Preocupado com os cabelos cada vez mais rarefeitos e a perspectiva de se
tornar careca? Ainda não dá para dizer que seus problemas acabaram, mas
ao menos há um culpado mais claro para a jornada rumo à calvície: as
células-tronco.
Para ser mais específico, estamos falando das células-tronco dos
folículos capilares, os locais do couro cabeludo (e da pele, de modo
geral) onde os fios de cabelo são constantemente "cultivados" pelo
organismo. Pesquisadores liderados pela médica japonesa Emi Nishimura,
da Universidade Médica e Odontológica de Tóquio, descobriram como o
envelhecimento progressivo dessas células faz com que os cabelos sumam.
De quebra, identificaram uma molécula que parece proteger tais células e
evitar a perda capilar –por enquanto, apenas em camundongos, embora já
haja indícios de que o mesmo processo ocorre em seres humanos.
Com tantos tratamentos para a calvície (alguns razoavelmente úteis,
outros pura picaretagem) por aí, seria de imaginar que os cientistas já
conhecessem em detalhes as origens da queda de cabelo, mas o fato é que
as raízes do processo ainda têm mistérios.
Emi e seus colegas resolveram investigar o problema a partir de seus
componentes mais básicos, como parte do processo natural de
envelhecimento do organismo.
Daí a importância das células-tronco, conhecidas por duas propriedades
básicas: elas se autorrenovam, produzindo mais células-tronco, e dão
origem a outros tipos de células em estado maduro.
Ocorre que, com o passar do tempo, as células-tronco dos folículos
capilares (apelidadas com a sigla inglesa HFSCs), em muitos casos, não
conseguem mais se renovar nem dar origem a novos fios. Com isso, os fios
que sobram ficam mais finos e os folículos antigos até desaparecem.
Comparando as HFSCs e os folículos de camundongos idosos e jovens, os
pesquisadores conseguiram marcar as células-tronco com um corante verde
fluorescente, que lhes permitiu acompanhar todo o ciclo de vida delas.
O que acontece é que, com o passar do tempo, as HFSCs perdem sua
versatilidade, que lhes permitia dar origem a toda a estrutura do
folículo capilar, e migram rumo à parte externa da pele, produzindo
queratina e morrendo.
SUICÍDIO CELULAR
O próximo passo foi tentar entender por que as HFSCs acabavam se
"suicidando" na fase final de seu ciclo de vida. Novas análises
revelaram que esse processo era detonado pelo acúmulo de danos ao DNA
dessas células, algo que surge quando elas se multiplicam muitas vezes,
mas que também pode ser intensificado por fatores como doenças
genéticas.
Nesses casos, uma espécie de "controle de qualidade" do organismo parece levar ao sacrifício das HFSCs.
Mais especificamente, esse processo leva à destruição de uma proteína
codificada pelo gene COL17A1, o colágeno tipo 17, que parece ser crucial
para a capacidade de autorrenovação das células-tronco capilares. Além
de identificar a destruição do colágeno tipo 17 em camundongos, a equipe
de Emi verificou o mesmo no couro cabeludo de humanos idosos.
Além disso, camundongos transgênicos cujo organismo produz um suprimento
extra dessa substância mostraram uma perda capilar bem menor.
O leitor com poucos cabelos não necessariamente ficará desamparado
enquanto as pesquisas sobre calvície caminham. Os testes realizados com
as HFSCs podem ajudar na elaboração de uma estratégia antienvelhecimento
do cabelo, que agiria preservando o colágeno tipo 17, que, por sua vez,
manteria as células tronco no lugar, deixando os fios fortes e
duradouros.
A mesma estratégia pode ajudar em outras doenças associadas ao envelhecimento, como algumas demências.
O desafio agora é verificar se uma abordagem desse tipo seria segura e
eficaz em seres humanos. Os resultados estão na revista "Science".
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