Não faz muito tempo, assisti na televisão a um debate de que
participavam alguns analistas políticos e cujo tema era o rumo
ideológico que o Brasil seguirá neste ano de 2015, que mal começa.
Como sempre, aprendi muito com suas considerações analíticas, que não
deixaram dúvida quanto às dificuldades que o país enfrentará daqui em
diante, tanto no plano político como no econômico.
A verdade é que, conforme observaram, a própria constituição dos
ministérios no novo governo da presidente Dilma deixa evidente a
encrenca em que se encontra, ora nomeando ministro que representa o
contrário de sua visão de economia, ora escolhendo outro, para o
Esporte, que nada entende do assunto e o confessa.
Há quem tema que este segundo mandato de Dilma Rousseff seja um
desastre. Espero que não chegue a tanto, pois quem paga o pato somos
todos nós.
A outra parte daquele debate envolveu a questão ideológica, implicando a
revelação do que ocorre nas escolas de ensino médio e nas
universidades: a atuação de professores, na maioria de esquerda, fazem a
cabeça dos alunos, induzindo-os à leitura de livros marxistas,
apontados por eles como a única visão correta da realidade
contemporânea.
Alguns alunos chegariam a afirmar que as aulas são, com frequência,
trabalho de formação ideológica anticapitalista e antidemocrática.
São informações plausíveis, uma vez que em meus contatos com o meio
universitário pude verificar, com surpresa, o quanto o marxismo que saiu
de moda continua respirando em parte do ambiente acadêmico.
Disse, certa vez, a uma estudante universitária que não tinha cabimento
insistir na crença marxista, quando a União Soviética e todos os países
da Europa Oriental, sem exceção, trocaram o comunismo pelo capitalismo.
Ao que ela me respondeu: "Mas nenhum desses países era verdadeiramente
comunista. O comunismo ainda está por vir". Mal acreditei no que ouvia.
Qual a razão de semelhante resposta? Simplesmente, a necessidade de crer
numa utopia que prometia mudar a sociedade, torná-la mais justa e
solidária. Com o fim do socialismo real, só resta aos que nele
acreditavam desistir dessa utopia ou apegar-se a ela, custe o que
custar, ainda que contra a realidade dos fatos.
Mas esses são os que realmente sonham com uma sociedade fraterna e
justa, e mal podem viver sem acreditar nela. Há, porém, outro tipo de
revolucionário que, em face da inviabilidade da utopia, tomou outro
rumo, que nada tem de idealista. Trata-se do populista, dito de esquerda
ou, como o chamo, o neopopulista. É aí que está o perigo, e não nos
marxistas idealistas, que sonham de fato com uma sociedade justa, embora
inviável nos termos em que a concebem.
Não é isso o que pensam os neopopulistas, que de idealistas não têm
nada, como se vê na Venezuela do chavismo, no Equador de Correa, na
Argentina de Cristina Kirchner e, até certo ponto, no petismo que se
mantém no poder no Brasil há 12 anos e vai para mais quatro.
Os marxistas, os comunistas de fato, nunca tiveram possibilidade de
chegar ao poder no Brasil. Logo, a pregação dos professores, induzindo
os estudantes ao marxismo, é perda de tempo, uma vez que, mesmo quando o
comunismo era a segunda potência política e militar do mundo, não
chegou ao poder no Brasil. Não seria agora que iria consegui-lo. O que
esses professores dizem aos seus alunos, a realidade se encarregará de
desmentir.
Já os neopopulistas, que nada têm de idealistas, ao mesmo tempo que
posam de anticapitalistas, usam o dinheiro público para financiar
programas assistencialistas que beneficiam as camadas mais pobres da
população. Essas e outras medidas semelhantes garantem-lhes os votos de
uma ampla parte do eleitorado e, graças a isso, mantêm-se no poder.
Mas, como dizia um professor meu na escola do partido, em Moscou, em
economia não há milagre e, por isso, de onde se tira e não se bota, vai
faltar dinheiro.
Por isso, Dilma foi obrigada a entregar o ministério da Fazenda a um
economista que pensa o contrário dela. Ele vai tentar repor, nos cofres
do Estado, o dinheiro que ela gastou a fundo perdido.
Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos.
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POLÍTICA E ECONOMIA