segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Em carta, ex-amante ameaçou entregar empreiteiro da Lava Jato


Uma carta apreendida pela Operação Lava Jato revela ameaças de uma ex-amante ao empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia. Ela promete "entregar" pessoas ligadas ao doleiro Alberto Youssef e pede, em troca do silêncio, o pagamento de R$ 1,55 milhão para se mudar do Brasil e começar "outra vida" no exterior. 
 
Ameaças de uma mulher que ele identificou como Mônica Santos haviam sido narradas pelo próprio Pessoa no depoimento que prestou à Polícia Federal após sua prisão, em 14 de novembro. Ele disse na ocasião que havia tido um "breve um relacionamento" com Mônica, 22 anos atrás, e que ela passou a "lhe importunar" por volta de 2012. 

Pessoa disse ter pago cerca de R$ 800 mil a Mônica por meio do doleiro Alberto Youssef, embora um advogado o tivesse aconselhado a abrir um boletim de ocorrência policial.
O que Pessoa não contou à PF é que as "importunações" voltaram a ocorrer depois dos pagamentos e incluíam ameaças de delatar à Polícia Federal que Youssef era amigo do empreiteiro. 

Youssef foi preso em março, na primeira etapa da Operação Lava Jato, e Mônica associou o noticiário à pessoa enviada pelo empreiteiro para fazer tratativas com ela. Na carta, a mulher disse estar "apavorada" com ligações não identificadas. 


Zanone Fraissat - 14.nov.2014/Folhapress
Ricardo Pessoa, da UTC, em 14 de novembro, dia em que foi preso pela Polícia Federal
Ricardo Pessoa, da UTC, em 14 de novembro, dia em que foi preso pela Polícia Federal

A carta foi apreendida pela PF no apartamento de Pessoa no bairro Cerqueira César, região central de São Paulo. 

Mônica escreveu: "Sinto-me ameaçada e com certeza do jeito que [a PF e Receita Federal] estão fiscalizando se vierem para cima de mim, entrego quem conheço e mantém negócios com Alberto Youssef e seus amigos com os devidos endereços". 

Ela contou que esteve com Youssef e concluiu que "é seu amigo pessoal esse doleiro, como ele me confessou pessoalmente que é seu amigo que você confia nos negócios, são palavras dele".
Mônica diz ainda que tem "tudo registrado em cópias e cópias, horários, dias, pois se soubesse que me colocaria exposta a uma quadrilha não iria aceitar". 

A mulher diz no bilhete que Pessoa a "envolveu com um bandido". "E sem eu saber de nada, muito pelo contrário, você me colocou numa enrascada sem fim", escreveu. 

Mônica orienta o empresário a enviar o valor de R$ 1,55 milhão em espécie, em caixas a serem entregues a uma empresa de aluguel de guarda-volumes em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). A mulher disse precisar do dinheiro para "sair do país e começar outra vida em outro". 

"Não estou lhe extorquindo e nem lhe chantageando e não tenho medo de sua pessoa e de suas ameaças, porque a ameaçada moralmente aqui está sendo eu", escreveu a mulher. Pelo contexto e as datas citadas na carta, ela teria sido escrita entre julho e outubro de 2014. 

Com a carta, a PF encontrou cópias do passaporte e de uma carteira de identidade em nome de Mônica. 

A Folha tenta localizar Mônica Santos desde que o depoimento de Pessoa veio à tona, na segunda quinzena de novembro. No telefone citado como seu nos autos da Operação Lava Jato, ninguém atende desde o último domingo (7). A reportagem também a procurou num telefone registrado em seu nome em Itabuna (BA), sem sucesso. 

Procurada, a assessoria de imprensa da UTC informou que "o assunto já foi devidamente explicado nos depoimentos prestados à Justiça". 



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