O ex-presidente Lula disse a alguns dos principais nomes de seu partido
que é preciso promover uma reforma estrutural nas direções estaduais e
nacional do PT. Em sua avaliação, elas se tornaram instâncias
burocráticas e incapazes de promover uma defesa eficaz da imagem da
sigla, que hoje enfrenta sua pior crise política.
Bandeira antiga do partido, as cotas entraram no rol de razões para esse
desgaste, segundo alguns integrantes da cúpula petista. Em 2011, a
legenda aprovou que 50% dos cargos de direção devem ser ocupados por
mulheres, 20% por jovens (de até 30 anos) e 20% por negros. A medida foi
celebrada à época, mas hoje é vista por alguns como uma exigência que
engessa e burocratiza a estrutura.
Nos bastidores, dirigentes petistas dizem que as cotas não são
preenchidas "a contento", deixando o partido em uma "situação difícil".
Segundo a Folha apurou, Lula tem repetido o mesmo diagnóstico: a
direção está muito centralizada nos presidentes -nacional e regionais- e
tem poucos quadros capazes de elaborar um discurso de enfrentamento
para a atual fase de desgaste. Ele defende mudar as regras para a
composição partidária em todos os níveis e pede reforma no estatuto da
sigla.
Durante a eleição, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff nomeou
coordenadores regionais de campanha em São Paulo, Minas e Rio: Luiz
Marinho, Giles Azevedo e Alessandro Teixeira, respectivamente. Nenhum
fazia parte da direção partidária.
Após vencer a disputa presidencial por estreita margem e ter visto
diminuir suas cadeiras no Congresso, o PT assiste à senadora Marta
Suplicy (SP) fazer críticas públicas a Dilma e apontar uma encruzilhada
para o partido. "Ou muda ou acaba", provocou em entrevista recente.
Tudo isso em meio a sucessivas acusações de desvios na Petrobras e a um cenário econômico fragilizado.
A interlocutores, Lula reconheceu a dificuldade de aprovar alterações
estatutárias no curto prazo. Em junho, o PT promove a segunda etapa de
seu 5º Congresso, em Salvador, onde modificações podem ser apresentadas.
Enquanto não há uma resolução formal, o ex-presidente pediu que o PT
crie mecanismos para que nomes que não fazem parte da direção possam
influenciar mais.
Ele traçou como prioridade a reaproximação do PT com os movimentos
sociais e, para essa missão, quer escalar o ex-secretário-geral da
Presidência Gilberto Carvalho. Outro citado é Marco Aurélio Garcia,
assessor especial da Presidência.
A avaliação é que as figuras mais experientes do PT ganham cargos nos
governos ou se elegem para o Legislativo, distanciando-se do
funcionamento interno do partido.
Para reverter o cenário, discute-se a exigência de maior participação
dos deputados em suas regiões. Recebendo prefeitos, atendendo a imprensa
e promovendo debates com movimentos sociais.
Heinrich Aikawa/Instituto Lula | ||
O ex-presidente Lula, em evento de aniversário do MST, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra |
FOLHA
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