sábado, 18 de julho de 2015

Julio Camargo, delator na Lava Jato, resistiu a entregar políticos

Petrolão



Agência Petrobras

Plataforma P-59, que fica em São Roque do Paraguaçu
Plataforma P-59, que fica em São Roque do Paraguaçu
 O lobista Julio Camargo, que acusa o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-ministro José Dirceu de receber dinheiro sujo desviado da Petrobras, só decidiu incriminá-los depois que os procuradores da Operação Lava Jato o convenceram de que teria problemas na Justiça se não contasse tudo que sabe.

Camargo, que trabalhou para fornecedores da Petrobras e diz ter pago R$ 137 milhões em propina para o PMDB, o PT e funcionários da estatal, colabora com as investigações da Lava Jato desde outubro do ano passado, quando assinou um acordo de delação premiada e confessou vários dos seus crimes.

Mas ele resistiu por meses a incriminar os políticos com quem se relacionou, como Cunha e Dirceu. Sua guinada começou a ser produzida na última semana de junho, quando foi chamado pelos procuradores da Lava Jato para uma reunião em Curitiba.

Os investigadores mostraram a Camargo que tinham evidências de que ele vinha escondendo informações comprometedoras sobre políticos, e lembraram ao lobista que isso poderia levar ao rompimento do acordo de delação, que garante redução de pena e outros benefícios.
Outro lobista, Milton Pascowitch, que aproximou a empreiteira Engevix do PT e da Petrobras e decidiu colaborar com as autoridades neste ano, disse que pagou R$ 4 milhões em propina a Dirceu, e afirmou que parte do dinheiro passou antes por empresas de Julio Camargo.

 TV FOLHA


De acordo com o relato de um dos participantes, a reunião foi tensa, mas o lobista cedeu e afirmou também ter pago propina ao ex-ministro.

Camargo também disse aos procuradores que emprestou um avião particular a Dirceu depois que ele deixou o governo Lula, em meio ao escândalo do mensalão. Em depoimentos anteriores, ele negara ter prestado esse favor.

Dirceu, que foi condenado no julgamento do mensalão e hoje cumpre pena de prisão domiciliar em Brasília, nega ter recebido propina para facilitar negócios na Petrobras e diz que pagou pelo avião.

Mesmo depois de incriminar Dirceu, o lobista deixou os procuradores temendo pelo futuro, sem ter a segurança de que o acordo de delação premiada seria mantido. Isso influenciou seu movimento seguinte, em julho.

No início do mês, Camargo voou em seu jatinho até Brasília com a advogada Beatriz Catta Preta para se reunir com investigadores da Procuradoria-Geral da República, que conduz investigações sobre Cunha e outros políticos acusados de envolvimento com a corrupção na Petrobras.

Eduardo Cunha foi o tema principal do encontro. No ano passado, o doleiro Alberto Youssef, um dos principais operadores do esquema de corrupção, disse que Camargo foi chantageado por Cunha e pagou propina ao deputado para preservar um contrato da coreana Samsung em 2011.

Em pelo menos quatro ocasiões anteriores, Camargo negou ter recebido pressões de Cunha, que teria mandado uma aliada apresentar requerimentos na Câmara para exigir informações da japonesa Mitsui, parceira da Samsung.

Questionado novamente pelos procuradores de Brasília, e preocupado depois do que ouvira em Curitiba, Camargo aceitou prestar novo depoimento, em que confirmou a história de Youssef e detalhou seus encontros com Cunha e outros operadores.

Sua nova versão tornou-se pública na quinta-feira (16), quando ele a repetiu numa audiência para o juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato no Paraná. Cunha, que preside a Câmara dos Deputados, acusou Camargo de mentir após ser coagido pelos procuradores.

Encerrada a audiência, Camargo trocou de advogado. No lugar de Beatriz Catta Preta, que o assessorava desde o ano passado, entrou Antonio Figueiredo Basto, o mesmo advogado do doleiro Youssef.

INIMIGOS

Apesar dos benefícios jurídicos, o acordo de delação premiada trouxe consequências para Camargo. Ele ficou sem dinheiro e cheio de inimigos, segundo um fornecedor da Petrobras que o conhece. O lobista teve que devolver R$ 40 milhões aos cofres públicos depois de fechar o acordo.

Em outubro, logo depois de virar delator, ele mandou recados a políticos para justificar a decisão de colaborar. A um de seus interlocutores no meio político o lobista disse que ficou sem saída depois que os investigadores rastrearam pagamentos de propina feitos pelas suas empresas.

Integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Carlos Fernando Lima afirmou que o acordo de colaboração de Camargo será revisto e disse que ele terá de prestar novo depoimento sobre fatos que negou anteriormente. A manutenção dos benefícios do acordo dependerá das justificativas que ele oferecer para as omissões. 

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