05 Novembro 2014 | 02h 05
A direção do PT considera que a reeleição da
presidente Dilma Rousseff é a oportunidade para fazer uma profunda
mudança na organização do Estado, na direção daquilo que o partido chama
de "reformas democrático-populares".
Uma resolução
da sua Comissão Executiva Nacional - que reúne a nata do comando petista
- deixa claro que o partido está convencido de que já pode despir-se da
pele de cordeiro que Lula precisou vestir quando se elegeu pela
primeira vez, em 2002. Naquela ocasião, recorde-se, o ex-metalúrgico -
que em 1989 prometia estatizar tudo e tratar com desprezo os credores
internacionais, aos quais chamava de "agiotas" - mudou o discurso e
passou a prometer o "respeito aos contratos e obrigações".
Passado
o susto da apertadíssima eleição, em que Dilma venceu basicamente
porque sua equipe de marketing levou o "vale-tudo" eleitoral a dimensões
inéditas, o PT quer tomar a dianteira e pautar o novo mandato da
presidente - desta vez na direção de seu antigo projeto de 1989. No
radical programa de governo para a campanha eleitoral daquele ano, o
texto assinado por Lula dizia: "Se me pedissem para resumir numa frase o
sentido do nosso programa, eu diria: reorganizar a sociedade
brasileira, conferindo o papel de direção àqueles que vivem no mundo do
trabalho e da cultura".
As semelhanças daquele programa de
Lula com o adotado pelo atual comando do PT na resolução divulgada nesta
semana são claras. Entre as prioridades escolhidas pelo partido para o
novo mandato de Dilma, os petistas dizem que "é urgente construir
hegemonia na sociedade" e "promover reformas estruturais, com destaque
para a reforma política e a democratização da mídia".
A
"hegemonia" perseguida pelo PT é o poder de determinar o que é a
verdade, o que é certo e o que é errado. Para isso, é necessário
"promover reformas estruturais", especialmente a reforma política - que,
no modelo petista, significa submeter o Estado a organizações
"populares" que respondem ao partido -, e "democratizar a mídia", que é o
outro nome para a censura e a tentativa de propagar o pensamento único.
Assim,
para o atual comando petista, nostálgico dos anos de sua fundação, a
tarefa de "transformar o Brasil" demanda agora uma combinação de ação
institucional, de mobilização social e de "revolução cultural". Para
isso, o partido quer ampliar a importância de áreas como comunicação,
educação, cultura e esporte, "pois as grandes mudanças políticas,
econômicas e sociais precisam criar raízes no tecido mais profundo da
sociedade brasileira". Eis aí a fórmula da hegemonia proposta pelo PT.
Com
esses objetivos em mente, a liderança petista pretende, segundo suas
palavras, "incidir na disputa principal em curso neste início do segundo
mandato", isto é, "as definições sobre os rumos da política econômica".
A pressão pública sobre Dilma - que, recorde-se, só se tornou petista
em 2001 e enfrenta desconfiança dentro do partido desde sempre - é uma
tentativa de forçá-la a abandonar os compromissos políticos do primeiro
mandato, oferecendo-lhe em troca o apoio de sua militância nas ruas.
Nesse
sentido, o aceno à oposição feito por Dilma logo após sua vitória foi
desdenhado explicitamente na resolução petista. Os mais de 50 milhões de
eleitores que votaram em Aécio Neves (PSDB) foram tratados como
simpatizantes do "retrocesso neoliberal" e das "piores práticas
políticas", a saber: "O machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a
intolerância, a nostalgia da ditadura militar".
Aqueles que
ousam se opor ao governo são, segundo os petistas, "apoiados pela
direita, pelo oligopólio da mídia, pelo grande capital e seus aliados
internacionais" e, portanto, não fazem parte do "povo brasileiro". Este,
por sua vez, é somente aquele que vota no PT. Por essa razão, o partido
diz que "precisa honrar a confiança que, mais uma vez, o povo
brasileiro depositou em nós" e anuncia: "Não o decepcionaremos: com a
estrela vermelha no peito e um coração valente, avançaremos em direção a
um Brasil democrático-popular".
Este é o verdadeiro rosto do PT, que nem mesmo a imensa dificuldade para a reeleição de Dilma conseguiu alterar.
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POLÍTICA E ECONOMIA