petrolãoLuiz Carlos Murauskas/Folhapress |
|
Viatura da Polícia Federal chegou às 7h desta quarta-feira (27) na sede da Bancoop, em São Paulo |
Procuradores da Operação Lava Jato afirmaram nesta quarta-feira (27) que
todos os apartamentos do condomínio Solaris, em Guarujá (SP), são alvo
de investigação sobre um esquema de offshores criadas para enviar ao
exterior dinheiro desviado da Petrobras. Entre os imóveis sob
investigação está um tríplex da OAS que foi reservado ao ex-presidente
Lula.
Em seu despacho sobre a operação desta quarta, o juiz Sérgio Moro afirma
haver a suspeita de que a empreiteira OAS "teria utilizado o
empreendimento imobiliário no Guarujá para repasse disfarçado de propina
a agentes envolvidos no esquema criminoso da Petrobras".
Na operação, segundo o delegado Igor de Paula, além dos crimes de
sonegação fiscal e ocultação de patrimônio, "há indícios que alguns
esses imóveis foram utilizados para repasse de recursos, de propina, a
partir de contratos com a Petrobras".
Um dos apartamentos do condomínio sob investigação pertenceria à família
do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015.
"Estamos investigando todos os apartamentos. Nenhuma pessoa em
especial", disse o procurador Carlos Fernando Lima, que integra a
força-tarefa da Lava Jato. Questionado durante a entrevista coletiva, na
manhã desta quarta, se a Procuradoria tem elementos que apontem a
ligação de Lula com um dos tríplexes, ele disse que existem indícios e
notícias sobre isso. "Tudo está sob investigação", completou o
procurador.
"Nós investigamos fatos. Se houve um apartamento dele [Lula], que esteja
no seu nome ou que tenha negociado ou alguém da sua família, vamos
investigar, como todo mundo", disse Lima.
Horas antes, a Polícia Federal havia deflagrado
(27) a 22ª segunda fase da Lava Jato, intitulada "Triplo X", que apura
suspeitas de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro,
entre outros crimes.
Os procuradores disseram que chegaram ao condomínio, entre outras
razões, porque um dos imóveis era de propriedade da Murray, uma offshore
aberta pela Mossack Fonseca, empresa internacional com escritório em
São Paulo.
"Acreditamos que eram abertas contas no exterior, pela Mossack, para
esquema de lavagem de dinheiro", diz o procurador Lima, ao afirmar que a
empresa foi responsável por várias contas de pessoas investigadas na
Lava Jato, como Renato Duque e Pedro Barusco.
A operação de hoje apreendeu documentos na OAS e na Bancoop, todos
relativos ao condomínio Solaris. Foram presas três pessoas ligadas ao
escritório da Mossack Fonseca. Outras duas estavam no exterior e um
terceiro não foi localizado. Também houve buscas no escritório da
empresa.
O procurador disse que não é possível precisar, até o momento, quantos dos apartamentos ainda estão oficialmente ligados à OAS.
Em um diagrama apresentado pela Polícia Federal há a indicação de três
tríplexes relativos à OAS. Seriam eles os de número 164-B, cuja suspeita
é de estar ligado ao ex-presidente Lula, 162-B e 164-A. O tríplex 163-B
seria de propriedade da offshore sob suspeita, a Murray.
BANCOOP
O condomínio Solaris teve a construção iniciada pela Bancoop
(Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), que foi presidida
por Vaccari Neto. Em crise financeira, a Bancoop transferiu o
empreendimento para a empreiteira OAS, em 2009.
A OAS Empreendimentos, braço da empreiteira responsável pelas obras da Bancoop, também foi alvo da operação desta quarta.
De acordo com a PF, essa nova etapa da Lava Jato visa ocultar "o produto
dos crimes de corrupção, notadamente recursos oriundos de delitos
praticados no âmbito da Petrobras".
Foram cumpridos seis mandados de prisão temporária (válida por cinco
dias), dois de condução coercitiva e 15 de busca e apreensão. As
diligências ocorreram nas cidades de São Paulo, Santo André, São
Bernardo do Campo e Joaçaba (SC). Os presos serão levados para a
Superintendência da PF no Paraná.
A publicitária Nelci Warken, que já prestou serviços na área de
marketing para a Bancoop, foi presa. Ela é suspeita de ser uma das
coordenadoras dos negócios da Murray. Também são procurados parentes de
Warken e representantes da empresa que cuidou da abertura da offshore.
A PF apura se Warken usou a estrutura da Murray para ocultar patrimônio e lavar dinheiro em favor da cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Presa chega a sede da Polícia Federal na 22ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o Bancoop |
PROMOTORIA
Além da Lava Jato, a Promotoria de Justiça de São Paulo também apura os negócios da Bancoop.
O ex-presidente Lula é alvo de investigação sobre a legalidade da transferência de empreendimentos da cooperativa à OAS.
A Promotoria investiga se a empreiteira usou apartamentos do prédio para lavar dinheiro ou beneficiar pessoas indevidamente.
A OAS pagou por reformas
feitas em 2014 no tríplex reservado à família de Lula. As modificações
incluem a instalação de um elevador privativo. Em novembro, a Folha revelou que a mulher de Lula, Marisa Letícia, havia desistido de ficar com o imóvel.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem, o advogado Edward Carvalho, um dos defensores
da OAS, disse que ainda não teve acesso às razões da busca e criticou a
condução dos mandatos. "Bastaria ter solicitado os documentos, e não
fazer algo espalhafatoso assim", disse.
Em nota, a Bancooop afirmou que "por deliberação coletiva dos
respectivos cooperados, adotada em assembleia realizada em 27 de outubro
de 2009 e confirmada pela adesão individual de cada cooperado, o
empreendimento foi transferido à construtora OAS Empreendimentos". A
cooperativa diz que desde 2009 "não tem qualquer relação com o
empreendimento Mar Cantábrico, que, inclusive teve sua denominação
alterada para Solaris".
Em nota, o Instituto Lula afirmou que o ex-presidente e sua mulher,
Marisa Letícia, jamais ocultaram que ela possui cota de um
empreendimento em Guarujá adquirida da Bancoop e declarada à Receita
Federal.
"O capital investido nesta cota pode ser restituído ao comprador ou
usado como parte na aquisição de um imóvel no empreendimento. Nem Lula
nem dona Marisa têm relação direta ou indireta com a transferência dos
projetos da extinta Bancoop para empresas incorporadoras (que são
várias, e não apenas a OAS)", diz a nota.
O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que não há
nenhuma acusação contra o seu cliente nesta operação. "Ele [Vaccari]
teve cotas da Bancoop, pagas mensalmente, tudo dentro da lei, e quando
foi presidente da Bancoop ele reorganizou a administração da
cooperativa, o que possibilitou a entrega de milhares de unidades aos
cooperados."
CONDOMÍNIO SOB SUSPEITA
Fase da Lava Jato investiga empreendimento da OAS
CONDOMÍNIO SOB SUSPEITA
Fase da Lava Jato investiga empreendimento da OAS
Fase da Lava Jato investiga empreendimento da OAS
O CONDOMÍNIO
Condomínio Solaris, na praia de Astúrias, em Guarujá (SP)
Construção:
Começou a ser construído pela Bancoop, mas foi transferido à OAS em 2009, após a cooperativa entrar em crise
Apartamentos:
120 unidades a partir de 82,5 m2, com 8 tríplex. Valores, em preços de 2012, vão de R$ 475 mil a R$ 1,55 milhão
Condomínio Solaris, na praia de Astúrias, em Guarujá (SP)
Construção:
Começou a ser construído pela Bancoop, mas foi transferido à OAS em 2009, após a cooperativa entrar em crise
Apartamentos:
120 unidades a partir de 82,5 m2, com 8 tríplex. Valores, em preços de 2012, vão de R$ 475 mil a R$ 1,55 milhão
A BANCOOP
Fundada em 1996, é uma cooperativa cujos dirigentes elaboravam projetos de prédios habitacionais e dividiam os custos entre os cooperados. João Vaccari Neto, que atuou como diretor financeiro e presidente da cooperativa, foi denunciado por suspeita de desvio de verba da Bancoop ao PT
Fundada em 1996, é uma cooperativa cujos dirigentes elaboravam projetos de prédios habitacionais e dividiam os custos entre os cooperados. João Vaccari Neto, que atuou como diretor financeiro e presidente da cooperativa, foi denunciado por suspeita de desvio de verba da Bancoop ao PT
APARTAMENTOS INVESTIGADOS
OAS
6 apartamentos + 3 tríplex
Um tríplex foi reservado para Lula pela OAS
6 apartamentos + 3 tríplex
Um tríplex foi reservado para Lula pela OAS
Murray Holdings LCC
1 tríplex
Offshore aberta pelo Mossack Fonseca, escritório apontado como especialista em lavagem de dinheiro
1 tríplex
Offshore aberta pelo Mossack Fonseca, escritório apontado como especialista em lavagem de dinheiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário
POLÍTICA E ECONOMIA