"A principal diferença de Eduardo Cunha para os adversários é que ele
entrega o que promete". A frase é de um dos mais próximos aliados do
novo presidente da Câmara para explicar a vitória do peemedebista contra
o Palácio do Planalto e seu candidato, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Parlamentares relatam que o ex-líder do PMDB na Câmara é o proverbial
"pau para toda obra": ajuda a intermediar desde a arrecadação de doações
para campanhas como a resolução de demandas dos colegas no Executivo.
Cunha é conhecido com um dos maiores especialistas em regimento da
Câmara. Para adversários, o conhecimento é "esperteza" para tirar
vantagens de projetos. Para aliados, "é ouro" para fazer valer seu ponto
de vista.
Pedro Ladeira - 1º.fev.2015/Folhapress | ||
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara já no primeiro turno de votação |
Em tramitações polêmicas, como no caso da MP (Medida Provisória) dos
Portos, em 2013, sua atuação rendeu acusações abertas de que recebia
dinheiro e promessa de financiamento eleitoral de setores empresariais
interessados, o que ele nega.
Uma coisa, entretanto, é consenso entre inimigos e simpatizantes: Cunha é
visto como trabalhador, está 24 horas por dia à disposição de
parlamentares pelo celular ou pessoalmente. Ele acorda cedo e às 8h já
está no seu segundo café da manhã. Geralmente, com políticos e aliados
para tratar da pauta na Câmara.
Costuma dizer que "política é memória".
Líder do PMDB nos últimos dois anos, a trajetória política de Cunha, 56,
remonta ao governo Collor, quando ocupou a presidência da Telerj, a
antiga estatal de telefonia do Rio.
Ele está no quarto mandato como deputado federal.
Começou a trabalhar aos 14 anos. Foi office-boy e corretor de seguros.
Formado em economia, virou operador do mercado financeiro.
Na política, foi só no governo de Dilma Rousseff que ganhou expressão nacional.
Uma ironia, já que Dilma o considera um adversário e no governo poucos
duvidam de que ele posa incentivar um processo de impeachment contra a
presidente –aceitar tal iniciativa é prerrogativa do presidente da
Câmara.
Cunha nega a suposição e diz que falar em impeachment equivale a "golpe".
Para o Planalto, Cunha tem sempre segundas intenções em projetos na
pauta da Câmara e é acusado de buscar cargos no Executivo para se
beneficiar pessoalmente.
Desde o segundo ano do primeiro mandato de Dilma, foi vetado na
distribuição de cargos de segundo escalão. Ganhou, inclusive, o apelido
de "malvado favorito" entre ministros da presidente.
É uma referência a uma animação cujo personagem principal, Gru, quer
tornar-se o maior vilão da história, mas acaba se redimindo.
Cunha não se abala com as críticas. Diz a amigos que o Planalto é
errático na articulação política porque a presidente não gosta do
assunto.
Dilma pediu diversas vezes ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP),
para enquadrar o deputado, mas os apelos foram em vão. Cunha gosta de
ser o porta-voz dos insatisfeitos com o Planalto no Legislativo.
Recusou uma proposta de rodízio com o PT na presidência da Casa ofertada
pelo governo na reta final da disputa para não perder o que chama de
"credibilidade" com os eleitores. E diz a amigos que a sua vitória é, na
verdade, "uma derrota do PT".
Há 15 anos, tornou-se evangélico. Durante a campanha para presidente,
pediu votos para, "se Deus quiser", estar em consonância com a sociedade
no comando da Casa.
E emendou, a 24 horas da disputa, em discurso para apoiadores da Frente
Parlamentar Agropecuária: "Orai e vigiai. Estamos orando, vamos vigiar
até o último momento".
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