Jamil Chade, correspondente
A Suíça vai transferir ao Brasil todos os processos criminais
existentes contra os suspeitos no caso do cartel dos trens de São Paulo,
o que significa que a Justiça brasileira receberá todos os detalhes de
todas as contas dos envolvidos e que atualmente estão bloqueadas.
A
informação foi dada a uma delegação de procuradores e promotores
brasileiros que, nesta semana, estiveram em Berna para trocar
informações sobre o caso envolvendo as empresas Alstom e Siemens e
funcionários públicos nacionais. Nesta quinta-feira, 04, a Polícia
Federal indiciou 33 pessoas suspeitas de envolvimento no cartel do setor
metroferroviário que operou em São Paulo entre 1998 e 2008, nos
governos de Márcio Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
Entre os indiciados está o atual presidente da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira.
As informações
permitirão que o Ministério Público no Brasil e promotores paulistas
possam aprofundar as investigações contra João Roberto Zaniboni,
ex-diretor da CPTM, contra o lobista Arthur Teixeira e o também
ex-diretor da CPTM, Ademir Venâncio de Araújo, que detém cinco contas na
Suíça com um montante bloqueado de US$ 1,2 milhão.
Os três
são considerados peças fundamentais para entender de que forma as
multinacionais Alstom e Siemens operavam para garantir contratos. Outro
foco do processo é o ex-juiz do Tribunal de Contas, Robson Marinho.
Na
Suíça, eles estavam sendo investigados por lavagem de dinheiro e todas
suas contas haviam sido bloqueadas. Com a transferência, todos os
extratos bancários e todas as informações seriam também entregues. "Esse
é o cenário de pesadelo para os suspeitos", disse Silvio Marques,
promotor paulista que fez parte da delegação.
Para que seja
concretizada, a transferência do processo ainda precisa passar pelo
Ministério da Justiça na Suíça. O Brasil não seria contrário em aceitar o
processo. No caso das contas do ex-prefeito Paulo Maluf no exterior, o
STF chegou a pedir a Luxemburgo, França e Jersey que os processos fossem
transferidos ao Brasil.
Desde quarta-feira, uma delegação
de procuradores e promotores brasileiros esteve em Berna em encontros
com o Ministério Público da Suíça. A meta tanto dos suíços quanto dos
brasileiros é identificar o percurso do dinheiro encontrado em contas em
Zurique e que poderiam ser propina paga por empresas como a Alstom e a
Siemens para garantir contratos públicos no Brasil.
Há
meses os brasileiros vinham pedindo para que as informações sobre as
contas desses suspeitos e, até agora, Berna tinha evitado abrir seus
arquivos. Hoje, porém, fontes do MP suíço confirmaram à reportagem que o
acesso aos detalhes das contas já bloqueadas foi garantido aos
brasileiros.
Os documentos seguem nas próximas semanas por
meio dos canais oficiais. Mas as informações passadas aos brasileiros
durante as reuniões apontou para novas evidências e novas provas de como
as propinas eram pagas pelas multinacionais.
A delegação
brasileira, composta pelo procurador da República Rodrigo de Grandis e
pelo promotor de Justiça Silvio Marques, admitiu que ficou "surpresa"
com a indicação dos suíços.
Quando retornar ao Brasil, na
semana que vem, De Grandis vai avaliar o informe preparado pela Polícia
Federal e decidir como incorporar as informações dos suíços. "Vamos
avaliar qual é a melhor estratégia", disse. Para ele, os extratos
bancários e documentos dos suíços "certamente" vão além da apuração
realizada até hoje no Brasil desde o início do caso.
Num
esforço de demonstrar que existe uma cooperação, um dia antes da reunião
de Berna, a Polícia Federal fez busca na residência e no escritório de
Zaniboni, no que foi uma operação executada justamente a pedido do
Ministério Público da Suíça ainda em 2011 e jamais realizada. Berna
abriu investigação sobre a origem os mais de US$ 826 mil que Zaniboni
manteve depositado em Zurique. O ex-diretor garante que o dinheiro foi
resultado de uma consultoria que prestou.
Os suíços haviam
concluído o caso que existia contra a Alstom, depois que a multinacional
pagou uma multa milionária e encerrou o processo em Berna. Mas, agora,
as suspeitas são contra brasileiros que teriam usado o sistema bancário
suíço para lavar dinheiro fruto dessa corrupção.
O que
chama a atenção dos suíços é que parte do dinheiro foi depositado por
Arthur Teixeira, apontando pela PF aponta como o pagador de propinas do
cartel de trens. Dados bancários de posse dos suíços revelam de fato o
nome de Teixeira e é justamente essa informação que o Brasil também quer
levar de volta ao País quando deixar Berna na sexta-feira
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POLÍTICA E ECONOMIA