sábado, 7 de maio de 2016

Lava Jato descobre os caminhos de R$ 6 milhões do PT a empresário de Santo André

Operação Lava Jato


Por Mateus Coutinho e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba
07/05/2016, 10h03

Procuradores apontam, em denúncia por lavagem de dinheiro, que dinheiro emprestado do Banco Schahin por amigo de Lula teve como destinatário empresário de Santo André que teria extorquido o partido após assassinato de Celso Daniel

Ronan Maria Pinto. Foto: Beto Barata/AE
Ronan Maria Pinto. Foto: Beto Barata/AE

A força-tarefa da Lava Jato denunciou nesta sexta-feira, 6, o empresário do setor de transportes de Santo André, no ABC paulista, Ronan Maria Pinto pelo crime de lavagem de R$ 6 milhões provenientes de um ’empréstimo fraudulento’ do PT de outubro de 2004, via pecuarista José Carlos Bumlai, com o Banco Schahin.

O Ministério Público Federal acusa o executivo de lavagem de dinheiro ao articular um complexo esquema para receber o dinheiro que teria envolvido membros do PT, um frigorífico e um empresário do Rio.
A denúncia cita uma das mais polêmicas páginas da história do PT, o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002. Os procuradores afirmam que Ronan teria se encontrado em 2004 com o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira e o operador do Mensalão condenado pelo Supremo Tribunal Federal Marcos Valério e o jornalista Breno Altman.

“Durante a reunião, Ronan Maria Pinto explicou aos presentes que precisava de R$ 6 milhões para comprar o Jornal Diário do ABC que estava divulgando notícias que o vinculavam à morte do prefeito Celso Daniel”, relata a denúncia.

A partir daí, teria sido articulado um esquema de transferências diretas e indiretas envolvendo empresários e operadores que fizeram os R$ 6 milhões chegarem a Ronan, que acabou adquirindo o jornal.

Os R$ 6 milhões representam a metade do um total de R$ 12 milhões que foram repassados pelo Banco Schahin a José Carlos Bumlai, amigo pessoal do ex-presidente Lula. Ele fez a operação como ‘representante’ do PT. Este empréstimo já foi alvo de acusação feita pelo Ministério Público Federal em dezembro de 2015.

A denúncia apresentada nesta sexta-feira, 6, é um desdobramento dos fatos apurados anteriormente.

A partir das investigações, foi constatado que R$ 6 milhões daquele total de R$ 12 milhões tiveram como destinatário final o empresário do município de Santo André (SP). Segundo evidências levantadas durante as investigações e informações prestadas em depoimentos, toda a operação para transferir o dinheiro tinha como objetivo ocultar o pagamento de vantagem indevida em benefício de Ronan que estaria extorquindo representantes do PT, afirma a Procuradoria.

Os investigadores descobriram os rastros do dinheiro. O valor total do empréstimo junto ao Banco Schahin, de R$ 12 milhões, foi transferido de Bumlai para a conta bancária do Frigorífico Bertin. Na sequência, o responsável no frigorífico repassou a quantia de R$ 6 milhões para a Remar Agenciamento e Assessoria Ltda, de Oswaldo Rodrigues Vieira Filho, empresário do Rio de Janeiro que já havia sido indicado por outros membros do esquema.

“Com os valores na conta da Remar, Vieira Filho promoveu transferências diretas e indiretas, seja em depósitos para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan, ou para outras pessoas físicas e jurídicas que foram indicadas pelo empresário para receber os valores escusos”, diz a Procuradoria.

Para a Expresso Nova Santo André, foram repassados R$ 2.943.407,91. Ao receber este recurso, a empresa realizou transferências que totalizaram R$ 1,2 milhão para a conta de um dos acionistas do Diário do Grande ABC como pagamento pela compra das ações do jornal.

O acionista do periódico também recebeu uma transferência direta da Remar de R$ 210 mil como parte do pagamento pela venda do jornal. De acordo com depoimentos, Ronan decidiu adquirir o veículo de comunicação para interromper a publicação de notícias que ligavam seu nome ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.

Também foram identificados dois repasses da Remar, feitos a pedido de Ronan, para a Mercedez Benz, totalizando R$ 1.387.500,00, e outros três repasses que somaram R$ 1.132.661,30 para a Induscar Indústria e Comércio de Carrocerias. Conforme apontaram as investigações, as duas empresas eram fornecedoras de veículos e equipamentos para outra empresa de Ronan, a Interbus Transporte Urbano e Interurbano Ltda.

Nesta denúncia, os procuradores pedem que seja fixado o valor mínimo de reparação dos danos causados pelo crime no montante de R$ 6 milhões.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE RONAN MARIA PINTO:
“Após ouvir as explanações dos promotores no dia de hoje, a defesa do empresário Ronan Maria Pinto declara-se muito satisfeita já inicialmente com a justa exclusão do descabido crime de extorsão, feita desde a propositura da ação penal, e que chegou a ser aventado no início da operação que o levou à prisão.

A acusação criminal formalmente apresentada hoje, de crime financeiro, será devida e documentalmente afastada assim que a defesa puder apresentar e comprovar a prática de atos totalmente lícitos da parte do empresário em todas as operações financeiras enumeradas no processo, e realizadas sem a utilização de recursos públicos.

Mais uma vez ressaltando não haver motivos para o envolvimento do empresário na Operação Lava Jato, informamos ainda que será imediatamente pleiteada a revogação de sua prisão. A partir de agora, Ronan Maria Pinto não mais responde por crime com emprego de violência ou grave ameaça às investigações, e o que seria a única justificativa para a manutenção do seu cárcere.

Sem mais, atenciosamente,

Dr. Fernando José da Costa
 
São Paulo, 6 de maio de 2016 ”

COM A PALAVRA, O GRUPO SCHAHIN:
A empresa informou que não vai se manifestar sobre o assunto.

COM A PALAVRA, O JORNALISTA BRENO ALTMAN:

“A denúncia do Ministério Público, no que diz respeito a minha suposta participação no caso investigado, não apresenta quaisquer provas ou indícios.

Como posso ser suspeito por lavagem de dinheiro se não há qualquer fato que me relacione às operações financeiras citadas?

O documento dos procuradores, no que me diz respeito, se apoia exclusivamente em depoimento de um condenado, o sr. Marcos Valério, cuja delação premiada foi negada pela própria PGR em 2012, em função de suas mentiras contumazes.

Triste ainda é ver que o MPF nem sequer deixou claro que os fatos narrados na denúncia são apenas a versão do ex-publicitário, transcritos como se fossem verdades irrefutáveis.

Oxalá o juiz Moro ponha um fim a este atropelo, indeferindo acusação sem lastro.”


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