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Manuela Scarpa/Foto Rio NewsJoesley Batista, herdeiro da produtora de carnes JBS
15 de dezembro (Bloomberg) -- Quando tentou comprar a National Beef
Packing Co. e a Smithfield Beef Group Inc., ambas com sede nos EUA, em
2008, a produtora brasileira de carne bovina JBS S.A. foi recebida por
uma onda opositora.
Procuradores-gerais de 13 Estados americanos entraram com ações contra a
empresa, que tem sede em São Paulo, alegando que a aquisição da
National Beef, quarta maior embaladora dos EUA, ameaçaria a precificação
competitiva ao criar um oligopólio liderado pela JBS, pela Tyson Foods
Inc. e pela Cargill Inc.
Em campanha, Hillary Clinton disse ao "Rapid City Journal", de Dakota
do Sul, que seria contrária à compra da Smithfield e que iria "combater a
consolidação".
A família Batista, que controla a JBS, não desanimou. Desistiu da
aquisição da National Beef, concluiu a compra da Smithfield e
transformou a JBS em um império alimentar global -- tudo com a ajuda de
um banco estatal.
Com uma receita de R$ 110 bilhões (US$ 45 bilhões) nos últimos 12
meses, a JBS ofuscou a Vale S.A. neste ano e se tornou a maior empresa
do Brasil depois da Petrobras. E também transformou cinco dos seis
filhos do fundador da JBS, José Batista Sobrinho, em bilionários em
dólares.
"Eles administram um negócio apertado", disse Revisson Bonfim, chefe de
análise de mercados emergentes da Sterne Agee Leach em Nova York. "Eles
entram onde há muitos desperdícios e sabem como remover o desperdício.
As aquisições sempre estiveram no DNA deles, mas foi depois que eles
mudaram para os EUA que a coisa decolou."
Após realizar mais de US$ 17 bilhões em aquisições, a JBS agora tem
operações em cinco continentes e em 21 Estados brasileiros. Os Batista,
que não têm parentesco com o outrora bilionário brasileiro das
commodities Eike Batista, estão sendo impulsionados pela maior
recuperação das ações do índice da Bovespa neste ano.
A JBS deu um salto de 53% nos últimos seis meses, empurrada pelo
incremento dos preços da carne bovina e pelo fato de a Rússia ter
cancelado a proibição para as fábricas de processamento de carne do
Brasil.
Bilionários ocultos
Os cinco irmãos Batista -- Joesley, Wesley, Valere, Vanessa e Vivianne
Batista -- têm uma participação equivalente na J&F Investimentos SA,
a empresa holding por meio da qual eles e outros membros da família
controlam a JBS e também investimentos em bancos, celulose, gado,
produtos de limpeza e construção. Nenhum deles jamais apareceu
individualmente em um ranking internacional de riqueza.
Um porta-voz da JBS disse que os irmãos preferiam não comentar essa
reportagem e respondeu a outras perguntas sobre a empresa em um e-mail.
Um sexto irmão, José Batista Júnior, vendeu sua parte no negócio e se
comprometeu a investir R$ 100 milhões para concorrer ao cargo de
governador de Goiás, mas depois deixou a disputa para abrir caminho para
um companheiro membro do PMDB.
O pai, José Batista Sobrinho, iniciou o império familiar do setor
alimentício nos anos 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek
implementou o plano "cinquenta anos em cinco" para acelerar a construção
de Brasília, a nova capital do Brasil.
Batista, que começou abatendo cinco cabeças de gado por dia, ajudava a
fornecer carne para os trabalhadores que construíam a cidade.
Em
8º lugar entre os bilionários brasileiros, Marcelo Odebrecht, 45, e sua
família têm patrimônio estimado em R$ 14 bilhões. Ele é neto de
Norberto Odebrecht, fundador do grupo Odebrecht, que atua em áreas como
engenharia, construção e petroquímica. Marcelo é sócio e presidente do
grupo Leia mais Enrique Castro-Mendivil/Reuters
Aquisições
O BNDES aprovou R$ 287 milhões em empréstimos para a empresa de José
Batista Sobrinho antes de a companhia comprar as operações da Swift Co.
na Argentina, em 2005.
Quando a JBS vendeu ações em uma oferta pública, em 2007, o braço de
investimentos do banco aprovou uma participação de R$ 1,1 bilhão para
ajudar a adquirir a Swift, na época a terceira maior empresa de carne
bovina e suína dos EUA. De propriedade do Tesouro brasileiro, o BNDES
anunciava a criação de uma "multinacional brasileira".
Mais aquisições vieram na sequência, entre elas a da Pilgrim's Pride,
com sede em Pittsburgh, EUA, a da canadense XL Foods e a de quatro
processadoras de carne brasileiras.
A JBS adquiriu a empresa de lácteos Vigor em 2009 como parte da
aquisição do Grupo Bertin SA. O banco converteu R$ 3,5 bilhões de
títulos locais da JBS em ações em 2011. O BNDES aprovou R$ 6 bilhões em
ações e R$ 2,4 bilhões em empréstimos em uma década.
"O setor de carne bovina estava desorganizado, dividido, informal",
disse um porta-voz do BNDES em um e-mail. O ambiente "não permitia que o
Brasil tirasse vantagem das vantagens competitivas do setor, um
relevante criador de empregos".
Batista, 81, transformou seus filhos em membros do conselho da empresa
em 2005. Os irmãos Joesley, 42, e Wesley, 44, ampliaram sua importância
dentro da empresa ao longo da expansão, até assumirem o comando, que
estava nas mãos do pai, como presidente do conselho e
presidente-executivo da JBS, respectivamente.
Rich Vesta, que chefiou as operações da JBS nos EUA até 2010, disse que
o apoio do BNDES não deveria diminuir o trabalho dos irmãos na empresa.
Desordens mentais
Os irmãos Batista são especialistas em introduzir eficiências em
matadouros recentemente adquiridos, que dependem de trabalho manual,
disse Vesta. Os trabalhadores aumentam as margens de lucro sendo os mais
rápidos para separar as carcaças penduradas em cortes comercializáveis.
A JBS tem mais de 200 mil trabalhadores e capacidade para abater 100
mil vacas, 72 mil porcos e 13 milhões de aves por dia. A rotina nos
frigoríficos pode ter um preço para os funcionários.
As ocorrências de desordens mentais e dos tecidos moles são três vezes
maiores do que em outros setores, segundo procuradores do trabalho.
Um trabalhador da JBS quase perdeu um braço tentando consertar um
tanque de descarga congestionado em 2012, no Mato Grosso. A polícia foi
chamada para sua casa, em janeiro, depois que ele tentou serrar o membro
paralisado como se fosse a cartilagem de uma carcaça bovina. A JBS
disse que não teve culpa.
"É tenso", disse Elias Vasconcelos da Costa, que recebia cerca de US$
750 por mês em uma fábrica em Mato Grosso desossando até 50 carcaças por
hora. "É preciso ser forte".
'Ritmo frenético'
Os tribunais brasileiros raramente decidem a favor dos empregadores nos
processos trabalhistas, que podem se estender por anos. Em um caso
recente, o Tribunal Superior do Trabalho ordenou que a Seara, uma
unidade da JBS, pagasse R$ 10 milhões a trabalhadores que foram
demitidos por exigir intervalos de descanso no Estado de Santa Catarina.
O juiz Alexandre Agra citou um "ritmo frenético" a temperaturas
próximas de 0º C e a falta de intervalos apropriados. A empresa não
respondeu a um pedido para comentar o caso.
A JBS também foi acusada de comportamento predatório. A senadora Kátia
Abreu, ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), acusou a empresa de "formação de monopólio" e disse que o apoio
do BNDES é prejudicial para a concorrência.
Em um discurso no Congresso, ela acusou a JBS de enganar os
consumidores com uma campanha publicitária que os encorajava a optar por
sua marca Friboi por causa de seu selo de inspeção federal, quando mais
de 200 outros matadouros também tinham sido aprovados em inspeções.
Influência política
Pelo menos um dos bilionários não gostou das declarações de Kátia
Abreu. Em novembro, Joesley Batista se reuniu com o ministro da Casa
Civil de Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante, e fez lobby contra Kátia
Abreu como potencial ministra da Agricultura por causa de suas críticas a
respeito da empresa em discursos no Congresso, segundo um funcionário
do governo com conhecimento do assunto, que pediu anonimato porque a
reunião não foi pública.
As preocupações de Batista não afetarão a escolha de Dilma, disse a fonte.
A JBS, que neste ano foi a maior doadora da campanha de reeleição de
Dilma, assim como da campanha do candidato derrotado, Aécio Neves, negou
que esteja usando influência política para fazer lobby contra Kátia
Abreu. A empresa disse que a existência de concorrência é uma prova do
livre mercado.
O BNDES, que possui ações em mais de 130 empresas, detém uma
participação de 25% nessa empresa em ascensão, ao mesmo tempo em que ela
se torna a maior financiadora de campanhas políticas do país.
Embora empresas estatais não tenham permissão para financiar campanhas,
o BNDES diz que não existe proibição quando as firmas estatais são
acionistas minoritárias.
"Existem mais de 1.500 abatedouros operando no país", disse a JBS. "A
empresa não concorda que a participação do banco em seu capital
interfira na concorrência". A Caixa Econômica Federal, outro banco
estatal, também tem uma participação na JBS.
As empresas J&F, lideradas pela JBS, financiaram quase um terço dos
parlamentares da Câmara dos Deputados e distribuíram recordes R$ 387
milhões em ações nas eleições de 2014, segundo o Tribunal Superior
Eleitoral.
O alcance de seu financiamento de campanha, que visa a apoiar o "debate
democrático", reflete seu tamanho como a maior empresa do Brasil, disse
a JBS.
"Todas as doações da empresa seguem rigorosamente as leis eleitorais do Brasil", disse a JBS em uma resposta por e-mail.
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