essa pressão resultou em uma declaração pública do presidente nacional do PT, Rui Falcão, contra o apoio dos deputados de seu partido ao peemedebista.
Além disso, 34 dos 60 deputados da bancada do PT apoiaram
um abaixo assinado contra Cunha. No início da noite, esses
parlamentares diziam que a chance dos colegas de partido darem aval a
Cunha era "zero".
"A posição do presidente Rui Falcão e da maioria da bancada dará um
enorme conforto para que eles [integrantes do Conselho] votem pela
admissibilidade do processo", sustentou Paulo Teixeira (PT-SP).
ADIAMENTO
A decisão sobre o trâmite do processo de cassação do presidente da Câmara acabou adiada
após seis horas de discussão. Com isso, Cunha conseguiu protelar
novamente o desfecho do caso. Até o fim da sessão, sete deputados
anunciaram que votariam pelo andamento do processo e um, contra.
A sessão terminou sem que os três deputados do PT se posicionassem
formalmente. Durante o dia, no entanto, a declaração mais incisiva sobre
a pressão a que estavam submetidos veio do deputado José Geraldo
(PT-PA).
"Estamos votando não com a faca, mas com a metralhadora no pescoço. E a metralhadora está na mão do Cunha", disse o petista.
Ele chegou a dizer que, se votasse a favor de Cunha, não estaria falando
a favor o peemedebista, mas pela "salvação do país, da economia e do
emprego", numa referência ao mandato de Dilma.
Sentindo o clima de divisão no PT, Cunha indicou que poderá mudar o relator da proposta do governo de recriar a CPMF caso os deputados petistas votem pelo arquivamento de sua cassação.
Nesta terça, o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça),
Arthur Lira (PP-AL), aliado de Cunha, indicou-se relator da recriação do
imposto, o que desagradou ao Planalto.
(DANIELA LIMA, MARINA DIAS, GUSTAVO URIBE, RANIER BRAGON E VALDO CRUZ)
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