O lulismo estava nas cordas desde a quinta-feira, 27 de novembro de
2014, em que a presidente reeleita anunciou que havia decidido entregar a
condução da economia do país ao projeto austericida que condenara na
campanha eleitoral. Um ano e meio depois, na aurora desta quinta-feira
(12), o exausto lutador caiu. Ao afastar
Dilma Rousseff da Presidência por 55 a 22 votos, o Senado encerrou
talvez uma das lutas mais dramáticas – embora perca para a de 1954 – da
história democrática brasileira.
Haverá ainda prorrogação, mas só um milagre reverterá o jogo no espaço
senatorial em que se fará o julgamento dos inexistentes crimes da
mandatária afastada. Um bloco partidário e social comandado pelo PMDB se
formou para isolar, desmoralizar e, caso possível, extinguir o arco de
forças comandado por Lula. O lulismo não morreu, mas talvez sejam
necessários anos para reconstruir as condições de disputa perdidas na
manhã da quinta passada (12).
Pois embora o fator econômico tenha sido decisivo, não se tratou da mera
derrocada de um governo associado a desemprego, inflação e queda da
renda. Foi também o resultado das revelações e da manipulação da Mãos
Limpas nacional, conhecida como Lava Jato. Dilma subestimou o tamanho
dessas duas encrencas, que apareceram com nitidez no último ano do seu
primeiro mandato.
Se a antiga ministra da Casa Civil tivesse percebido a força da coalizão
capitalista consolidada em torno do ajuste recessivo assim como o
potencial que a delação premiada traria à investigação na Petrobras, o
mais racional era ter entregue a recandidatura a Lula. O ex-presidente
reunia melhores condições para o pugilato de pesos-pesados.
Só o tempo dirá em que ponto do percurso Sergio Moro, Deltan Dallagnol e
outros personagens das investigações resolveram colocar a bomba atômica
que controlavam a serviço da demolição do lulismo. De toda maneira, em
março deste ano, quando o juiz curitibano fez a condução coercitiva de
Lula e a divulgação do diálogo deste com Dilma, ficou claro que já não
havia isenção.
Independentemente das falhas de avaliação de Dilma, o lulismo foi
incapaz de oferecer uma narrativa coerente sobre a avalanche de
acusações formuladas pelo Partido da Justiça sediado em Curitiba. De
outro lado, a mídia estimulou um clima de caça às bruxas decisivo para
cimentar a maioria que deu suporte ao golpe parlamentar.
Com a traumática derrubada do lulismo, interrompe-se mais uma vez a
tentativa — no fundo a mesma de Getúlio Vargas — de integrar os pobres
por meio de uma extensa conciliação de classe. Venceu de novo a forte
resistência nacional a qualquer tipo de mudança verdadeiramente
civilizatória. Mesmo a mais moderada e conciliadora.
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POLÍTICA E ECONOMIA