Faz 20 anos que o sentimento de insegurança econômica não era tão grande, pelo menos nos registros do Datafolha.
Mais de 80% dos brasileiros acreditam que a inflação vai aumentar, inédito desde 1995. Mas inflações e riscos de descontrole de preços já houve muito maiores até neste século.
Para 62%, mais gente ficará sem trabalho, ansiedade que não era tão
disseminada desde 2001, quando o desemprego era duas vezes e meia maior
que o de agora.
De menos incerto, o que se passa é um choque de confiança forte e
súbito, o que já transparecia em pesquisas de ânimo do consumidor, que
anda na maior baixa em pelo menos uma década.
Esse desânimo misturado a medo diz mais sobre os dias que virão do que
sobre o estado atual da economia. A confiança em baixa vai ajudar a
afundar o PIB ainda mais.
No entanto, de onde veio tamanho mau humor, ainda maior que o dos dias
de exasperação entre junho de 2013 e a Copa de 2014? A análise de 20
anos do Datafolha mostra que nem sempre picos de insegurança econômica
estão relacionados à inflação do momento ou à piora aguda da economia
cotidiana.
Em 2013, a insegurança explodiu devido ao protesto político. No 2003 de
crescimento nulo, desemprego alto e inflação da comida na casa dos 20%,
havia grande confiança de que preços e desemprego baixariam.
O dilúvio de más notícias de janeiro deve ter parte no medo de agora,
ainda mais porque se seguiu a uma campanha eleitoral mentirosa, mais que
a de 1998 (pré-desvalorização do real), talvez comparável à de 1986.
Nesse ano, um plano anti-inflacionário popular, o Cruzado e seus preços
tabelados, foi mantido artificial e irresponsavelmente até a eleição.
Contados os votos, o plano, já falido, foi para o lixo; em 1987, o
Brasil quebraria. Foi nessa época que se difundiu a expressão
"estelionato eleitoral".
Para 60% dos brasileiros, diz o Datafolha, Dilma Rousseff disse mais
mentiras do que verdades na eleição. Entende-se. Negados na campanha,
vieram corte de gastos, alta de impostos, tarifaço etc.
ÁGUA E LUZ
O choque brutal de realidade de resto calhou de ocorrer no momento em
que caía a ficha da iminência dos racionamentos. O apagão de janeiro e a
notícia de que choveu ainda menos do que o esperado no mês passado
causou um sururu: despertou quem ainda dormia para o colapso da oferta
de água e luz.
Enfim, o nervosismo pode advir ainda do fato de que uma geração estreia
em uma crise duradoura. Uns 30 milhões de brasileiros viveram suas vidas
adultas quase inteiras em ambiente de economia mais estável e de
expectativas aumentadas de crescimento.
Nem de longe o ambiente de agora parece com o das crises recorrentes até
o início do século. Mas, para os novatos, o choque pode parecer pior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
POLÍTICA E ECONOMIA