segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Para colegas, novo presidente da Câmara é 'pau para toda obra'

"A principal diferença de Eduardo Cunha para os adversários é que ele entrega o que promete". A frase é de um dos mais próximos aliados do novo presidente da Câmara para explicar a vitória do peemedebista contra o Palácio do Planalto e seu candidato, Arlindo Chinaglia (PT-SP). 

Parlamentares relatam que o ex-líder do PMDB na Câmara é o proverbial "pau para toda obra": ajuda a intermediar desde a arrecadação de doações para campanhas como a resolução de demandas dos colegas no Executivo. 

Cunha é conhecido com um dos maiores especialistas em regimento da Câmara. Para adversários, o conhecimento é "esperteza" para tirar vantagens de projetos. Para aliados, "é ouro" para fazer valer seu ponto de vista. 


Pedro Ladeira - 1º.fev.2015/Folhapress
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara já no primeiro turno de votação
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara já no primeiro turno de votação

Em tramitações polêmicas, como no caso da MP (Medida Provisória) dos Portos, em 2013, sua atuação rendeu acusações abertas de que recebia dinheiro e promessa de financiamento eleitoral de setores empresariais interessados, o que ele nega. 

Uma coisa, entretanto, é consenso entre inimigos e simpatizantes: Cunha é visto como trabalhador, está 24 horas por dia à disposição de parlamentares pelo celular ou pessoalmente. Ele acorda cedo e às 8h já está no seu segundo café da manhã. Geralmente, com políticos e aliados para tratar da pauta na Câmara. 

Costuma dizer que "política é memória".


Líder do PMDB nos últimos dois anos, a trajetória política de Cunha, 56, remonta ao governo Collor, quando ocupou a presidência da Telerj, a antiga estatal de telefonia do Rio. 

Ele está no quarto mandato como deputado federal. 

Começou a trabalhar aos 14 anos. Foi office-boy e corretor de seguros. Formado em economia, virou operador do mercado financeiro. 

Na política, foi só no governo de Dilma Rousseff que ganhou expressão nacional. 

Uma ironia, já que Dilma o considera um adversário e no governo poucos duvidam de que ele posa incentivar um processo de impeachment contra a presidente –aceitar tal iniciativa é prerrogativa do presidente da Câmara. 

Cunha nega a suposição e diz que falar em impeachment equivale a "golpe". 

Para o Planalto, Cunha tem sempre segundas intenções em projetos na pauta da Câmara e é acusado de buscar cargos no Executivo para se beneficiar pessoalmente.

Desde o segundo ano do primeiro mandato de Dilma, foi vetado na distribuição de cargos de segundo escalão. Ganhou, inclusive, o apelido de "malvado favorito" entre ministros da presidente. 

É uma referência a uma animação cujo personagem principal, Gru, quer tornar-se o maior vilão da história, mas acaba se redimindo. 

Cunha não se abala com as críticas. Diz a amigos que o Planalto é errático na articulação política porque a presidente não gosta do assunto. 

Dilma pediu diversas vezes ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), para enquadrar o deputado, mas os apelos foram em vão. Cunha gosta de ser o porta-voz dos insatisfeitos com o Planalto no Legislativo. 

Recusou uma proposta de rodízio com o PT na presidência da Casa ofertada pelo governo na reta final da disputa para não perder o que chama de "credibilidade" com os eleitores. E diz a amigos que a sua vitória é, na verdade, "uma derrota do PT". 

Há 15 anos, tornou-se evangélico. Durante a campanha para presidente, pediu votos para, "se Deus quiser", estar em consonância com a sociedade no comando da Casa. 

E emendou, a 24 horas da disputa, em discurso para apoiadores da Frente Parlamentar Agropecuária: "Orai e vigiai. Estamos orando, vamos vigiar até o último momento".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POLÍTICA E ECONOMIA