segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Em nova fase da Operação Zelotes, PF mira filho de Lula

João Sal - 5.mai.08/Folhapress
Luís Cláudio Lula da Silva, filho do presidente da República e assistente de preparação do Palmeiras, na festa de premiação dos melhores do Campeonato Paulista, no HSBC Brasil, em São Paulo (SP). (São Paulo (SP), 05.05.2008. Foto de João Sal/Folhapress)
Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, em foto de 2008


A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira (26) mais uma fase da Operação Zelotes, que investiga um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), vinculado ao Ministério da Fazenda. 



A PF cumpre mandado de busca e apreensão na empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, na rua Padre João Manuel, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. 


Segundo funcionários do prédio onde Luis Cláudio Lula da Silva tem escritório a operação aconteceu por volta das 6h. 


Agentes, que chegaram num carro da Receita Federal e em outros dois PF, foram até o quinto andar do edifício, onde fica a empresa. Vizinhos e funcionários do prédio relataram que os policiais permaneceram no local por cerca de duas horas e saíram com várias pastas carregadas de documentos. 


Um funcionário disse que Luis Cláudio veio hoje por volta das 9h e ficou no local por cerca de uma hora. 


O irmão mais velho de Luis Cláudio, Fábio luis Lula da Silva –o Lulinha–, chegou a ter um escritório no mesmo prédio, mas se mudou no ano passado. 


Além da LFT, Luís Cláudio é proprietário da Touchdown Promoções e Eventos Esportivos, que administra a liga de futebol americano Torneio Touchdown, que conta com 16 equipes. 


Segundo Mauro Marcondes, sócio do escritório, disse à Folha no início do mês, um dos serviços prestados se referia a um projeto de um ônibus que circularia pelo Brasil durante a Copa do Mundo divulgando uma patrocinadora do mundial. 


De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", o escritório foi contratado pela Caoa Hyundai para obter a extensão da desoneração fiscal por meio de uma medida provisória que teria sido comprada por lobistas durante o governo Lula. 


Escritórios de advocacia de São Paulo entraram em alerta máximo na manhã desta segunda ao receberem a informação sobre a operação de busca e apreensão da PF que tem o filho do ex-presidente como um dos alvos. Advogados do filho de Lula porém disseram que não haviam sido formalmente informados sobre a operação. 


Há ainda mandado de prisão contra um sócio do escritório de advocacia Marcondes e Mautoni, investigado pela PF e pela CPI do Carf, que também teve relações com Luis Cláudio. Em 2014, a M&M contratou a LFT Marketing Esportivo por R$ 2,4 milhões. A PF também faz buscas em endereços ligados a Lytha Spindola, que foi secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior, auditora da Receita Federal e secretária de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento. 


Ao todo, estão sendo cumpridos 33 mandados judiciais –seis de prisão preventiva, 18 de busca e apreensão e nove de condução coercitiva em Brasília, São Paulo, no Piauí e no Maranhão. 


A Folha apurou que entre os presos está Alexandre Paes dos Santos, apontado como lobista que intermediava contatos entre empresas e conselheiros do Carf, e José Ricardo da Silva, sócio da empresa SGR, também suspeito de ser um dos atravessadores do esquema. 


Os policiais fazem busca e apreensão também na casa de Fernando Cesar Mesquita, ex-chefe de Comunicação Social do Senado. 


A PF também faz buscas em endereços ligados a Lytha Spindola, que foi secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior, auditora da Receita Federal e secretária de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento. 


A etapa desta segunda mira um grupo de empresas que, além de tentarem interferir nos julgamentos do conselho, atuavam negociando incentivos fiscais para o setor automotivo. 


A investigação indica suspeitas de tráfico de influência, extorsão, e corrupção de agentes públicos, com o objetivo de aprovar alterações na legislação benéficas a essas empresas.

 
ESQUEMA


A primeira etapa da operação foi deflagrada em março e desarticulou um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda e responsável por julgar recursos de multas aplicadas pela Receita Federal. 


Em troca de suborno, conselheiros votavam em favor da redução e, em alguns casos, do perdão das multas das empresas que os corrompiam. 


A operação investiga processos que somam R$ 19 bilhões. Segundo a Polícia Federal, esse é um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos. Suspeita-se que três quadrilhas operavam dentro do colegiado, causando um prejuízo de pelo menos R$ 6 bilhões aos cofres públicos. 


O Carf é um tribunal administrativo formado por representantes da Fazenda e dos contribuintes (empresas). Normalmente, são julgados pelo conselho empresas autuadas por escolherem estratégias tributárias que, segundo a fiscalização, estão em desacordo com a lei.

De acordo com os investigadores, formados por conselheiros, ex-conselheiros e servidores públicos, as quadrilhas buscavam anular ou atenuar pagamentos cobrados pela Receita de empresas que cometeram infrações tributárias, e que eram discutidos no conselho. 


As investigações começaram em 2013 e alcançam processos de até 2005. Elas indicam que os grupos usavam o acesso privilegiado a informações para identificar "clientes", contatados por meio de atravessadores, na maioria das vezes escritórios de advocacia e contabilidade. 


A operação focou em 70 processos "suspeitos de terem sofrido manipulação", que somavam R$ 19 bilhões em "créditos tributários" –valores devidos ao Fisco. A PF diz que "já foram, efetivamente, identificados prejuízos de quase R$ 6 bilhões". 


A Operação Zelotes ocorre em trabalho conjunto da Polícia Federal, Receita Federal e Procuradoria da República do Distrito Federal. 





 

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