terça-feira, 23 de setembro de 2014

Youssef decide fazer delação premiada, diz advogado


O doleiro Alberto Youssef decidiu fazer a delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A informação é de Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado do doleiro no Superior Tribunal de Justiça. "É uma pena, temos uma tese jurídica que era importante no STJ", diz o criminalista. 

Ele diz ter sido avisado que o doleiro tomou a decisão por pressão familiar e porque vários outros decidiram fazer a delação. O advogado deixará o caso. 

"A família convenceu o Youssef a fazer a delação. Por mais que eu tenha afirmado que nossa no STJ é forte", disse Kakay à Folha.

O advogado acreditava na hipótese de anular todo o processo da lava jato, mas, segundo ele, a família do doleiro ''cansou''. "Ele pediu para me avisar que não pode segurar a família, pediu desculpas e disse saber que eu ia sair, como combinado [se aceitasse fazer a delação]". 

Apontado pela PF como chefe do esquema bilionário investigado na Operação Lava Jato, Alberto Youssef seria responsável por lavar dinheiro e repassar os recursos desviados a políticos. O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, é envolvido no mesmo esquema e já fechou um acordo de delação. Listou às autoridades ao menos 25 deputados federais, 6 senadores, 3 governadores, um ministro de Estado. 

O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foram citados por Costa. 

Outro advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, disse à Folha que a decisão de fazer a delação não havia sido informada a ele pela família. As duas filhas e a mulher do doleiro acreditam que não há defesa processual possível no caso e pressionavam o advogado para fazer a colaboração.

Figueiredo Basto, que cuidou de uma delação do doleiro em 2004, diz que deixará o caso com a decisão de Youssef. "Descuto até as cláusulas do acordo, mas não posso ficar na defesa porque sou contra o uso desse instituto desta vez. A delação vai contra a minha tese de que seria possível fazer uma defesa processual do caso".


Na última semana, Basto e Kakay ingressaram com um pedido de habeas corpus no STJ, (Superior Tribunal de Justiça) no qual pedem a anulação de todas as provas da Operação Lava Jato, por considera-las ilícitas, e o afastamento do juiz do caso.

Segundo eles, o juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, havia se declarado suspeito em 2010 para julgar uma questão relacionada a Youssef e a delação que fez em 2004. Com essa declaração, ainda de acordo com os advogados, o juiz não poderia ter atuado na Lava Jato porque Youssef é o ponto central da operação.

A Folha revelou em agosto que Youssef enviara os primeiros sinais de que faria delação. Ele é réu em 12 processos e pode ser condenado a mais de cem anos de prisão.
 


PENA DE PRISÃO
Mesmo com o acordo da delação premiada, é provável que o doleiro tenha que, além de entregar todos os seus bens ilícitos, cumprir quatro anos de prisão em regime fechado e outros quatro em regime aberto. 

A exigência do cumprimento de uma pena mínima é da força-tarefa do Ministério Público Federal que atua na Operação Lava Jato. Sem o acordo, Youssef, 46, poderia ficar mais de 20 anos no regime fechado. 

O rigor adicional que os procuradores têm com Youssef deve-se ao fato do doleiro já ter descumprido um acordo de delação que assinou em 2004, quando foi investigado por remessas ilegais que fez usando o Banestado, banco do governo do Paraná. 

Youssef se comprometeu a deixar o mercado paralelo de dólares, mas, em vez disso, aumentou ainda mais o volume de seus negócios. 

Como desrespeitou a promessa, o processo do Banestado foi reaberto em maio deste ano pelo juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, e Youssef foi condenado a quatro anos de prisão. A ação penal havia sido instaurada em 2003 e os crimes de Youssef, perdoados em 2004. 
 
 
OPERAÇÃO LAVA JATO
O caso do Banestado antecede os crimes abrangidos pelas investigações da Operação Lava Jato. Youssef é acusado em cinco processos decorrentes da atual operação da PF –entre eles um envolvendo desvios em contratos daPetrobras. 

O doleiro está preso desde março, suspeito de ter remetido para fora do país, de forma fraudulenta, US$ 444,7 milhões entre julho de 2011 e março de 2013. Segundo a Justiça, ele cometeu esse crime 3.649 vezes. 

Na última terça-feira (16), Youssef negou envolvimento com transações financeiras vinculadas ao tráfico internacional de drogas. Ele é suspeito de ter realizado operação de câmbio de US$ 36 mil para importação de cocaína da Bolívia.


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