O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa surpreendeu os integrantes
da CPI criada pelo Congresso para investigar a estatal ao quebrar o
silêncio e confirmar que entregou dezenas de políticos em seus
depoimentos à Justiça, mantidos sob sigilo pelo Supremo Tribunal
Federal.
Sem entrar em detalhes para não comprometer o acordo de delação
premiada, Costa fez um "esclarecimento inicial" nesta terça (2), na
sessão em que foi convocado para acareação com outro ex-diretor da
estatal, Nestor Cerveró.
Preso durante a Operação Lava Jato, que desvendou o maior esquema de
corrupção envolvendo a petroleira, Costa só foi solto depois de fazer o
acordo e admitiu que entregou "algumas dezenas" de políticos ao ser
questionado pelos integrantes da CPI.
Após a sessão, confidenciou a dois deputados o número de políticos que
citou. Um dos que ouviu o dado foi Julio Delgado (PSB-MG). "Eu
perguntei: como é isso, quantos são?'. Ele me disse que são de 35 a 40
do PP, PMDB e PT."
O delator disse que chegou a ficar "enojado"
com o que ocorria na estatal e que a corrupção está espalhada pelo
país. "O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas
rodovias, ferrovias, nos portos, aeroportos, nas hidrelétricas. Isso
acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar."
Ele não falou sobre a acusação, que fez à Justiça, de que Cerveró
recebia propina. O ex-diretor da área internacional negou: "É uma
ilação".
Costa fez um breve histórico de sua entrada por concurso na estatal, em
1977, mas admitiu ter chegado ao alto escalão graças a indicações
políticas –foi diretor de Abastecimento de 2004 a 2012.
Ele, que cumpre prisão domiciliar, diz estar "profundamente arrependido".
"Desde o governo Sarney, governo Collor, governo Itamar, governo
Fernando Henrique –todos–, governo Lula, governo Dilma, todos os
diretores da Petrobras e diretores de outras empresas, se não tivessem
apoio político, não chegavam a diretor! Isso é fato. Pode ser
comprovado."
E continuou: "Infelizmente, aceitei. Se pudesse, não faria isso. Esse cargo me deixou onde estou hoje", disse.
Ele chegou a dizer que sonhava em ser presidente da Petrobras e que
passou a sentir ojeriza do esquema do qual participava. Foi, segundo
diz, quando enviou à Casa Civil, em 2009, e-mail com questionamento
feitos pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
O e-mail foi revelado pela revista "Veja". Na época, Dilma Rousseff
chefiava a Casa Civil. À CPI Costa negou que o envio ocorreu por
interesses escusos ou porque queria interferência do Executivo.
"Nessa época, eu já estava enojado. Aquele processo estava me enojando.
[O objetivo] foi alertar de que estávamos com problemas", disse.
"Queria que ele explicasse o que é o enojamento' e por que não tomou
nenhuma ação para desenojar' o processo", afirmou o deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS).
Costa não deu novos detalhes sobre sua delação. Repetiu, porém, que
confirma tudo o que foi dito, segundo ele, em mais de 80 depoimentos.
Disse que virou delator para "deixar a alma mais pura" e atendendo ao
apelo da família. "Perguntaram: Por que só você, cadê os outros? Você
vai pagar sozinho?'"
A disposição dele em falar animou a oposição. O deputado Izalci
(PSDB-DF), questionou se o ex-presidente Lula e a presidente Dilma foram
informados sobre os desvios.
Costa disse que, por ele, nunca. Aproveitou para desmentir que Lula o chamasse de Paulinho: "É folclore".
Cerveró repetiu o roteiro de sua primeira fala à CPI, em setembro.
Voltou a dizer que não sabia nada sobre a existência de um cartel de
empresas, de superfaturamento em obras e propina.
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MENSAGEM
"Nessa época, eu já estava enojado. Aquele processo estava me enojando. [O objetivo] foi alertar que estávamos com problemas"
PAULO ROBERTO COSTA sobre e-mail à Casa Civil, em 2009
DESVIOS
"O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, ferrovias, nos portos, aeroportos, nas hidrelétricas"
IDEM
APADRINHAMENTO
"Desde o governo Sarney, todos, todos os diretores da Petro-bras e de outras, sem apoio político, não chegavam [a cargos]"
IDEM
SUSPEITAS
"Acho que isso é uma ilação [a acusação de que também recebia propina]"
NESTOR CERVERÓ, ex-diretor da área internacional da Petrobras
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