Delcídio Amaral
Ex-senador, cassado no dia 10 de maio
por supostamente tramar contra a Lava Jato, diz que presidente do
Congresso 'faz o que quer, manipula tudo, usurpa'
O senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT/MS) defendeu nesta
quinta-feira, 26, a saída do presidente do Congresso, senador Renan
Calheiros (PMDB/AL). “O Renan, como o Eduardo Cunha (presidente afastado
da Câmara), deve sair urgentemente. Ele deve cair. Renan é o senhor dos
anéis, faz o que quer, manipula tudo, usurpa.”
Delcídio partiu para o ataque e pediu a cabeça do presidente do
Congresso depois da divulgação do áudio em que Renan conversa com
‘Vandenbergue’ sobre o processo de cassação do ex-petista.
Os investigadores suspeitam que o interlocutor de Renan é
Vandenbergue Sobreira Machado, que é da diretoria de Assessoria
Legislativa da CBF, foi chefe de gabinete do ex-ministro Marco Maciel
(Educação/Governo Sarney) e é muito ligado ao PMDB e ao senador.
No diálogo, Renan diz a Vandenbergue que Delcídio ‘tem que fazer…
Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que
já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A
mulher pagou…’
Vandenbergue respondeu. “Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão (Conselho de Ética), fazer essa carta e vai embora’.
O teor da conversa entre Renan e Vandenbergue Machado, divulgada com
exclusividade pela repórter Camila Bonfim, da TV Globo, nesta quinta,
26, deixou Delcídio indignado. E com a certeza de que sua cassação foi
‘manipulada’ pessoalmente por Renan. “Ele (Renan) tinha medo da minha
delação, ele tinha comprometimento com o Palácio do Planalto.”
Delcídio fechou acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da
República em fevereiro. Dias depois, foi colocado em liberdade – ele
havia sido preso em 25 de novembro de 2015 por suspeita de tramar contra
a Operação Lava Jato.
“Esse Vandenbergue é um cara que eu conheço há muito tempo”, afirma
Delcídio. “Ele é diretor da CBF, mas se criou sempre no PMDB. Começou
como chefe de gabinete do Marco Maciel no Ministério da Educação
(Governo Sarney) e depois fez carreira no PMDB, especificamente com o
Renan.”
Delcídio relata que ‘tinha boas relações’ com Vandenbergue. “Mas
achei estranho que ele ia ao meu gabinete aparentemente para prestar
solidariedade, para me visitar e o caramba, mas agora percebo que ele ia
a mando do Renan para sondar, para saber se eu ia mesmo fazer delação
premiada. A conversa gravada entre eles mostra que estavam mal
informados. Pelo que vi, a conversa foi no dia 24 de março. Eu já havia
fechado o acordo antes de ser solto em fevereiro. Vandenbergue sempre
frequentava o meu gabinete, sempre uma relação boa, amistosa, mas o
interesse dele era efetivamente me monitorar. Não só a mim como a minha
família. A mando do Renan.”
“Fomos perceber mais na frente um pouco que não era solidariedade do
Vandenbergue, ele estava sendo mandado pelo Renan para me monitorar.
Como eu tinha uma boa relação com o Vandenbergue me foi oferecido para
minha defesa o filho dele, que é advogado. Ele se apresentou para
advogar de graça para mim. Mas ele não é meu advogado.”
Na avaliação de Delcídio, o diálogo entre Renan e Vandenbergue revela
a preocupação do presidente do Congresso em tirar seu mandato, o que de
fato ocorreu no dia 10 maio por um placar devastador – 74 senadores
votaram pela saída de Delcídio, nenhum colega a seu favor.
“Dentro dessas condições, como um Eduardo Cunha, ou seja, tendo todas
as rédeas do processo para julgar alguém e usado os poderes que tem,
ele (Renan) manipulou minha cassação”, protesta Delcídio. “O diálogo
(com Vandenbergue) só confirma que Renan, o senhor dos anéis, deve ser
afastado imediatamente. Não tem mais condições de comandar o Senado.”
Na avaliação do ex-senador, o áudio de Renan e Vandenbergue
‘caracteriza uma ação forte dele (Renan) de manipulação, igual à que o
Eduardo Cunha promoveu no processo da Dilma. Ficou muito claro que Renan
controla a situação. O cara está usurpando de um espaço que ele tem
dentro do Senado, usando a presidência para fazer o que quer.”
Delcídio analisou um outro áudio, em que Renan chama de ‘mau caráter,
mau caráter’ o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Isso é
muito grave, mostra mais uma vez como ele, Renan, é o senhor dos anéis.
Ele manipula tudo. Fui cassado por livre arbítrio do senhor dos anéis.
Queimou etapas do processo. Eu nunca vi, em treze anos de Senado, uma
reunião da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no próprio
Plenário.”
Para o ex-petista, Renan “tem medo, claro’ de sua delação à
Procuradoria-Geral da República. “Ele tinha compromissos com o Planalto,
com senadores que se sentiam atingidos pela minha colaboração. Pensaram
em me tirar o mais rápido possível e não deixar eu ir para o plenário.
Não queriam que eu votasse o afastamento da Dilma. Essa fala dele no
áudio demonstra nitidamente que ele tinha condições de manipular tudo.
Esse áudio vai ser usado na minha defesa.”
“Se eu conheço um pouco o Sérgio Machado o que ele deve ter falado
nos depoimentos da delação dele à Procuradoria é brincadeira. Dez anos
de Transpetro é muita coisa. Na minha colaboração eu falei
especificamente do Sérgio Machado na Transpetro e da proximidade dele
com o Renan. Ele despachava com o Sérgio na residência oficial da
Presidência do Senado. É muito grave esse cenário. É o cáos.”
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