A rebelião da senadora Marta Suplicy (PT-SP) contra membros seu partido
acontece porque ela atribui uma importância a ela própria muito maior
do que de fato sua figura representa para o PT. Essa é avaliação de
cientistas políticos ouvidos pelo UOL.
Os atritos entre Marta e o PT já ocorrem há vários anos, mas declarações recentes da senadora contra a presidente Dilma Rousseff e membros do governo ampliaram o desconforto dentro da sigla. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Marta disse que "ou o PT muda ou acaba" e fez duras críticas ao governo Dilma, ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e ao presidente do partido, Rui Falcão.
Os atritos entre Marta e o PT já ocorrem há vários anos, mas declarações recentes da senadora contra a presidente Dilma Rousseff e membros do governo ampliaram o desconforto dentro da sigla. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Marta disse que "ou o PT muda ou acaba" e fez duras críticas ao governo Dilma, ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e ao presidente do partido, Rui Falcão.
A petista classificou Mercadante de "inimigo" de Lula e afirmou que Rui Falcão traiu o projeto do partido. Também apresentou à CGU (Controladoria-Geral da União) documentos sobre supostas irregularidades
cometidas pela pasta da Cultura na gestão de Juca Ferreira. Juca
comandou o ministério antes de Marta. A petista afirmou ainda que é
alijada dentro de seu partido e sinalizou que pretende deixar a sigla.
"A Marta tem uma avaliação superotimista a respeito de si mesma. Ela se
atribui uma importância que não tem", afirmou o cientista político
Carlos Melo, professor do Insper, ao explicar a tensão entre a senadora e
o PT. "A popularidade precisa ser relativizada. Ela é muito mais
resultado das circunstâncias do que da competência. A Marta por muito
tempo foi mais a mulher do Suplicy do que a Marta."
O cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio
Vargas, também afirma que a tensão entre Marta e PT tem origem na forma
como a petista tenta se impor no partido. "[Marta] é um nome importante
dentro do PT. Foi lançada candidata várias vezes, mas ela não é dona do
PT", defendeu Couto. "Nem o Lula, com a importância toda que ele tem no
partido, tem essa postura. Ele tem uma postura mais conciliadora."
Após perder reeleição em SP, relação com PT se desgasta
O desgaste da relação entre Marta e o PT começou por volta de 2004,
quando ela perde a reeleição para a Prefeitura de São Paulo. Relembre os
principais pontos da trajetória da petista:
1998: Em 1998, não havia nenhum nome forte do PT que
queria concorrer ao governo de São Paulo. Apenas Marta se propôs a
disputar o governo paulista pelo partido. O então governador Mário Covas
(PSDB) era candidato à reeleição e venceu a disputa, mas estava muito
desgastado e este desgaste favoreceu a campanha da petista, embora ela
tenha sido derrotada. A votação de Marta a capitalizou dois anos depois,
quando ela foi lançada pelo PT como candidata à Prefeitura de São
Paulo.
2000: Em 2000, Marta disputa a Prefeitura de São Paulo
e vence. "Em 2000, a política paulistana vivia uma hecatombe, [Paulo]
Maluf e Celso Pitta envolvidos com suspeitas de corrupção e na época o
nome de [Geraldo] Alckmin (PSDB) não era muito conhecido. Qualquer nome
do PT ganharia aquela eleição. O malufismo estava em frangalhos naquela
época", explica Melo. Segundo Melo, José Eduardo Cardozo -- hoje
ministro da Justiça de Dilma -- era uma opção, mas foi vetado por Lula.
Por esse motivo e pela votação de dois anos antes, Marta foi escolhida.
"A sorte e as circunstâncias sempre contaram muito para ela, ela nunca
foi muito cotada dentro do PT, foi prefeita pelas circunstâncias", diz
Melo.
2004: A tensão entre o PT e Marta cresceu quando ela
perdeu a disputa pela reeleição em 2004. A partir deste fracasso, a
petista passou a ser preterida nas disputas por cargos executivos. "Ela
conseguiu perder uma reeleição de um governo bem aliado, ela perdeu para
o Serra em 2004 e culpou a condução da política econômica do PT e de
Lula, falou mal do [Henrique] Meirelles. Veja que hoje ela critica a
política econômica de Dilma", contou Melo.
2006: Naquele ano, Marta perdeu a disputa interna pela
candidatura ao governo paulista para Mercadante. Quatro anos depois,
Mercadante foi novamente escolhido para o ser lançado ao mesmo cargo e
restou a Marta concorrer ao Senado.
2010: Marta vence a disputa ao Senado em 2010 com a
ajuda do cenário político. "Era eleição para dois senadores e não apenas
um. Ela tinha a seu favor a popularidade do presidente Lula e morreu o
[Romeu] Tuma (PTB), morreu o Orestes Quércia (PMDB), que eram nomes
fortes em São Paulo", afirma Melo.
2012: Lula lança o ex-ministro Fernando Haddad (PT) à
Prefeitura de São Paulo. Para ajudar na campanha eleitoral de Haddad,
Marta exigiu a nomeação de um ministério e assumiu a pasta da Cultura.
2014: Em 2014, ela também não foi a escolhida para a
disputa pelo governo paulista. O indicado de Lula foi o ex-ministro
Alexandre Padilha. A petista saiu do Ministério da Cultura em novembro
do ano passado com uma ríspida carta endereçada a Dilma com fortes
críticas à condução econômica do primeiro mandato da presidente.
"Marta sempre buscou o espaço do PT, mas para o PT ela não tem esse
desempenho tão extraordinário assim. Foi um setor do PT que articulou a
volta de Juca para Cultura e vibrou muito mais com sua indicação do que
vibraria caso ela fosse mantida [no ministério]".
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POLÍTICA E ECONOMIA