quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Cerca 15% dos municípios concentram metade dos votos brancos/nulos


Na eleição presidencial mais competitiva desde a redemocratização, a escolha de quem vai governar o país estará, nos próximos dias, mais nas mãos dos eleitores indecisos do que entre aqueles que já se decidiram por Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB). Mas há também um grupo que pode influenciar o resultado final: aqueles que pretendem votar em branco ou anular, que hoje somam entre 4% e 6%, segundo os institutos de pesquisa. Mas onde estão esses brasileiros? Uma análise com o uso de um software de estatística espacial, ou seja, que leva em conta a distribuição geográfica dos votos no primeiro turno nos mais de 5,5 mil municípios, oferece não apenas pistas sobre esses potenciais eleitores, mas também uma mudança que aponta para algumas dificuldades que os candidatos terão para mobilizar esse contingente nesta reta final da campanha.

Há quatro anos, um conjunto de 1.146 cidades concentrou 17,9% dos votos brancos/nulos no primeiro turno da disputa presidencial. Esses municípios estavam distribuídos mais consistentemente em cidades dos estados do Nordeste. Este ano, porém, a mancha se moveu, atinge menos cidades (886) mas com um volume muito maior de brancos/nulos. A distribuição desses votos, concentrados agora nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, Natal e em outras cidades próximas do litoral na região Nordeste representou 48% dos brancos/nulos de todo país no primeiro turno. Em números absolutos, eles formam um contingente 5,3 milhões de pessoas que não encontraram motivos para depositar o voto em qualquer um dos candidatos a presidente no primeiro turno.

A alta proporção de brancos/nulos coincide, em boa parte dos casos, com áreas nas quais as manifestações de junho de 2013 foram mais intensas, caso especial do Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. No caso do Rio, a correlação encontrada entre os municípios é tão forte que a mancha de altas taxas de bancos/nulos tomou praticamente todo o estado. A sobreposição das áreas onde ocorreram os protestos e os votos brancos/nulos pode ser um indicativo da dificuldade que os candidatos a presidente poderão enfrentar para mobilizar esses eleitores. A dificuldade, contudo, não significa impossibilidade. Há chances de os brancos/nulos decidirem por um dos candidatos. Na eleição de 2010, por exemplo, o percentual de brancos/nulos no primeiro turno chegou a 8,6%, mas caiu para 6,6% na segunda etapa da disputa.
 
A técnica utilizada pelo Núcleo de Jornalismo de Dados do GLOBO para identificar as manchas dos brancos/nulos considera a seguinte relação. Se numa cidade houve altas taxas desses votos e em municípios vizinhos o comportamento foi semelhante, a análise passa a considerar o grau de correlação desses dados. Se ele for alto, segundo os critério estatísticos, as manchas são formadas, indicando  haver um comportamento comum dos eleitores numa área, independentemente dos limites geográficos dos municípios. Este ano, por exemplo, municípios da região Nordeste apresentaram queda dos percentuais, outros mantiveram-se estáveis, o que acabou impactando a formação das manchas. Isso não aconteceu nas regiões metropolitanas do Sul, Sudeste e parte do Nordeste. As taxas subiram fortemente e esse movimento foi acompanhado por municípios que fazem limite com outras cidades com igual comportamento.

Outro contingente de eleitores que intriga as campanhas nessa reta final é formada por aqueles que simplesmente não comparecem para votar. O Núcleo de Dados fez o mesmo teste estatístico com os números das abstenções. Os resultados não apresentaram correlações significativas, ou seja, a distribuição do mapa das abstenções apresentam quase que o mesmo comportamento da eleição de 2010, mais especificamente em municípios do interior do país ou em estados com grandes distâncias. Esses dados sugerem que, nesta eleição, as abstenções parecem ocorrer mais pelas razões já conhecidas, como dificuldade de deslocamento, cadastros desatualizados, idosos e jovens dispensados de votar. Mas, no caso das abstenções, um dado para tirar o sono dos coordenadores de campanha. Em 2010, o percentual subiu entre o primeiro e o segundo turno. Na segunda fase da disputa atingiu 21,5%, ante os 18% do primeiro turno.






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