O
novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, atribuiu ao trabalho de
Fernando Henrique Cardoso, como auxiliar do presidente Itamar Franco e,
depois, como sucessor dele no Planalto, o sucesso da administração Lula
na distribuição de renda e no enfrentamento da crise financeira
internacional de 2008. Em seu discurso de posse, Levy comparou o ajuste a
ser feito neste início do segundo quadriênio de Dilma Rousseff ao
esforço realizado na fase que antecedeu o lançamento do Plano Real,
ainda sob Itamar.
Sem mencionar nomes, Levy disse o seguinte: “O
reequilíbrio fiscal de 2015 e o cumprimento das metas em 2016 e 2017,
como previsto na LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] recém-aprovada,
serão o fundamento de um novo ciclo de crescimento, assim como o ajuste
nos gastos que antecedeu o Plano Real [gestão Itamar] foi talvez o menos
falado, mas não menos importante fator do sucesso da estabilização
monetária [governo FHC], que perdura até hoje, sob a eficaz vigilância
do Banco Central do Brasil.”
Levy prosseguiu: “Assim também como a
responsabilidade fiscal exercidata na primeira metade da década dos
anos 2000 [gestões FHC e Lula] foi condição indispensável para o Brasil
ter sucesso na política de inclusão social de milhões de brasileiros
[administração Lula] e, pela primeira vez em sua história, poder
conduzir uma política anticíclica eficaz, como fez em seguida à crise
global de 2008 [governo Lula], em sintonia com o G20.”
Levy não
disse senão um amontoado de obviedades. Mas o óbvio nunca foi tão
necessário como na Brasília dos dias que correm. Hoje, com a vista
embaçada por um tipo de vapor que só o embate político é capaz de
produzir, os principais atores da Capital tropeçam no óbvio e, sem pedir
desculpas, passam adiante. Não conseguem perceber que o óbvio é o
óbvio. Assim, Levy fez muito bem ao proclamar o óbvio em seu discurso
inaugural. Foi como se dissesse: “Eis o óbvio: o que nos trouxe até aqui
foi um processo que atravessou vários governos. Para avançar, o
primeiro passo é parar de ofender os fatos.”
Por falta de
matéria-prima, o novo titular da Fazenda não teve como incluir o
primeiro reinado de Dilma no trecho do discurso reservado às (poucas)
referências positivas. Levy deixou tão claro quanto possível que chega
para corrigir os erros cometidos nos últimos quatro anos. Sem eliminar
direitos ou extinguir programas sociais, como exige a chefe, o Orçamento
será lipoaspirado. Haverá ajustes de impostos. Cessarão os benefícios
tributários. Os preços serão realinhados, eufemismo para aumentados. Em
duas palavras: “A economia se transformará”.
Parafraseando Lula, a
quem serviu como Secretário do Tesouro Nacional, Levy declarou na fase
final do seu discurso: “Talvez nunca antes na nossa história, em
períodos democráticos, houvéssemos tido a maturidade, como país, de
fazer correções bem antes que uma crise econômica se instalasse.” Dito
de outro modo: ainda há tempo para evitar o pior.
Nas palavras de
Levy, “a economia brasileira tem bons fundamentos”. Ele arregaçou as
mangas: “Estamos, sim, dispostos a implemtar as medidas necessárias.”
Mas avisou: “Sem a ingenuidade das soluções fáceis.” Pareceu animado:
“Vamos trabalhar com afinco na busca dos caminhos que pemitam ao Brasil
prosseguir na rota do crescimento econômico.” Porém, como quem manda um
recado para o alto, disse que o mais importante é “ter persistência para
trilhá-los depois que os acharmos.”
A prioridade do governo é
restabelecer a confiança de investidores nacionais e estrangeiros. E das
agências de classificação de risco, que ameaçam rebaixar a nota do
Brasil. Considerando-se que, nesse universo, Dilma virou o outro nome de
desconfiança, não resta muita alternativa à presidente além de confiar
num ministro que votou no seu adversário.
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POLÍTICA E ECONOMIA