- O
professor Erivaldo Souza, 49, de São José de Tapera (AL), afirma que os
votos de Dilma na cidade são fruto da "transformação para melhor" por
que a cidade passou
Em setembro de 2001, São José da Tapera (a 220 km de Maceió), no sertão de Alagoas, foi escolhida pelo governo Fernando Henrique Cardoso como piloto para lançamento do Bolsa Alimentação, que beneficiava mulheres grávidas com repasses mensais, à época, de R$ 15 a R$ 45.
O município alagoano tinha o pior IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) do país. Foi lá que, na versão tucana, surgiu o DNA do Bolsa
Família, a ser criado apenas em 2003 no governo de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) --unificando Bolsa Alimentação, Vale Gás e Bolsa Escola.
Longe da discussão entre tucanos e petistas sobre de quem é a paternidade do Bolsa Família,
os eleitores de uma das cidades-modelo não escondem o medo de perder o
benefício. No primeiro turno, 76% dos votos válidos foram Dilma Rousseff
(PT).
O UOL visitou o município na
quarta-feira (15) e encontrou um cenário similar ao de tantas outras
cidades do interior do Nordeste, onde a dependência do Bolsa Família
supera os 50% da população.
No local, circula fácil a informação de que o benefício poderá terminar
num eventual governo tucano --o que já foi negado diversas vezes por
Aécio.
Sem indústrias, a economia de Tapera cresceu nos últimos
anos impulsionada pelo programa social do governo. Os índices de
qualidade de vida também melhoraram. O percentual de pessoas
extremamente pobres caiu de 67,8%, em 2000, para 39,7%, em 2010.
Entre os moradores, o medo paira. "É verdade que eles vão cortar o Bolsa Família?", perguntou à reportagem do UOL Cícera
dos Santos, 64. Apesar de não receber o benefício por ser aposentada,
ela tem uma filha beneficiária. "As pessoas ficam dizendo isso, mas não
acho que vão acabar. Mas talvez diminuam", disse.
Na dúvida, os moradores mais pobres não escondem que preferem a
continuidade. A dona de casa Ivanilda Basílio, 48, recebe R$ 600 do
governo para sustentar os oito filhos e diz que teme a vitória de Aécio.
"Falam tantas barbaridades dele, tenho medo. Sem esse dinheiro, não
teria como sobreviver, voltaria à miséria, como era antigamente. Deus
nos livre, quero nem pensar."
Claudenilda dos Santos, 38, foi
uma beneficiárias do governo desde a gestão FHC. Hoje eleitora de Dilma,
ela só reclama do valor do benefício: R$ 112. "É muito pouco. Estou
desempregada e tenho dois filhos para criar, poderia ser mais. Tem gente
que ganha mais do que eu, acho injusto", contou a desempregada, que tem
dois filhos.
Beneficiária 1 vota no PT
Garota-propaganda na campanha presidencial de José Serra (PSDB) em 2010,
a beneficiária número 1 do Bolsa Alimentação, a desempregada Ermanda
Maria de Sena, 48, conta que neste ano "desistiu" de votar no PSDB.
Eleitora de José Serra e Geraldo Alckmin nas últimas três eleições
presidenciais, ela afirma que agora vota em Dilma. "Só vejo o povo dizer
que é para votar em Dilma, falam tantas coisas desse Aécio. Não quero
votar nele, acho que Dilma está bem", contou.
Em 2010, ela participou do programa eleitoral de Serra, mas relatou ao UOL que ficou frustrada porque pediram para ela mentir e a abandonaram após a gravação.
"A ex-prefeita de São José da Tapera pediu que dissesse que a casa da
minha irmã, onde seria a gravação, era minha. Eu não quis e falei a ela:
'Não é verdade'", relatou, citando que "nem o dinheiro a passagem de
volta me deram". "Tive de pedir emprestado para voltar", contou a
beneficiária, que hoje mora em Teotônio Vilela (120 km de Maceió) e
recebe R$ 372 do Bolsa Família.
Em meio a depoimentos de medo da volta do PSDB, o UOL
encontrou apenas uma beneficiária do Bolsa Família que declarou voto a
Aécio. "Não tenho medo de ele acabar com o Bolsa Família, porque recebo
tão pouco. Acho que está bom já do PT. Votei em Lula e na Dilma, mas
mudar o poder é bom. Governo reeleito demais não presta", comentou ela,
enquanto escolhia o feijão verde na porta de casa.
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POLÍTICA E ECONOMIA