Usando dados do telescópio espacial Kepler, da Nasa, astrônomos
americanos anunciaram a descoberta de nada menos que oito novos planetas
de pequeno porte localizados na chamada zona habitável de suas
estrelas. Trata-se da região do espaço onde a incidência de radiação
seria favorável à preservação de água em estado líquido na superfície.
Essa é a posição que a Terra ocupa em nosso Sistema Solar, o que faz
supor que pelo menos alguns desses novos planetas possam ser de fato
amigáveis à vida.
O anúncio acaba de ser feito durante a reunião da Sociedade
Astronômica Americana (AAS) e adensa a coleção de planetas descobertos
pelo Kepler potencialmente similares à Terra. O resultado também marca
um outro recorde para o satélite, que com as novas adições já ultrapassa
a marca dos mil planetas encontrados. Não custa lembrar que o
telescópio espacial fez essas descobertas todas apontado fixamente
durante quatro anos para um cantinho do céu que equivale a míseros 0,25%
do total da abóbada celeste, entre as constelações Cisne e Lira.
(Em uma nova fase desde o ano passado, por conta de um defeito em
seus giroscópios, o Kepler foi rebatizado K2 e agora investiga
diferentes regiões do céu ao longo das constelações do zodíaco. Aguarde,
portanto, outras descobertas empolgantes para o futuro.)
Dos oito novos planetas, um deles, batizado Kepler-438b, tem tamanho
apenas 12% maior que o da Terra. Em termos de porte, ele é tão parecido
com o nosso mundo quanto o Kepler-186f, que, talvez você se lembre, inaugurou uma nova era na busca por exoplanetas no ano passado.
Ele foi o primeiro planeta com dimensões similares às da Terra (seu
diâmetro era apenas 11% maior) descoberto na zona habitável de outra
estrela que não fosse o Sol.
A estrela-mãe do Kepler-438b é uma anã vermelha, astro menor e menos
brilhante que o nosso Sol localizado a 470 anos-luz daqui. O planeta em
questão completa uma volta em torno dela a cada 35 dias, e a radiação
estelar que chega a ele é 40% maior do que a que banha a Terra. (Para
efeito de comparação, Vênus, que virou um inferno escaldante por sua
proximidade com o Sol, recebe o dobro da radiação incidente sobre nosso
planeta.)
Nesse sentido, o planeta mais interessante da nova leva é o
Kepler-442b, a 1.100 anos-luz de distância. Ele tem um diâmetro cerca de
30% maior que o da Terra, de forma que já entra numa classificação
diferente, como uma “superterra”. Ainda assim, um estudo apresentado
ontem na reunião da AAS por Courtney Dressing, astrônoma do Centro
Harvard-Smithsonian para Astrofísica, mostra que planetas até 50%
maiores que a Terra tendem a ter uma composição de ferro e silicatos. Ou
seja, são mundos rochosos, como o nosso, apesar do tamanho avantajado.
E o Kepler-442b em particular recebe de sua estrela-mãe, uma anã
laranja um pouco menor do que o Sol, cerca de dois terços da radiação
que a Terra ganha do Sol. Segundo os cálculos dos astrônomos liderados
por Guillermo Torres, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, e
por Douglas Caldwell, do Instituto SETI, com esse nível de radiação, ele
tem 97% de chance de de fato estar na zona habitável de sua estrela.
Só para comparar, o festejado Kepler-186f, do ano passado, recebe um terço da radiação solar que incide na Terra.
CANDIDATOS
Hoje os pesquisadores do satélite Kepler também apresentaram uma
atualização dos resultados gerais obtidos pelo telescópio durante seus
quatro anos de operação. Garimpando os dados, eles encontraram mais
554 candidatos a planeta, que vêm a se somar aos 4.183 candidatos da
parcial anterior.
É uma medida importante do tamanho do sucesso da missão, apesar de
sua interrupção abrupta pela falha com os giroscópios. Estima-se que
cerca de 90% dos “candidatos” sejam planetas de fato, mas para verificar
isso os cientistas precisam usar técnicas de análise que confirmem a
descoberta.
O Kepler detecta planetas ao observar pequenas reduções no brilho das
estrelas conforme um mundo orbitando ao seu redor passa à frente dela,
com relação ao satélite. Medindo o tamanho da redução de brilho, o tempo
de duração e a periodicidade, é possível estimar o tamanho e a órbita
do planeta. Mas diversos fenômenos, como manchas estelares ou a presença
de outra estrela próximo, podem gerar falsos positivos. Daí a
necessidade de uma segunda análise caso a caso após a primeira peneirada
dos “candidatos”.
No caso dos oito novos planetas na zona habitável, a equipe de Torres
e Caldwell usou um programa de computador chamado Blender, que introduz
diversos falsos positivos nos dados e procede com uma análise
estatística sobre as detecções. Com isso, conseguiram determinar com
confiança superior a 99% de que são realmente para valer.
Mais detalhes sobre esta descoberta estarão na Folha de amanhã.
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