O atentado me pegou de férias na Europa. Vim com minha mulher apresentar
o velho mundo aos nossos filhos João e Antonio, 13 e 11 anos, e
começamos na terça-feira (6), por Paris. Conversávamos sobre a Idade
Média e um dos assuntos que lhes chamava a atenção era justamente a
Inquisição e a perseguição sofrida por artistas e cientistas.
Saímos do Louvre e nos deparamos com a notícia. Em pleno século 21,
humoristas foram fuzilados por trabalharem numa publicação que preza a
liberdade e faz piada com qualquer assunto.
Como explicar aos garotos por que uma piada, ainda que audaciosa, é
respondida com brutais assassinatos? Ficaram assustados, sobretudo pelo
fato de o pai deles ser também humorista.
Nas ruas, milhares de pessoas indignadas com o atentado portavam cartazes, exemplares do jornal Charlie Hebdo e velas.
Manifestantes puxavam palavras de ordem, respondidas pela multidão: "On a
pas peur!" (Não temos medo), "Liberté d'expression!" (Liberdade de
expressão), "Liberté de crayon!" (Liberdade para o lápis).
A noite da quarta-feira (7) teve muitas sirenes de polícia. No dia
seguinte, a rotina foi retomada, mas as vítimas eram lembradas em
cartazes espalhados pela cidade: "Nous sommes tous Charlie" (Somos todos
Charlie).
Muita gente, eu inclusive, correu às bancas, mas o Charlie Hebdo estava esgotado.
Aos humoristas do mundo inteiro fica a dúvida: até quando vamos literalmente morrer de rir?
HELIO DE LA PEÑA é humorista e um dos fundadores do grupo Casseta & Planeta.
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