quinta-feira, 17 de março de 2016

Moro venceu corrida com o Planalto ao levantar sigilo de áudio


petrolão

Análise

Adriano Machado/Reuters
A demonstrator throws an inflatable doll known as "Pixuleco" of Brazil's former president Luiz Inacio Lula da Silva in a bonfire during a protest at the appointment of Lula da Silva as a minister, in front of the national congress in Brasilia, Brazil, March 16, 2016. REUTERS/Adriano Machado ORG XMIT: BSB126
Boneco do ex-presidente Lula é queimado em manifestação em frente ao Congresso, na quarta (16)

17/03/2016 02h00

 Se Luiz Inácio Lula da Silva era a última cartada do governo Dilma Rousseff para tentar escapar do impeachment e do atoleiro econômico, ela durou pouco mais de seis horas. E, de quebra, acelerou a já vertiginosa dinâmica da crise rumo a um perigoso desconhecido.

Recapitulando. Lula começou a quarta-feira (15) negociando os termos da rendição do poder presidencial de Dilma para si, após ter ouvido o rugir dos mercados e o chiado de um quase demissionário presidente do Banco Central.

À tarde, a presidente em modo "emérito" fez ampla defesa da escolha e negou que Lula estivesse se abrigando do juiz Sergio Moro.

Poucas horas depois, transpareceu o pacote de grampos legais que não só desnudam Lula na intimidade, mas em plena operação por seus interesses –e recebendo "em caso de necessidade" o termo de posse que poderia livrá-lo de uma visita da Lava Jato curitibana.

O que veio a seguir foi uma explosão espontânea das ruas, que desafiará o discurso palaciano de que manifestações como a de domingo são isoladas. As pessoas saíram do trabalho ao protesto.

O governo irá se apegar à versão apresentada à noite, mambembe mas de contraditório probatório quase impossível, e à suspeita de que o diálogo Dilma-Lula possa ter sido gravado após o fim da ordem judicial para tanto.

Em ato que alimentará a acusação de que age com "timing" político, Moro venceu por duas horas a corrida com o Planalto: se Lula fosse ministro, o sigilo do caso não poderia ser levantado. Isso poderá ser visto como afronta ao Supremo, que deteria o poder sobre tal decisão.

Politicamente, o estrago está feito. Em especial para Lula, cuja lendária soberba e vulgaridade no trato interpessoal se espalha pelos diálogos. Se o mito já estava trincado pelas revelações recentes, o conjunto recolhido parece quebrar os pés da efígie.

Não há condições políticas para a volta de Lula ao governo, ainda que Dilma já tenha avisado que a posse está marcada para esta manhã –na prática convidando protestos. A crise atinge assim um novo paroxismo.  



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