21 Maio 2016 | 16h 59 - Atualizado: 21 Maio 2016 | 16h 59
Sob ataque da petista, governo promove pente-fino secreto nas despesas da Presidência e de outras áreas em busca de casos de malversação dos recursos públicos
A
equipe do presidente em exercício Michel Temer pretende concluir neste
mês um levantamento para rebater as acusações e críticas que ele vem
recebendo do PT e de setores aliados ao partido nos movimentos sociais e
na classe artística. No limite, a auditoria feita pela nova
administração pública do País tentará demonstrar que a presidente
afastada Dilma Rousseff praticou “malversação de recursos públicos”, o
que é crime conforme a lei.
Nesta segunda-feira, Temer concede uma entrevista coletiva
para fazer uma prestação de contas do que encontrou, porém ele não
deverá abordar esse tipo de gastos e se concentrará apenas na análise do
cenário mais amplo das finanças do País. Segundo o ministro Geddel
Vieira Lima, será “uma satisfação” dada à sociedade de como o governo em
exercício encontrou a administração pública, mas sem revanchismo. “Não é
um inventário com espírito revanchista”.
O “inventário revanchista”, no entanto, vem sendo preparado, conforme apurou o Estado.
Esse escrutínio abrange os gastos diretos da Presidência da República,
incluindo despesas do governo federal realizadas por meio do cartão de
pagamento do governo, o chamado “cartão corporativo”. A título de
ilustração, só em 2014, último ano do primeiro mandato de Dilma, o
núcleo administrativo ligado diretamente à presidente gastou R$ 747,6
milhões.
A análise dos gastos, no entanto, não se limitará à
Presidência. Já foram encontrados indícios do mau uso do dinheiro
público pela gestão petista em áreas como educação, cultura e gastos do
governo federal no exterior. Editais e licitações serão revirados. Estão
na mira ainda publicidade e comunicação. Nesses setores, no entanto, a
auditoria informal está longe de terminar.
Foco. A equipe de Temer também está
passando um “pente-fino”, nas palavras de um assessor do presidente em
exercício, nas despesas do Palácio do Planalto com a realização de
eventos oficiais que acabaram se transformando em atos de defesa do
mandato de Dilma, neste ano e em 2015.
Gastos com viagens, hospedagens e despesas pessoais de
integrantes da antiga gestão e com convidados de Dilma são outros alvos
da apuração, que está sendo mantida em sigilo. Oficialmente, o governo
Temer nega que esteja escrutinando as contas da gestão Dilma, mas um
ministro confirmou ao Estado a
iniciativa. Segundo ele, a medida só foi determinada após o que o
presidente em exercício considerou ser um ataque frontal e desleal aos
primeiros dias de seu governo interino e ao País com a série de
entrevistas de Dilma a veículos de comunicação estrangeiros.
Para Temer, Dilma diminui a imagem do Brasil e joga contra a
recuperação do País ao propagar a ideia de que a governo interino é
fruto de um golpe contra as instituições apenas para defender seus
interesse pessoal.
Reservadamente, o núcleo mais próximo de Temer, dentro e fora
do governo, avalia que Dilma e setores do PT desprezaram os sinais
feitos por eles de que não promoveria uma retaliação ou uma “caça às
bruxas” à gestão da petista.
Ainda não há consenso dentro do governo interino se o
resultado da autoria deve ser divulgada e de que maneira. Uma corrente
importante defende a estratégia de que Temer deve centrar forças na
recuperação da economia e ignorar os ataques de Dilma e do PT.
No entorno do presidente em exercício, a tendência é para que
ele evite na entrevista de amanhã termos com “herança maldita”, numa
referência à situação encontrada. A avaliação é de que esse termo está
intimamente ligado à maneira como os governos petistas se referiam aos
anos FHC.
Cultura e vitrines. Na área da cultura,
Temer quer que o novo secretário nacional do setor, Marcelo Calero,
levante todos os gastos do antigo MinC com projetos, patrocínios e
diárias. O presidente interino busca munição contra as acusações da
classe artística de que promove uma desmanche de projetos e de políticas
públicas.
Uma das missões de Calero é demonstrar que os recursos do
antigo MinC eram desperdiçados e direcionados a um grupo de artistas e
produtores privilegiados pela antiga gestão.
Cortes foram feitos. Um ex-ministro de Dilma ouvido pela
reportagem afirmou que a própria presidente afastada já reduziu neste
ano os gastos diretos da Presidência e que a auditoria de Temer tem por
objetivo intimidar e denegrir Dilma.
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POLÍTICA E ECONOMIA