Se a Petrobras ainda estivesse sob a ação ignorada e tranquila de
gatunos, a realidade dos últimos 11 meses seria assim: suas ações em
altas cotações na Bolsa, bafejadas pelo crescimento da produção a
despeito da queda de preço do petróleo, os corruptos embolsando seus
ganhos com a segurança de sempre, e bancos e corretoras festejando em
vez de derrubar os dirigentes da empresa. Ou seja, toda a desgraça
lançada sobre a Petrobras decorre de que a gatunagem foi constatada,
abriram-se inquéritos com numerosas prisões de corruptores e
corrompidos.
Era possível, anteontem, ouvir a notícia da reunião de Dilma Rousseff e
Graça Foster, para o afastamento da presidente da Petrobras, e logo a
notícia de que "a Petrobras bateu o recorde de produção em dezembro".
Que associação se poderia fazer entre os dois fatos tão íntimos entre
si, a não ser sua naturalidade brasileira?
Pior para quem ouviu tais notícias e no mesmo dia leu, do autor pago de
um parecer favorável a impeachment de Dilma, que a "insistência, no seu
primeiro e segundo mandatos, em manter a mesma diretoria que levou à
destruição da Petrobras" caracterizou improbidade. Essa Petrobras
"levada à destruição" conseguiu em 2014, portanto quando os diretores a
destruíam, o recorde da produção de derivados com 2,17 milhões de barris
de petróleo por dia. O sexto recorde anual seguido, sendo este último,
deduz-se, de produção fantasmagórica.
A "insistência" de Dilma, "no seu primeiro e segundo mandatos", em
"manter a mesma diretoria que levou à destruição da Petrobras" contém
importante revelação: a empresa tinha duas diretorias paralelas. Uma,
presidida por Graça Foster, substituiu a existente no governo Lula. A
outra, imperceptível a olhos comuns como os nossos, mas captada pela
visão de pareceristas bem-aventurados e ficcionistas consagrados.
Neste último caso se encontrou a também novidadeira informação, por um
dos nossos cronistas, de que "o maior acontecimento" do governo Dilma
"foi o rombo criminoso da Petrobras". Não creio (bem, só porque não sou
homem de fé) haver alguma ponta de intenção na constante falta de
clareza, quando citada uma gatunagem, sobre o período em que se deu. Nem
por isso se fica impedido de ver que o maior acontecimento do governo
Dilma deu-se no governo Lula. À primeira vista, só um escorregão
crônico, mas que põe Graça Foster, uma pessoa a ser respeitada, sob a
acusação de presidir "o rombo criminoso da Petrobras".
Não se sabia que o petróleo torna as pessoas sentimentais. Mas ontem se
teve a notícia de que a Petrobras recebeu o OTC-2015, o Distinguished
Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, "o mais
importante para operadoras off-shore". O prêmio foi em reconhecimento
ao "conjunto de tecnologias desenvolvidas para a produção na camada
pré-sal". Mas, percebe-se, foi só por nostalgia, para uma empresa que
deixou de existir, para a destruída Petrobras.
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha,
é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com
perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos
domingos, terças e quintas-feiras.
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POLÍTICA E ECONOMIA