O ex-presidente Lula entrou de cabeça
na defesa do deputado Eduardo Cunha e da presidente Dilma Rousseff, mas
ele deve estar tenso e preocupado mesmo com ele próprio e com a sua
família. E, atenção, isso não tem a ver com um confronto entre esquerda e
direita, é genuinamente uma questão de polícia e de justiça.
“A
convite”, Lula já teve de dar explicações à Procuradoria-Geral da
República, na sexta-feira, sobre suas intrincadas relações com as
maiores empreiteiras do País, nas asas das quais voava pela África e
pela América do Sul, esbanjando carisma e dando uma forcinha para os
negócios.
Na Polícia Federal, há dúvidas se Lula funcionava
como chefe das empreiteiras brasileiras com vultosos negócios no
exterior ou se, na verdade, ele acabou virando uma espécie de alto
funcionário a serviço delas ainda como presidente da República.
A
dúvida é reforçada por mensagens e dados levantados na Operação Lava
Jato, como um e-mail escrito por um executivo da Odebrecht às vésperas
de um almoço de Lula com o presidente da Namíbia: “Seria importante eu
enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum
pedido que Lula deve fazer por nós”. O “deve” soou como uma ordem. E o
tal Alexandrino, que foi preso na Lava Jato, era o companheiro de viagem
de Lula nos jatos da empreiteira.
Para os defensores
incondicionais de Lula, o presidente interferia a favor das empreiteiras
em defesa dos “interesses nacionais”. O problema é que as dúvidas sobre
Lula não são isoladas. Ocorrem em meio a grandes suspeitas envolvendo o
seu governo com histórias do arco da velha na Petrobrás e arrastando
seus filhos e uma nora para o centro do noticiário que deveria ser
político.
Segundo o Estado,
Luiz Cláudio Lula da Silva abriu uma empresa na mesma época em que
escritórios de lobby despejaram R$ 32 milhões para aprovar uma medida
provisória que prorrogou isenções fiscais para montadoras de automóveis.
Ato contínuo, a empresa do filho de Lula – que atua na área do
“marketing esportivo” – recebeu a bolada de R$ 2,4 milhões de um desses
escritórios – que não tem nada a ver com marketing esportivo. Nem quem
pagou nem quem recebeu sabe explicar que negócio foi esse.
Segundo o O Globo,
o delator Fernando Baiano, operador do PMDB na Petrobrás, disse em
depoimento que pagou R$ 2 milhões de despesas pessoais de outro filho de
Lula, Fábio Luiz (o “Ronaldinho” da Gamecorp), que também virou
empresário de sucesso depois que o pai virou presidente. E, segundo a TV
Globo, Baiano especificou aos procuradores que teria dado R$ 2 milhões
para que uma nora de Lula quitasse parte (só parte...) de um imóvel. O
intermediário teria sido o “irmão” de Lula José Carlos Bumlai, depois de
uma negociação suspeita com a Petrobrás.
Na primeira vez,
pode ser exagero ou simplesmente fofoca. Na segunda, começa a ficar
esquisito. Na terceira, quando atinge o pai, um filho, outro filho e a
nora, começa a assumir ares de verdade. É por isso que Lula gasta muita
energia para salvar Dilma e Cunha – neste caso sem tanto sucesso, vide o
racha na bancada do PT –, mas deveria guardar alguma para se defender e
aos seus.
Esses delegados, procuradores e juízes que andam
por aí azucrinando ricaços e poderosos têm uma formação impecável,
sabem o que estão fazendo e têm fortes conexões com os Estados Unidos, a
Itália, o Uruguai, a Suíça... Eles não são nem de direita nem de
esquerda. E não estão aí para brincadeira.
Anuncia-se nos
bastidores que Lula já está em campanha para voltar ao Planalto em 2018 e
dizem que, quando o leão passa, mesmo ferido, os outros bichos se
escondem. Lula é sem dúvida um leão da política, mas, para passar,
precisa estar livre, leve, solto e sem ter de explicar o tempo todo mil e
uma histórias mal contadas.
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POLÍTICA E ECONOMIA