domingo, 13 de dezembro de 2015

Policial mais famoso da Lava Jato vira hit musical e alvo de selfies



petrolão



Desde que virou tema de uma marchinha de Carnaval, o agente da Polícia Federal Newton Ishii, 60, ou "japonês bonzinho", como passou a ser chamado nas ruas, é tratado como celebridade.


No sábado (5), precisou de ajuda de seguranças para ir embora de um evento de uma rádio de Curitiba. E durante o tempo que ficou no local foi requisitado para tirar mais de uma centena de selfies.

Também passou a ganhar ingresso para shows, foi procurado para ser homenageado pela cidade onde nasceu e teve convite para participar de um programa de TV.

Amigos e colegas começaram a ligar para perguntar quando ele trocará a polícia pela política. Sindicatos sondaram o interesse dele pelos palanques e, até mesmo, a possibilidade de Ishii se lançar candidato em 2016.



 A pessoas próximas, Newton Ishii diz que, por enquanto, não pensa na possibilidade e evita mostrar tendências a qualquer partido.

Mas mesmo antes do verso "Ai meu Deus, me dei mal, bateu a minha porta o japonês da federal" ser ouvido por mais de 2,5 milhões de pessoas, há pouco mais de uma semana, Ishii já vinha aprendendo a lidar com a fama.

No início do ano, ele era parado para fazer selfies. No mês passado, o apresentador Sérgio Mallandro publicou no Facebook uma montagem com fotos do agente escoltando presos como o ex-ministro José Dirceu e o empreiteiro Marcelo Odebrecht seguida da frase: "se esse japonês tocar a campainha da sua casa às 6:00 da manhã, não abra porque você tá fudido. Rá!!".

Apesar de ter ficado conhecido como o executor das prisões, por aparecer escoltando alguns dos principais personagens da Lava Jato levados à cadeia, a última vez que Ishii levou alguém para a carceragem de Curitiba foi em janeiro. O alvo foi o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró que chegava de Londres no aeroporto do Galeão, no Rio.

A avaliação de que o agente estava visado e sua aparição poderia comprometer as operações fez com que ele saísse da linha de frente do cumprimento dos mandatos. Mas Ishii continuou liderando tarefas relevantes.

ENTRA E SAI

Chefe do Núcleo de Operações da Superintendência da PF do Paraná, ele responde pela logística e escolta de presos para locais como o IML, o Complexo Médico Penal –onde estão a maioria dos detentos da operação–, as CPIs, para onde os investigados são levados a depor, e as audiências com a equipe à frente da Lava Jato. Por isso, ainda aparece com frequência na mídia.

Também é ele quem controla o entra e sai de itens na carceragem, horários de banho de sol e tornozeleiras eletrônicas. Se uma perde o sinal, é o telefone de Ishii que toca para resolver a questão.

A importância do agente na rotina dos detentos fez com que parte dos advogados procurados pela Folha só se pronunciasse sob a condição de anonimato.

Entre muitos criminalistas, ele é visto como "fofoqueiro". Reclamam que faz comentários sobre o comportamento dos presos. Outros, como Rodrigo Rios, que atua na defesa de executivos da Engevix, Roberto Podval, que advoga para Dirceu, e Figueiredo Basto, defensor do doleiro Alberto Youssef, descrevem o agente como um policial "cordial" e "muito profissional" em sua função.

O PIB ESTÁ AQUI

Newton Ishii não quis dar declarações à reportagem. A advogados, ele contou que, em quase 40 anos como policial, nunca viveu nada como a Operação Lava Jato.

Destacou que o mais surpreendente foi a sétima fase, que levou para a PF 25 presos, entre eles presidentes de empreiteiras como OAS e Camargo Corrêa. Ishii repetia que "o PIB brasileiro estava lá". Naquele momento, ele tinha voltado à ativa havia apenas oito meses, depois de 11 anos afastado da polícia.

Em 2003, quando estava lotado em Foz do Iguaçu (PR), foi acusado de facilitação de contrabando, chegando a ser preso em uma operação denominada Sucuri.

O agente respondeu a um processo disciplinar, que acabou sendo arquivado. Na ação penal, foi condenado a pagar cestas básicas.

Após o episódio, aposentou-se. Mas graças a uma determinação do TCU, que fez com que vários policiais voltassem a trabalhar para cumprir um período a mais de serviço –dois anos no caso de Ishii– ele retornou à corporação em março de 2014.

Agentes dizem que Ishii hoje goza de confiança da direção da PF. A convocação para voltar veio do Superintendente do Paraná Rosalvo Franco. Ele e Ishii trabalharam juntos na outra passagem do policial por Curitiba.

Recentemente, porém, o agente envolveu-se em mais uma polêmica: ele está entre os investigados pelo vazamento da minuta de delação de Cerveró.

Na gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, que culminou na prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, Ishii é citado como um dos possíveis vazadores.

Após as suspeitas contra ele, Bernardo fez chegar à PF um e-mail dizendo que estava atuando ao mencioná-lo.

Em sua defesa, Ishii tem dito que seu nome foi usado justamente por ter se tornado conhecido.

Colaborou ALEXANDRE ARAGÃO, de SP  



 

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