O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa contou em um depoimento
feito em acordo de delação premiada que recebeu US$ 23 milhões (o
equivalente a R$ 59,3 milhões hoje) da Odebrecht por meio de um doleiro
do Rio de Janeiro chamado Bernardo Freiburghaus.
A propina foi paga para a empresa conquistar contratos da Petrobras em
2009, ainda de acordo com o executivo. Nesse ano, vários aditivos da
construção da refinaria Abreu e Lima foram assinados com a empreiteira.
A Odebrecht nega com veemência que tenha pago propina ao ex-diretor da Petrobras para conseguir contratos com a petroleira.
Foi a empreiteira, segundo Costa, que pediu a ele abrir as contas na Suíça que seriam abastecidas pelo doleiro.
A sugestão para abrir contas do exterior, ainda de acordo com o
ex-diretor da estatal, partiu de Rogério Araújo, diretor da Odebrecht
Plantas Industriais.
O executivo disse que o doleiro foi indicado porque já tinha negócios na Suíça.
O depoimento de Costa sobre a Odebrecht estava no Supremo Tribunal Federal e foi devolvido à Justiça do Paraná no último dia 21.
Costa já havia citado o nome de Araújo em depoimento prestado à Justiça como um dos seus contatos na Odebrecht.
Em depoimento da delação, Costa afirmou que o diretor da Odebrecht teria
dito a seguinte frase para ele quando sugeriu abrir as contas na Suíça:
"Paulo, você é muito tolo, você ajuda mais os outros do que a si
mesmo". Os outros, segundo o relato feito pelo ex-diretor, eram
políticos.
Costa disse que o PT ficava com 2% do valor dos contratos da diretoria de Abastecimento e o PP, com 1%.
O executivo disse ter aberto quatro contas na Suíça, nos seguintes
bancos: Royan Bank of Canadá, Banque Cremer, Banque Pictec e PBK. Costa
disse ter criado empresas offshore em seu próprio nome para operar as
contas. Posteriormente os US$ 23 milhões foram redistribuídos em 12
contas.
Os pagamentos foram feitos pela Odebrecht entre 2008 e 2009, ainda de
acordo com o ex-diretor. Os depósitos eram feitos a cada dois, três
meses pelo doleiro da Diagonal Investimentos Agente Autônomo Ltda. A
empresa funciona em uma sala no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.
A Folha revelou em 2 de outubro que Costa contara aos procuradores ter recebido US$ 23 milhões de suborno da Odebrecht na Suíça.
Costa ocupou a diretoria de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e
2012, nos governos de Lula e Dilma Rousseff. Dilma demitiu-o quando sua
fama de operador político na Petrobras começou a crescer.
Costa foi indicado ao cargo pelo PP, mas depois ganhou o apoio do PT.
O executivo foi o primeiro investigado da Operação Lava Jato a fazer um
acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, depois de
ter sido preso pela segunda vez, porque escondera da Polícia Federal as
contas que tinha na Suíça.
Pelo acordo, Costa se compromete a devolver cerca de R$ 70 milhões,
entre os quais os US$ 23 milhões que estavam bloqueados na Suíça. Em
troca, ele deixou a custódio da PF em Curitiba e cumpre prisão domiciliar em sua casa, no Rio.
A Odebrecht ainda não foi alvo de medidas judiciais porque os
procuradores da Operação Lava Jato estão esperando chegar provas da
Suíça sobre o suposto depósito de US$ 23 milhões.
OUTRO LADO
Em nota, a empreiteira refuta que tenha havido pagamento de suborno: "A
Odebrecht nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu
confesso e ex-diretor da Petrobras. Nega em especial ter feito qualquer
pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer executivo ou
ex-executivo da estatal.
O diretor da empresa, Rogério também nega ter "feito, intermediado ou mandado fazer qualquer pagamento ilegal ao delator".
Segundo ele, a versão de Costa sobre o suborno é fruto "de uma
questionável delação premiada e ilegal vazamento, fatos que impedem
qualquer manifestação".
A Folha não conseguiu localizar Bernardo Freiburghaus no seu escritório nem em sua casa no Rio.
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