domingo, 9 de novembro de 2014

Empresa afirma que pagou comissões para executivos

Dois executivos da Camargo Corrêa usaram as empresas de suas mulheres para receber comissões de uma fornecedora da empreiteira, segundo o dono da companhia Sanko, que fez os repasses dos valores. Os depósitos foram descobertos na Operação Lava Jato, que investiga o esquema de desvios na Petrobras. 

A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, maior obra executada pela Petrobras no país  
A refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, maior obra executada pela Petrobras no país 

As empresas das esposas do vice-presidente da empreiteira, Eduardo Leite, e do diretor de Óleo e Gás, Paulo Augusto Santos da Silva, receberam R$ 1 milhão cada uma da Sanko em 2013, segundo extratos bancários obtidos nas apurações da Polícia Federal e do Ministério Público. 


A Sanko é fornecedora de tubos e fez negócios com o Consórcio Nacional Camargo Corrêa (CNCC) nas obras da refinaria Abreu e Lima da Petrobras, em Pernambuco. 


Detalhes sobre a transação entre a Sanko e os executivos da Camargo Corrêa foram apresentados por um dos donos da Sanko, Márcio Bonilho, ao ser interrogado pela Justiça Federal em 20 de outubro, em uma das ações penais da Operação Lava Jato.
















































































































































































































































REÚS

Bonilho e o outro sócio da Sanko, Murilo Tena Barrios, são réus numa ação em que a Sanko é acusada de repassar propina a políticos e funcionários públicos, dentro do esquema operado pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. 


A Sanko e a Camargo Corrêa negam ter praticado irregularidades. Os advogados dos executivos afirmam que eles não receberam comissões. Dizem que as empresas das mulheres efetivamente prestaram serviços à Sanko. 


Eduardo Leite era o principal contato de Youssef na Camargo, segundo um dos laranjas do operador, o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa. O doleiro controlou uma espécie de conta corrente usada pela empreiteira para pagar suborno, segundo o Ministério Público Federal.

PEPINÃO

Em uma das escutas telefônicas da investigação, o doleiro chegou a dizer que havia emprestado R$ 12 milhões à empreiteira: "Tô com um pepinão aqui na Camargo que você nem imagina. Cara me deve 12 paus [R$ 12 milhões], não paga. Pior que diretor é amigo, vice-presidente é amigo", disse Youssef na ligação. 


À Justiça Federal o dono da Sanko referiu-se às transferências para as firmas das esposas como "comissões". 


Um dos advogados de defesa indagou qual era a relação da Sanko com as empresas que receberam as transferências, Pass Consultoria e Paiva Ribeiro Gerenciamento, Arquitetura e Paisagismo. 


Bonilho respondeu que as as firmas eram das mulheres dos executivos da Camargo. Em seguida, explicou que os repasses foram feitos em razão de um desentendimento entre Youssef e os executivos a respeito das comissões. A princípio, os pagamentos aos diretores seriam feitos por meio de empresas do doleiro, segundo o dono da Sanko.

Editoria de arte/Folhapress

"Quando, no final do negócio, Youssef não repassou as comissões, não houve os repasses, eles pediram que eu pagasse diretamente para eles, e eles colocaram essas notas fiscais [das firmas das mulheres]", disse Bonilho.


O advogado de Bonilho e da Sanko, Luiz Flávio Borges D'Urso, afirma que todos os repasses para as empresas de Youssef e outras tiveram relação com tratativas comerciais e comissões ligadas a produtos e serviços efetivamente fornecidos para as obras da refinaria. Segundo ele, a Sanko não subornou políticos nem funcionários.

OUTRO LADO

Os advogados dos executivos da Camargo Corrêa negam que eles tenham recebido comissões da empresa Sanko. As empresas das mulheres dos executivos foram pagas por serviços efetivamente prestados, afirmam. 


O criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado de Eduardo Leite, afirma que a firma Paiva Ribeiro Gerenciamento, Arquitetura e Paisagismo pertence à esposa e ao cunhado dele, pessoas que possuem qualificação técnica para fornecer serviços à Sanko. "A empresa existe há mais de dez anos, com larga folha de serviços prestados", diz o advogado. 


Mariz afirma que "houve uma remuneração pré combinada entre a Paiva Ribeiro e a Sanko, constante de contrato na área de arquitetura e design de interiores, e os serviços foram efetivamente realizados. Não há que se colocar dúvida em relação à legitimidade dessa prestação".

O advogado de Paulo Augusto Santos da Silva, Pierpaolo Bottini, diz que a mulher do executivo da Camargo é engenheira e a empresa dela elaborou um parecer técnico da área para a Sanko. 

"O valor foi pago pela Sanko em decorrência de serviços efetivamente prestados", afirma. "Pedimos acesso ao autos para conhecer o contexto das afirmações e temos convicção de que tudo será devidamente esclarecido." 


A Camargo Corrêa não fez comentários sobre o pagamento das comissões. Em nota, afirmou que "repudia vazamentos seletivos sem possibilidade de defesa". Afirmou também que "jamais" fez pagamento a Alberto Youssef ou suas empresas. 

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