quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Procuradoria suspeita de compra de obras de arte por Collor

petrolão

Pedro Ladeira - 26.ago.15/Folhapress

Brasilia, DF,Brasil 26.08.2015 Senador Fernando Collor durante a Sabatina do indicado a PGR Rodrigo Janot na CCJ do Senado. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress cod 4847
O senador Fernando Collor (PTB-AL), alvo de cinco inquéritos na Operação Lava Jato

A Procuradoria-Geral da República suspeita que o senador Fernando Collor (PTB-AL) lavou dinheiro por meio da aquisição de obras de arte milionárias. Os indícios surgiram durante investigações do esquema de corrupção da Petrobras e levaram o STF (Supremo Tribunal Federal) a autorizar busca e apreensão em endereços de um restaurador que teria intermediado a venda de quadros para o congressista. 


Após receberem uma denúncia anônima que detalhou um leiloeiro e galerias de arte com os quais Collor compraria obras com dinheiro em espécie, investigadores obtiveram notas fiscais que comprovam vendas de ao menos R$ 1,5 milhão ao senador. 

Na operação de busca e apreensão feita em julho do ano passado na Casa da Dinda, mansão que se tornou símbolo de seu período na Presidência (1990 a 1992), já haviam sido apreendidas obras de arte, além de carros de luxo como uma Ferrari. 

Uma delas foi um quadro do pintor modernista Di Cavalcanti, com a seguinte descrição no auto de apreensão: "óleo sobre tela contendo a figura de duas mulheres com paisagem urbana ao fundo. Uma das mulheres está sentada e a outra em seu colo, assinatura de Di Cavalcanti". 

Para a Procuradoria, a descrição é compatível com informações fornecidas na denúncia anônima, segundo a qual um quadro de Di Cavalcanti teria sido adquirido por R$ 2 milhões.
O pedido do procurador-geral Rodrigo Janot para a busca e apreensão nos endereços do restaurador Roberto Kazuto Mitsuuchi, em São Paulo, foi feito em dezembro. O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, o deferiu e a operação foi realizada em 15 de dezembro. 

Segundo a investigação, Mitsuuchi participaria de leilões de obras de arte representando Collor e manteria "contato direto" com o senador para dar os lances. Foram obtidas pelos investigadores trocas de mensagens eletrônicas entre eles, assim como um orçamento de um serviço de restauração de quadros. 

Outro elemento que, para a Procuradoria, reforça a ligação entre eles é uma notícia de que Mitsuuchi foi chamado por Collor para restaurar uma igreja no interior de Alagoas. 

"Diligências prévias indicam o possível envolvimento do nominado [Roberto Mitsuuchi] em crime de lavagem de dinheiro supostamente praticados pelo senador Fernando Collor por meio da aquisição de antiguidades e obras de arte", escreveu o ministro Teori na decisão que autorizou as buscas. 

O ministro também autorizou a quebra do sigilo de um e-mail usado por Collor referente ao período de janeiro de 2010 a abril de 2014. Para os investigadores, há indícios de que o endereço eletrônico era utilizado pelo congressista para tratar questões relativas a desvios em uma estatal. 

A Procuradoria já denunciou Collor ao Supremo pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados a desvios na Petrobras. 

OUTRO LADO
 
Em nota à Folha, a assessoria de imprensa do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) afirmou que o acervo de obras de arte do congressista "é constituído em parte por herança familiar, parte por doações de admiradores, e parte adquirida ao longo de vários anos em leilões de antiguidades e casas especializadas". 

Segundo o texto, as obras adquiridas pelo senador foram pagas com recursos próprios, "sendo absolutamente infundada a alegada suspeita de lavagem, especialmente porque todas as aquisições foram feitas com recursos de origem lícita". 

O congressista ainda reclama de vazamentos seletivos. "É vergonhoso –para dizer o mínimo– os constantes vazamentos seletivos de peças de processo aos quais a própria defesa jamais teve acesso, sistematicamente apresentados à opinião pública de forma parcial." 

A Folha tentou falar com o restaurador Roberto Mitsuuchi, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.



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