Ameaças de uma mulher que ele identificou como Mônica Santos haviam sido
narradas pelo próprio Pessoa no depoimento que prestou à Polícia
Federal após sua prisão, em 14 de novembro. Ele disse na ocasião que
havia tido um "breve um relacionamento" com Mônica, 22 anos atrás, e que
ela passou a "lhe importunar" por volta de 2012.
Pessoa disse ter pago cerca de R$ 800 mil a Mônica por meio do doleiro
Alberto Youssef, embora um advogado o tivesse aconselhado a abrir um
boletim de ocorrência policial.
O que Pessoa não contou à PF é que as "importunações" voltaram a ocorrer
depois dos pagamentos e incluíam ameaças de delatar à Polícia Federal
que Youssef era amigo do empreiteiro.
Youssef foi preso em março, na primeira etapa da Operação Lava Jato, e
Mônica associou o noticiário à pessoa enviada pelo empreiteiro para
fazer tratativas com ela. Na carta, a mulher disse estar "apavorada" com
ligações não identificadas.
Zanone Fraissat - 14.nov.2014/Folhapress | ||
Ricardo Pessoa, da UTC, em 14 de novembro, dia em que foi preso pela Polícia Federal |
A carta foi apreendida pela PF no apartamento de Pessoa no bairro Cerqueira César, região central de São Paulo.
Mônica escreveu: "Sinto-me ameaçada e com certeza do jeito que [a PF e
Receita Federal] estão fiscalizando se vierem para cima de mim, entrego
quem conheço e mantém negócios com Alberto Youssef e seus amigos com os
devidos endereços".
Ela contou que esteve com Youssef e concluiu que "é seu amigo pessoal
esse doleiro, como ele me confessou pessoalmente que é seu amigo que
você confia nos negócios, são palavras dele".
Mônica diz ainda que tem "tudo registrado em cópias e cópias, horários,
dias, pois se soubesse que me colocaria exposta a uma quadrilha não iria
aceitar".
A mulher diz no bilhete que Pessoa a "envolveu com um bandido". "E sem
eu saber de nada, muito pelo contrário, você me colocou numa enrascada
sem fim", escreveu.
Mônica orienta o empresário a enviar o valor de R$ 1,55 milhão em
espécie, em caixas a serem entregues a uma empresa de aluguel de
guarda-volumes em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). A mulher disse
precisar do dinheiro para "sair do país e começar outra vida em outro".
"Não estou lhe extorquindo e nem lhe chantageando e não tenho medo de
sua pessoa e de suas ameaças, porque a ameaçada moralmente aqui está
sendo eu", escreveu a mulher. Pelo contexto e as datas citadas na carta,
ela teria sido escrita entre julho e outubro de 2014.
Com a carta, a PF encontrou cópias do passaporte e de uma carteira de identidade em nome de Mônica.
A Folha tenta localizar Mônica Santos desde que o depoimento de
Pessoa veio à tona, na segunda quinzena de novembro. No telefone citado
como seu nos autos da Operação Lava Jato, ninguém atende desde o último
domingo (7). A reportagem também a procurou num telefone registrado em
seu nome em Itabuna (BA), sem sucesso.
Procurada, a assessoria de imprensa da UTC informou que "o assunto já
foi devidamente explicado nos depoimentos prestados à Justiça".
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