segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Inquérito sobre dois ministros reforça pressão por reforma no Planalto

 A abertura de inquéritos contra dois dos principais assessores da presidente Dilma Rousseff reforçou a pressão por reformas no Planalto como única saída para superar a crise política, segundo ministros ouvidos pela Folha.

O novo motivo de preocupação é a abertura de inquéritos na Lava Jato para investigar os ministros Edinho Silva (Secretaria de Comunicação), tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, e Aloizio Mercadante (Casa Civil), como noticiou o "jornal Nacional" de sábado (5) e o jornal "O Estado de S. Paulo".

Ambos foram apontados na delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiários de recursos de corrupção na Petrobras. Por isso, a Procuradoria pediu ao ministro do Supremo Teori Zavascki a abertura dos inquéritos. O objetivo é aprofundar as investigações.


Pessoa disse em sua delação que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma em 2014 após ter sido coagido por Edinho, que teria pedido um valor maior. Em julho, a revista "Veja" reproduziu um trecho da delação de Pessoa. Segundo a publicação, o empreiteiro disse ter ouvido o seguinte de Edinho: "Você tem obras na Petrobras e tem aditivos, não pode só contribuir com isso. Tem que contribuir com mais. Eu estou precisando".

Sobre Mercadante, o delator citou ter doado recursos ilícitos à sua campanha ao governo paulista em 2010. Teriam sido R$ 750 mil no total, sendo R$ 250 mil "por fora". UTC e Constran, firma do grupo de Pessoa, constam como doadoras de R$ 500 mil.

Os ministros negam as acusações.

Editoria de Arte

A investigação sobre eles atinge o sistema nervoso do Planalto. Mercadante é o braço direito de Dilma; Edinho atua como bombeiro da crise, além de fazer uma ponte entre ela e o ex-presidente Lula.

Integrantes da cúpula do governo passaram a afirmar, nos bastidores, que a situação política está se deteriorando rapidamente e que só com mudanças drásticas será possível vencer a crise.

Para auxiliares presidenciais, só uma profunda reforma ministerial e administrativa, com corte de cargos em grande escala, recuperaria o governo. "Tira todo mundo, recomeça, não sei. Mas faz alguma coisa nos próximos dez dias", disse um ministro.

Em agosto, o Planalto anunciou a redução de dez ministérios e o fim de parte dos cargos comissionados, mas até agora nada ocorreu.

Auxiliares até agora relativamente otimistas quanto ao fim da instabilidade começam a enxergar o "cerco" se fechando. Enquanto obstáculos se acumulam, Dilma isolou-se nas últimas semanas. Reúne bem menos o núcleo político, despachando cada vez mais com um pequeno grupo. O único sempre presente é Mercadante.

Mas é também do ministro a cabeça que setores do PMDB, partido do vice, Michel Temer, pedem como uma das formas de resolver a crise.

A relação de Mercadante com Temer e com os líderes dos partidos aliados nunca esteve tão ruim. Até Lula já insistiu com Dilma pela troca por um ministro com mais "sensibilidade política".

Para alguns, os fatos das últimas duas semanas foram tão intensos (risco de queda do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apresentação e recuo da CPMF, empresários dando um espécie de ultimato ao governo e agora os inquéritos) que parece ter se passado seis meses. Ministros avaliam que o episódio da CPMF acelerou o processo de decomposição de apoio ao Planalto, afastando empresários e desagregando a equipe econômica. Os inquéritos, agora, elevaram o grau de pessimismo.

DELAÇÃO

Embora as investigações até o momento tenham apontado o recebimento de recursos do esquema de corrupção na Petrobras pelo PT, que resultaram na prisão do ex-tesoureiro doa sigla João Vaccari, não havia até agora nenhuma investigação formal que pudesse atingir a campanha de Dilma em 2014.

Teori também determinou a abertura de inquérito sobre o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). O empreiteiro havia citado Ferreira dizendo ter lhe repassado recursos ilícitos, o que o senador nega.

Como a maioria dos depoimentos de Pessoa ainda são sigilosos, não há detalhes sobre o contexto da citação ao tucano. Não está claro, por exemplo, se os recursos são provenientes do esquema de corrupção da Petrobras.

OUTRO LADO

O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, tesoureiro da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014, afirmou neste domingo (6) que agiu "dentro da legalidade" à frente da arrecadação de recursos para a disputa.

Ele ressaltou que as contas da campanha da petista foram aprovadas por unanimidade pelos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no fim do ano passado.

"Sou plenamente favorável que se apure todos os fatos e que todas as dúvidas sejam esclarecidas", disse Edinho, por meio de uma nota a partir da pasta.

"Tenho a tranquilidade de quem agiu como coordenador financeiro da campanha presidencial de 2014 dentro da legalidade, as contas da campanha foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral."

O ministro chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou, também em nota, que a tese do empreiteiro e delator Ricardo Pessoa sobre as doações à sua campanha como candidato do PT ao governo de São Paulo, em 2010, é "absolutamente insustentável".

Segundo o ministro, Ricardo Pessoa doou, no total, R$ 500 mil ao seu comitê eleitoral, "devidamente comprovados em prestação de contas à Justiça Eleitoral".

Na prestação de contas, a campanha de Mercadante declarou ao TSE uma doação de R$ 250 mil da UTC, de Ricardo Pessoa, e outros R$ 250 mil da Constran Construções, do mesmo grupo de Pessoa.

Segundo uma planilha de pagamentos supostamente produzida por Pessoa, divulgada pela revista "Veja" no começo de julho, Mercadante teria recebido, além desses R$ 500 mil declarados da UTC e da Constran, outros R$ 250 mil "por fora", valor que na planilha consta como "pedido". Com isso, o total de doações de Pessoa a Mercadante chegaria a R$ 750 mil.

Mercadante disse que se reuniu apenas uma vez com Ricardo Pessoa, por solicitação do empreiteiro. "Na oportunidade, não era ministro de Estado, mas senador e pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo, em 2010. N?o há, portanto, qualquer relaç?o com as apuraç?es de fraude na Petrobrás", disse.

TUCANO

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) afirmou, também em nota, que "é simplesmente absurda a mera suposição de que eu, oposicionista notório e intransigente aos governos do PT, pudesse favorecer negócios da Petrobras".

Ferreira disse que investigação da Procuradoria-Geral da República sobre seu nome é um "desvio do verdadeiro foco da Operação Lava Jato".

Ele divulgou ainda uma nota feita pelo senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o defendendo.

"O PSDB recebeu com surpresa a abertura de inquérito sobre as contas da campanha de 2010 do senador Aloysio Nunes, um dos mais combativos líderes da oposição no país", diz a nota de Aécio.

"O PSDB, apesar de não temer qualquer tipo de investigação, chama a atenção para o risco dessas investigações desviarem-se do seu foco principal, que é a responsabilização daqueles que, no PT e partidos aliados, montaram um complexo esquema de corrupção que assaltou os cofres da Petrobras e financiou a manutenção desse grupo no poder."


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