Nelson Rodrigues dizia que a morte é anterior a si mesma. Começa
antes, muito antes da emissão do atestado de óbito. É todo um lento,
suave, maravilhoso processo. O sujeito já começou a morrer e não sabe.
Deu-se algo parecido com a retórica de Lula. O morubixaba do PT ainda
não se deu conta, mas sua retórica já morreu e, suprema desgraça, não
foi para o céu. No momento, exerce a prerrogativa de escolher seu
próprio caminho para o inferno.
Não foi uma morte natural.
Ironicamente, a oratória de Lula foi assassinada pelo mito gerencial que
ajudou a colocar no Palácio do Planalto. Matou-a, num processo lento e
cruel, a ineficácia crônica de Dilma. Sem assunto, Lula perambula pelo
país esgrimindo um discurso desconexo, que ofende a inteligência de quem
ouve.
Lula já não dispõe da alternativa de atacar a herança
maldita de FHC. Graças ao poder longevo, o PT agora lida com seu próprio
legado. Enquanto conseguiu maquiar a gastança, Dilma manteve as
aparências. Mas agora a irresponsabilidade fiscal apresenta a conta.
Potencializada pelas 'pedaladas', a irresponsabilidade foi levada às
fronteiras do paroxismo. Até o TCU notou.
Numa evidência de que a
placa do seu cérebro ferveu, Lula pede o escalpo de Joaquim Levy em
privado e apregoa a retomada do crescimento econômico em público. Finge
não ver que os erros na economia são de madame e que o conserto do
estrago vai tomar tempo, pelo menos dois anos —ao longo dos quais a
inflação e o desemprego, ambos a caminho dos dois dígitos, transformarão
Lula em cúmplice de uma ruína anunciada.
No momento, Lula promove
um ciclo de encontros sobre educação. Treze anos depois da chegada do
PT ao poder federal, ele trombeteia a perspectiva de destinação gradual
de 10% do PIB e 75% dos royalties do pré-sal para a educação. Faz isso
num instante em que o PIB derrete em meio a uma recessão a pino. E o
triunfalismo do pré-sal dá lugar às lamúrias sobre a breca de uma
Petrobras saqueada pela quadrilha de assaltantes-companheiros.
Com
a morte de sua retórica, Lula tornou-se um orador desconexo. Enfia Lava
Jato em todos os seus discursos. Até bem pouco, jactava-se de ter
honrado a independência do Ministério Público e proporcionado autonomia
operacional à Polícia Federal. Agora, num instante em que seu nome salta
dos lábios dos delatores como pulgas no dorso de vira-latas, Lula
critica a investigação e enxerga “quase um Estado de exceção” onde só
existe uma democracia tentando conter seus usurpadores. Num rasgo de
cinismo, Lula comparou os delatados do PT a Jesus Cristo, que teve de fugir de Herodes ao nascer e foi morto na cruz.
Dias
atrás, Lula declarou que não gostaria de se candidatar novamente à
Presidência em 2018. Talvez os fatos venham a confirmar a sensação de
que o cabeça do PT está sendo delicado demais consigo mesmo. Depois que
sua retórica foi assassinada por seu poste, Lula ganhou a aparência de
um cadáver político na fila para acontecer.
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POLÍTICA E ECONOMIA