Marlene Bergamo/Folhapress | |
Michel Temer fala a empresários em evento na quinta-feira (3), em São Paulo |
06/09/2015 02h00
Há duas semanas, o grupo de parlamentares que encabeça as articulações
para a abertura de um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff
enviou um recado ao vice, Michel Temer (PMDB). Qualquer movimento só
poderia ser deflagrado após uma indicação clara do peemedebista de que
está disposto a assumir o governo.
Na avaliação desse grupo, Temer enviou o esperado sinal na quinta (3),
quando, em reunião com empresários em São Paulo, disse que a petista não teria condições de continuar no cargo até a conclusão do mandato em 2018 se continuasse com a popularidade na casa dos "7%, 8%".
O grupo pró-impeachment é liderado por dez congressistas que se reúnem
diariamente, muitas vezes fora do Congresso, em salas de hotéis e casas
dos deputados. Os encontros ocorrem com a ciência do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Integram o colegiado deputados com influência em sete partidos, PMDB,
PSDB, DEM, SD, PSB, PP e PR. Eles acreditam ter hoje 280 dos 342 votos
necessários para abrir um processo de impeachment e afastar Dilma.
A fala de Temer na semana passada estimulou o grupo anti-Dilma a agir
para remover obstáculos no caminho do peemedebista. Eles querem, por
exemplo, selar um acordo entre o vice e o comando da oposição, em nome
da união nacional. O principal alvo dessa articulação é o presidente do
PSDB, senador Aécio Neves (MG).
A aliados Aécio disse que não partirá dele o movimento para se aproximar
de Temer e que, se o vice-presidente tiver interesse em tratar do tema,
terá que procurá-lo.
Tudo tem sido tratado com discrição. Temer nega que esteja trabalhando
contra o governo e tem reagido publicamente sempre que suas declarações
são interpretadas como tentativas de se credenciar para assumir o poder.
IMPACTO
Apesar de terem tentado minimizar o movimento de Temer, ministros petistas mais próximos a Dilma também viram na fala do peemedebista um recado para o PMDB.
O receio é que isso apresse o desembarque do partido da base no
Congresso, o que liquidaria as chances de a petista aprovar projetos de
seu interesse ou de engavetar propostas que ameaçam o equilíbrio das
contas públicas.
Mas o Planalto tem dificuldades para reagir, pois foi a crescente
desconfiança sobre Temer que serviu de combustível para reaproximar o
vice de Eduardo Cunha. Por isso, acusá-lo publicamente de conspirar está
descartado.
Temer e Cunha passaram a almoçar juntos, como na última terça (1º), e a
fazer reuniões. É prerrogativa do presidente da Câmara dar o primeiro
passo para abertura de um processo de impeachment no Congresso ao
permitir que a Câmara analise o pedido.
Defensores do impeachment começaram a discutir há semanas uma estratégia
alternativa para dar início ao processo, em que Cunha recusaria um dos
pedidos recebidos pela Câmara e alguém recorreria diretamente ao
plenário para reverter a decisão.
Líderes da oposição desautorizaram a iniciativa, mas a ideia voltou à
tona na última semana, quando o jurista Hélio Bicudo, fundador do PT,
enviou à Câmara um pedido de impeachment
de Dilma. A trajetória do jurista, que rompeu com o PT na crise do
mensalão, daria legitimidade à estratégia, avaliam os defensores do
impeachment.
Eles querem que Bicudo refaça o pedido para incorporar denúncias de que o PT recebeu dinheiro desviado pelo esquema de corrupção descoberto na Petrobras. O pedido de Bicudo cita as chamadas pedaladas fiscais, manobras feitas no governo Dilma e consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União.
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