POR Malu Gaspar
24/05/2016 11:45
A mulher do
publicitário João Santana, Monica Moura, prometeu contar em delação
premiada aos procuradores da Lava Jato tudo sobre pagamentos recebidos
de Eike Batista no exterior. Se contar mesmo tudo o que sabe, conforme
noticiou ontem o jornal O Globo, em breve os processos da 13a Vara Federal de Curitiba registrarão a seguinte história:
Corria o mês de abril de 2013 quando um gerente do império X, então
vivendo o preâmbulo de sua derrocada final, foi chamado a uma salinha de
reuniões. Seu chefe tinha uma missão para ele, que lhe fora delegada
por Flávio Godinho, homem de confiança e sócio de Eike em várias
empresas – incluindo offshores. A tarefa consistia em receber
uma mulher que viria entregar uns papéis com indicações para que Eike
fizesse um depósito no exterior. Quando perguntou que depósito seria
aquele, seu chefe respondeu: “É dinheiro para o Lula”. O rapaz tremeu.
Tentou se esquivar da tarefa, com medo do segredo que estava prestes a
conhecer. Mas não teve chance. Ouviu do chefe que não precisava se
preocupar, pois a tarefa não envolveria nada demais. Era só receber a
mulher e pegar os papéis que ela tinha lhe a entregar. Flávio Godinho
cuidaria do resto.
Assim foi feito. Em pouco tempo a mulher se fez anunciar na portaria
da sede do grupo X, no edifício Serrador, no centro do Rio. Tratava-se
da própria Monica Moura, acompanhada da filha, Alice. Simpática,
estendeu seu cartão de visitas. Em seguida, entregou um envelope branco
ao executivo. Continha um contrato, que ele de propósito não abriu. Ela
disse: “Olha, a conta é a Shellbill, você sabe né?”. Não sabia, mas a
Shellbill Finance S.A. é a offshore panamenha que Monica e João
Santana controlam, e que recebeu 7,5 milhões de reais da Odebrecht e do
operador de propinas Zwi Skornicki. Foram descobertas da Lava Jato.
Monica e o gerente do grupo X falaram mais algumas amenidades e
despediram-se. Os papéis chegaram até Eike, que ordenou a transferência
de algo próximo a 1,5 milhão de dólares para a conta indicada pela
mulher de João Santana. O depósito deveria sair de uma das contas usadas
pelo bilionário para esse tipo de pagamento, em um banquinho do Panamá,
pouco conhecido, mas bastante atuante com clientes brasileiros: o TAG
Bank, de um ex-sócio do BTG Pactual, Eduardo Plass. Batizadas de Golden
Rock e Blue Diamond, as contas eram bastante familiares aos executivos
do grupo X.
No ano passado, o Ministério Público chegou a pedir ao TAG Bank a
abertura do sigilo dessas contas em uma investigação que tinha como alvo
o ex-governador Sérgio Cabral. Na ocasião, as contas foram bloqueadas –
e o entorno de Eike, enrolado em processos movidos pelo próprio
Ministério Público e por acionistas minoritários do grupo X, ficou em
polvorosa. Vários ex-executivos foram chamados para discutir com o
ex-bilionário versões possíveis para justificar eventuais pagamentos
ilícitos.
Durante os anos de ouro da economia brasileira, Eike Batista
personificou o sucesso do Brasil na arena econômica mundial. Como tudo
que cercou o boom brasileiro, ao lado glamoroso correspondia um
outro, lamacento, formado por alianças inconfessáveis em nome de
interesses idem. O bilionário fez de tudo para ser incluído no cartel de
empreiteiras que dominava a Petrobras, mas foi vetado por Marcelo
Odebrecht, com quem havia tido desavenças por causa de contratos de
prestação de serviços ao grupo X. Em agosto de 2012, finalmente obteve
dois contratos para o seu estaleiro, o OSX, em um consórcio com a Mendes
Júnior. Até agora, porém, Eike parecia observar de fora o lodaçal
revolvido pela Lava Jato. Ao que tudo indica, isso mudou. Ele está
prestes a ser arrastado para dentro do pântano – pelas mãos da mulher de
João Santana.
O advogado de Eike Batista, Raphael Mattos, disse à piauí que seu cliente não comentaria o assunto.
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POLÍTICA E ECONOMIA