Oba! Agora já sei o que fazer da próxima vez que der de cara com o Paulo
Salim Maluf trafegando alegremente ao volante do seu automóvel Bentley
pelas ruas do Jardim Europa, ritual que ele costuma empreender com
regularidade.
Ou quando cruzar novamente com José Roberto Arruda, o primeiro
governador condenado do Brasil. (Lembra dele, do mensalão do DEM, do
vídeo em que aparece manipulando grana de propina?)
Tempos atrás, fui comer uma feijoca de sábado num restaurante do meu
bairro e topei com o figura. Falei bem alto para todo mundo ouvir: "Ué, o
senhor não deveria estar preso?" Silêncio no recinto.
Virei-me para os outros comensais e cobrei: "Vocês vão ficar aí fingindo que este cidadão não está aqui?".
A mesma sensação de cumplicidade silenciosa eu já havia experimentado
décadas antes, ao ver uma fila de beija-mão postada à frente da mesa de
Luiz Antonio Fleury Filho, o governador paulista "criatura" de Orestes
Quércia, logo após malfeitos relacionados à sua administração virem à
tona.
Maluf, ainda e sempre ele, almoça no restaurante que bem entender nos
Jardins sem problemas. Ao contrário. Abraçam-no, pedem-lhe autógrafo.
Pois, que eu saiba, nenhum inquérito foi aberto até agora contra o
ex-ministro Guido Mantega. Se dependesse de mim, claro, por conta da
permissiva e temerária condução da política fiscal no primeiro mandato
do governo Dilma, ele já teria sido confinado a uma existência solitária
de infâmia e borrachudos em alguma ilhota da Guiana Francesa, tal e
qual um Papillon ítalo-tapuia.
Mas, que eu saiba, contrariamente aos outros supramencionados, que andam
a correr livres feito bororós de bunda de fora antes do desembarque dos
portugueses, Mantega não deve à Justiça.
Bem, no último dia 19, frequentadores da lanchonete do saguão do hospital Albert Einstein hostilizaram frontalmente
o ex-ministro e sua mulher, que estava no hospital tratando de um
câncer –mas nem que estivesse lá para comprar bombons na loja da
Kopenhagen do mezanino.
Por que? Ora, porque estamos passando dos limites. Aquela gente que ali
estava (há um vídeo mostrando o incidente) e que se pôs a gritar até
conseguir expulsá-lo do local deveria saber que liberdade de expressão e
ofensa/agressão/falta de respeito são coisas totalmente distintas.
Liberdade de expressão não significa ter o direito adquirido de abrir o
orifício de entuchar bolo para dizer qualquer sandice que dê na telha.
Falar sem censura é um direito adquirido. É como habilitação para
dirigir ou o direito de beber. Só pode ser usado por quem tem
maturidade.
E para obter bom senso, há primeiro de se receber educação, limites e aprender a respeitar o próximo.
O fato de o ex-ministro ter errado (na minha modestíssima opinião)
flagrantemente na condução da economia não confere a ninguém o direito
de agredi-lo dentro de um local que exige paz e harmonia para seu melhor
andamento.
Caso contrário, daqui a pouco vamos estar questionando se vale ou não o bloco de Carnaval e o rolezinho no saguão do hospital.
E essa conversa mole de que, se o ministro fosse coerente com sua
ideologia, sua mulher deveria estar se tratando no SUS, é moleza de
contra-argumentar.
Quer ver? Por que o Maluf pode ir ao restaurante dos Jardins sem ser
xingado e o Mantega não pode? Qual dos dois é procurado pela Interpol?
Percebe?
E por que será que os empresários e o mercado podem transacionar sem
culpas com os Bokassas e Idi Amins da vida, declarar amor eterno ao
Palocci, seduzir Saddam Hussein e depois matá-lo e assim por diante, mas
Lula não pode gostar de um bom Château Pétrus?