sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dilma recua de 63% para 47% no Nordeste na comparação com 2010

Queda entre nordestinos põe em risco chance de compensar pouco apoio no SudesteAntes reduto do lulo-petismo, região agora tem focos de resistência ao PT
Pernambuco e Bahia serão locais inóspitos para o PT no 2º turno
Neste post, a lista completa com as 27 disputas para governador
As pesquisas sobre intenção de voto para presidente e para governadores mostram que Dilma Rousseff enfrenta uma resistência incomum no Nordeste, região que há mais de uma década havia se tornado um reduto eleitoral muito consolidado do PT.
Quando se compara o desempenho de Dilma na região Nordeste na pesquisa Datafolha de 8-9.set.2014 com outra realizada exatamente há 4 anos, em 8-9.set.2010, nota-se que a petista perdeu 16 pontos percentuais nas suas intenções de voto: desceu de 63% para 47%.
Vencer por larga margem no Nordeste e no Norte permitiu a Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e a Dilma Rousseff, em 2010, terem desempenhos mais modestos em alguns Estados do Sul e do Sudeste.
Por exemplo, Lula perdeu em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e outros 3 Estados em 2006, mas sua ampla votação no Nordeste (77% no 2º turno) garantiu ao petista mais quatro anos no Planalto.
A mesma fórmula foi usada para Dilma. Em 2010, ela perdeu em 11 unidades da Federação, principalmente no Sul e no Centro-Oeste, mas recebeu estrondosos 70,5% dos votos no Nordeste e foi eleita presidente.
Agora, a equação eleitoral petista apresenta alguns defeitos. Eis o quadro das intenções de voto presidencial por região, em 2010 e 2014 (clique na imagem para ampliar):
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Como se observa, Dilma está hoje pior em quase todas as regiões. A exceção é, talvez, o Norte. Não é possível ter essa informação com precisão, pois o Datafolha divulgava os percentuais do Norte e do Centro-Oeste num mesmo grupo pesquisado nos levantamentos de 4 anos atrás.
Outro dado alarmante para Dilma Rousseff é o fato de que deve haver 2º turno na disputa presidencial com um ambiente pouco amigável para o PT nos dois Estados mais relevantes do Nordeste –Bahia e Pernambuco, responsáveis por 43% do eleitorado da região.
Na Bahia, Estado governado há 8 anos pelo petista Jaques Wagner, o cenário é de possível derrota para o candidato governista, Rui Costa (PT). Ele tem 24% das intenções de voto contra 46% de Paulo Souto (DEM). Há sinais de vitória do demista no 1º turno.
Se a disputa de governador na Bahia for liquidada no 1º turno, esse desfecho liberará todas as forças anti-PT para descarregarem suas energias contra a reeleição de Dilma Rousseff no 2º turno. Esse movimento visará a neutralizar um pouco da alta popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado.
O mesmo cenário se repete em Pernambuco. O candidato Paulo Câmara (PSB) está em alta, com 39%, contra o nome apoiado pelo PT na disputa pelo governo local, Armando Monteiro (PTB), com 33%. Com ou sem 2º turno entre os pernambucanos, Dilma tende a enfrentar grande resistência. Esse é o Estado natal de Eduardo Campos (1965-2014), cujo grupo político fará tudo o que estiver ao seu alcance para impor uma derrota ao PT.
Só para lembrar, em 2010, Dilma Rousseff foi a mais votada no 1º e no 2º turnos na Bahia e em Pernambuco. Hoje, a situação é incerta, para dizer o mínimo.
Em Pernambuco, Dilma tem hoje 38% das intenções de voto. Marina lidera entre os pernambucanos, com 45%. Na Bahia, Dilma está à frente com 50%. Mas há 4 anos, nesta mesma época da campanha presidencial, a petista tinha 67% em ambos os Estados.
As pesquisas atuais mostram que o voto petista entre nordestinos é hoje menor do que foi em 2010 todos os 9 Estados da região. Eis um quadro com as intenções voto para presidente nessas localidades (clique na imagem para ampliar):
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O quadro acima ajuda a iluminar o que pode ser o cenário do 2º turno na disputa presidencial na região Nordeste. Muitos governadores eleitos ou candidatos favoritos na segunda rodada de votação tendem a fazer campanha contra Dilma Rousseff.
Esse é um ambiente novo para o PT. Em 2006 e 2010, a sigla sob o comando de Lula havia se acostumado a ter a adesão automática de quase todas as forças políticas mais relevantes no 2º turno da eleição presidencial no Nordeste.
Mas esse não é apenas um cenário nordestino. Fica mais fácil entender o que se passa quando se observam todas as disputas de governadores nas 27 unidades da Federação. O desejo de mudança segue forte, como mostra um levantamento atualizado do Blog: só 3 dos 18 governadores que buscam reeleição seriam vitoriosos hoje em 1º turno.
O desejo de mudança nos Estados atinge também o PSB, partido da presidenciável Marina Silva. Os pessebistas têm 4 governadores candidatos à reeleição, mas nenhum é líder isolado. No Espírito Santo e na Paraíba, hoje comandados pela sigla, os candidato da oposição hoje venceriam no 1º turno, segundo as pesquisas disponíveis.
Apenas em 12 Estados a eleição deve terminar em turno único, no dia 5 de outubro. Ou seja, será uma das mais duras disputas em décadas.
Eis como está a disputa nas 27 unidades da Federação, segundo as últimas pesquisas disponíveis:
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Observado o cenário geral, nota-se que o desfecho da corrida presidencial segue incerto. Com os dados disponíveis no momento, há argumentos respeitáveis que podem indicar tanto uma possível vitória da oposicionista Marina Silva como o sucesso da governista Dilma Rousseff.
A favor da petista há o fato de que sua trajetória, no agregado nacional das pesquisas, indica uma ligeira tendência de recuperação (na margem de erro do levantamento). Dilma no momento voltou a ficar empatada tecnicamente com sua principal adversária na disputa, Marina, conforme mostra o levantamento do Datafolha dos dias 8-9.set.2014.
Essa modesta melhora no quadro para Dilma parece ter sido resultado do intenso bombardeio que ela e Aécio Neves (PSDB) desfecharam contra Marina. Foram duas semanas de tentativa de desconstrução do marinisno, o que resultou num aumento da rejeição da candidata do PSB.
A expectativa do PT é que esse processo chamado de “desconstruindo Marina” ainda esteja em andamento nas mentes dos eleitores. No limite, poderá resultar numa candidata pessebista desidratada no início do 2º turno, sem forças para reagir.
Ainda dentro do argumento favorável a Dilma, a petista tem a máquina do governo a seu favor. Só em Brasília, são mais de 20 mil cargos ocupados por pessoas aflitas com a possibilidade de derrota –e da consequência imediata: terem de pedir emprego em prefeituras ou sindicatos ligados à CUT pelo país afora. Vão trabalhar como nunca para ficarem onde estão, reelegendo Dilma.
No 2º turno, o PT também terá o esforço extra de Lula para recuperar o terreno perdido no Nordeste, onde o ex-presidente é muito cultuado e popular. E, por fim, a equipe de marketing contratada pelo PT tem larga experiência em disputas apertadas –João Santana, o marqueteiro, ajudou o partido nas campanhas eleitorais logo depois do escândalo do mensalão.
No extremo oposto desse argumento sobre as chances de Dilma há um raciocínio também consistente a respeito da possibilidade de vitória de Marina.
Para começar, uma pergunta: se tudo o que PT e PSDB fizeram em quase duas semanas resultou na perda de apenas 2 ou 3 pontos percentuais de intenção de voto de Marina Silva, isso significa que a candidata do PSB está sólida no patamar dos 30%, certo? Ou mais: não adianta bater como estão batendo, pois não vai colar esse tipo de crítica em Marina.
Uma das razões para essa espécie de “efeito teflon” que reveste Marina é o vento de mudanças que atinge o país, com os eleitores falando em mudar a política. A candidata do PSB é a que mais incorpora esse sentimento difuso.
Ondas na política têm pouco apelo racional. É quase tudo emoção –e os comerciais petistas contra o PSB tenderiam a ser desprezados, em grande medida, até o final do processo eleitoral.
E quando chegar o 2º turno, como demonstram as pesquisas, há uma tendência natural de muitos eleitores do PSDB –a maioria– migrarem para Marina Silva. Nessa fase da campanha os tempos de rádio e de TV são iguais para as duas candidaturas finalistas. Acaba a preponderância que se vê hoje, com o PT ocupando um latifúndio no horário eleitoral.
Tudo considerado, não há como fazer uma previsão científica sobre qual será o desfecho da eleição presidencial. O que é possível é expor o que mostram as pesquisas e seus diversos cruzamentos –como tentou detalhar este post.
Este Blog mantém a mais completa página de pesquisas eleitorais da internet brasileira, com levantamentos de todos os institutos desde o ano 2000. É possível consultar os cenários do 1º turno de 2014 para as disputas de presidente, governador e senador e do 2° turno de 2014 para presidente e governador.
Fontes e observações sobre a tabela das 27 disputas de governadores
Colocação dos candidatos: esta tabela reflete a posição de cada candidato do ponto de vista numérico em que aparecem nas pesquisas. Em alguns casos, esse posicionamento não significa que quem está numericamente em primeiro lugar ocupa de forma isolada essa posição, pois deve ser considerada a margem de erro da pesquisa;
Candidatos ocultos: para uma visualização mais clara, nem todos os candidatos nas disputas estaduais estão colocados nesta tabela, que é apenas uma compilação analítica. Todos os candidatos e suas respectivas pontuações podem ser vistos nas tabelas completas na página de pesquisas deste Blog;
Pesquisas: são usadas aqui as últimas pesquisas disponíveis, desde que estejam devidamente registradas na Justiça Eleitoral;
Metodologia compilada: essa coluna contém, pela ordem, o nome do instituto que fez a pesquisa, a data em que foi aplicado o formulário e a margem de erro do levantamento em pontos percentuais;
Eleitorado: fornecido pelo TSE (abril de 2014).

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