O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal, homologou nesta terça-feira, 24, a delação premiada do
ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobrás que também está na
mira da operação, Sérgio Machado, pivô da queda do ministro do
Planejamento nos primeiros 12 dias do governo interino de Michel Temer.
Ex-líder do PSDB no Senado e posteriormente filiado ao PMDB, Machado
pode entregar membros da cúpula do partido que assumiu o poder com o
afastamento temporário de Dilma e acentuar ainda mais a crise política.
Com a homologação, a delação passa a ter valor jurídico e novos
inquéritos poderão ser abertos para investigar políticos e pessoas sem
foro privilegiado.
A homologação ocorre um dia após a reportagem do jornalista Rubens Valente, da Folha de S. Paulo,
revelar gravações de conversas de Machado com Jucá em março, antes de
ser votado pelo Congresso a abertura do processo de impeachment de Dilma
Rousseff, nas quais eles falam em um “pacto nacional” para “estancar a
sangria” da operação com a chegada de Michel Temer ao poder, após o
afastamento de Dilma. O episódio abalou o governo do peemedebista e
levou à queda de Jucá, alvo de inquéritos da Lava Jato no Supremo sob a
relatoria de Teori Zavascki. Com a homologação, além das conversas
comprometedoras, Machado também entregou às autoridades novos detalhes e
novos nomes de políticos implicados na maior investigação do País que
avança sobre políticos dos maiores partidos do Congresso ligados à base
de Temer e ao PT.
Também investigado, Machado vinha negociando o acordo de colaboração e
gravou ainda conversas que manteve com o presidente do Senado Renan
Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José Sarney (PMDB). A
divulgação das gravações causou grande apreensão no governo interino com
a extensão do que mais poderia existir e que outras pessoas da cúpula
do PMDB, com e sem ligações fortes com o Planalto, poderiam ser
atingidas com as conversas.
Com a saída de Jucá, Temer agora tem cinco ministros com
investigações em curso no Supremo Tribunal Federal. Ele questionou
todos, quando foram convidados a compor seu governo interino, se teriam
alguma pendência judicial. A resposta de Jucá foi absolutamente
tranquilizadora, assim como dos demais, segundo interlocutores. Temer,
então, avisou a cada um e repetiu isso, na primeira reunião ministerial,
de que não aceitará qualquer tipo de desvio de ordem moral. Reiterou
ainda que, se houvesse problemas, o titular da pasta seria afastado.
A preocupação no PMDB é grande. O entendimento é de que Machado, para
se livrar das acusações das quais é alvo na Lava Jato, entregou
caciques do partido como o ex-presidente José Sarney e os senadores
Renan Calheiros, Romero Jucá, Edison Lobão (PMDB-MA) e Jader Barbalho
(PMDB-PA). Segundo relatos, Machado, que foi filiado ao PSDB e
posteriormente ao PMDB, tendo relação com caciques peemedebistas há pelo
menos 20 anos, chegou a tentar a realizar um encontro com Jader em São
Paulo, que só não foi possível em razão de o senador, na ocasião, estar
internado no Hospital Sírio Libanês.
Apesar de não ter conseguido falar com Jader, integrantes da cúpula
do Senado têm como certo que Renan e Sarney não escaparam das
gravações.O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou à
Justiça Federal no Paraná que recebeu R$ 500 mil de Machado – o dinheiro
é suspeito de ser proveniente do esquema de corrupção.
Nos diálogos com Jucá revelados até agora, Machado fala sobre sua
preocupação em ser investigado pelo juiz Moro, pois a investigação
contra ele que estava no Supremo poderia ser remetida para a primeira
instância, critica a prisão do ex-senador Delcídio Amaral, que foi
autorizada pelo Senado, e chega a afirmar que “a solução mais fácil”
para salvar os peemedebistas que estão na mira de Janot é botar Michel
Temer no governo.
Veja trecho do diálogo que abalou o governo Temer:
“Machado – E ele [Janot] não tem nada. Se ele
tivesse alguma coisa, ele ia me manter aqui em cima, para poder me
forçar aqui em cima, porque ele não vai dar esse troféu pro Moro. Como
ele não tem nada, ele quer ver se o Moro arranca…
Jucá –…para subir de novo.
Machado –…para poder subir de novo. É esse o
esquema. Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como,
não tem como. A gente tem que ter a saída porque é um perigo. E essa
porra… A solução institucional demora ainda algum tempo, não acha?
Jucá – Tem que demorar três ou quatro meses no máximo. O país não aguenta mais do que isso, não.
Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá – [concordando] Só o Renan que está contra essa
porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’.
Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.”
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