Ex-gerente da Petrobras que fez acordo de delação premiada e prometeu
devolver R$ 250 milhões recebidos em propina, Pedro Barusco também é
apontado pelo Tribunal de Contas da União como um dos responsáveis por
um prejuízo de US$ 177 milhões –o equivalente a R$ 458 milhões– à
estatal.
A partir de 2005, ele defendeu junto ao comando da petroleira um
reajuste em favor de empresas contratadas para construir as plataformas
P-52 e P-54.
Uma das beneficiadas foi um braço do Grupo Setal, que está entre os
integrantes do cartel que pagava suborno em troca de contratos com a
Petrobras, conforme as investigações da Polícia Federal na Operação Lava
Jato.
Dois de seus executivos –Julio Camargo e Augusto Ribeiro, ambos da empresa Toyo Setal– firmaram acordos de delação premiada.
Eles confessaram a participação no esquema, inclusive pagamento de
propina a diretores da estatal e ao próprio ex-gerente Pedro Barusco.
No caso auditado pelo TCU, as prestadoras de serviço pleiteavam um
acréscimo no valor dos contratos assinados entre 2003 e 2004 por um
valor total de R$ 4 bilhões.
Argumentavam que vinham acumulando perdas por causa da variação cambial.
À época, o real atravessava um processo de valorização frente ao dólar.
O negócio foi firmado em dólar, por meio da Petrobras Netherlands, uma subsidiária da estatal brasileira registrada na Holanda.
Os custos das empresas, porém, eram pagos em real. Como a moeda
brasileira começou a se valorizar, as companhias contratadas alegaram
perdas e pediram o reajuste do valor original.
Embora ocupasse uma gerência, Barusco tinha poderes para atuar junto à
diretoria. Foi ele que analisou a demanda das prestadoras de serviço e
deu parecer favorável pela área de engenharia. Outros setores, como o
departamento jurídico, também deram aval. A diretoria, então, aprovou a
correção.
No TCU, internamente, o caso é considerado um dos maiores escândalos contábeis envolvendo a Petrobras.
Examinando os contratos, os auditores do tribunal concluíram que os
riscos cambiais deveriam caber às prestadoras de serviços. Havia,
inclusive, uma cláusula específica prevendo isso.
Os auditores também apontaram que as empresas poderiam se proteger com
operações de hedge (compra antecipada de moeda por um valor fixo), o que
não ocorreu. Ainda assim, a Petrobras assinou termos aditivos,
reajustando os contratos.
No caso da P-52, a manobra representou perdas de ao menos US$ 92,3
milhões à estatal, segundo o TCU. No outro caso, de US$ 85 milhões.
Barusco não é o único dirigente respondendo ao processo. O presidente da
companhia à época, José Sérgio Gabrielli, e toda a diretoria, inclusive
Renato Duque, Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, constam como
responsáveis pela decisão.
O TCU, no entanto, não obrigou nenhum dos servidores a ressarcir a
companhia. O órgão de controle entendeu que havia decisões anteriores
permitindo reajustes por causa de mudanças no câmbio.
O órgão determinou que a Petrobras cobrasse de volta o valor pago a
mais. A estatal recorreu da decisão e ainda não houve julgamento final.
OUTRO LADO
A Petrobras confirmou que, por decisão do TCU, "parte dos valores encontra-se garantida por fiança bancária/retenção".
A empresa, no entanto, argumenta que não há decisão definitiva do
processo e que, por isso, não se pode falar em ressarcimento. Via
assessoria, disse que vem prestando esclarecimentos ao TCU.
A advogada Beatriz Catta Preta, que defende Barusco na Lava Jato, preferiu não se manifestar sobre o tema.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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