Pedro Ladeira/Folhapress | |
Maquete do caça Saab Gripen em exposição no gramado da Esplanada dos Ministérios |
01/02/2016 02h00
No trabalho de lobby para vender 36 caças modelo Gripen da empresa sueca Saab ao governo federal, Mauro Marcondes Machado, 79, um dos presos pela Operação Zelotes, usou como argumento a promessa de que os suecos investiriam, em contrapartida, US$ 200 milhões em São Bernardo do Campo (SP), berço político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A promessa consta da minuta de carta, datada de agosto de 2012, apreendida pela PF em poder de Marcondes e tendo Lula como suposto destinatário –o ex-presidente negou, em depoimento à PF, ter recebido a comunicação.
Alguns dos requisitos do governo brasileiro para a escolha da empresa fornecedora dos caças eram a transferência de tecnologia e investimentos em território brasileiro. Além dos suecos, disputaram a fase final do processo uma empresa norte-americana, a Boeing, e outra francesa, a Dassault.
A Saab de fato foi a escolhida pelo governo, em outubro de 2014, na gestão de Dilma Rousseff. O negócio é estimado em US$ 5,4 bilhões.
Em outro papel apreendido, há o registro de uma tentativa de reunião com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT-SP), para tratar do "centro de desenvolvimento de tecnologia da Saab".
Na carta que teria Lula como destinatário, Marcondes diz esperar que o ex-presidente compartilhe "nosso entusiasmo com o projeto Gripen NG". Marcondes pede que Lula estipule uma data para "conversar pessoalmente, caso considere viável".
Também solicita ao ex-presidente que, como "não tem a mesma liberdade com a presidente Dilma Rousseff", que a carta seja encaminhada "a quem considerar melhor".
NOVA UNIDADE
Em outubro passado, a empresa formada da união da Saab com uma brasileira confirmou que deverá abrir em São Bernardo, ainda no primeiro semestre deste ano, uma unidade relacionada à produção dos caças, com expectativa de contratação de 1.300 funcionários.
No mesmo inquérito derivado da Zelotes, a PF apreendeu outra minuta de carta, na qual Marcondes afirma ter "ligação" com Lula, conforme revelou "O Estado de S. Paulo". A Folha teve acesso ao documento, que não é datado e seria dirigido ao ex-presidente da Scania na América Latina, Sven Antonsson. O papel expressa o esforço de Marcondes para manter negócios com a Scania.
"(...)Tenho convicção que eu posso ajudar muito a empresa e o setor, em função da minha ligação com o Presidente da República, vários ministros de Estados e as instituições ligadas à indústria", escreveu Marcondes. Não há confirmação de que a carta tenha sido recebida pelo executivo.
OUTRO LADO
Em nota neste domingo (31), a assessoria do Instituto Lula informou que o ex-presidente "já respondeu tais questões", em depoimento à PF, acerca da minuta de carta elaborada pelo lobista Mauro Marcondes. Segundo o instituto, "não há porque [por que] comentar notícias requentadas".
Em depoimento à PF no último dia 6, Lula disse que "nunca" recebeu a carta escrita por Marcondes.
Indagado pela PF no último dia 7 sobre a minuta da carta, o lobista Mauro Marcondes exerceu o direito de permanecer em silêncio. Em entrevista à Folha em 2014, o prefeito Luiz Marinho confirmou ter atuado em benefício da Saab para obter investimentos no município.
A Folha não conseguiu localizar a assessorias da Saab e da Scania neste domingo.
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