segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Petrolão repetiu esquema de compra de apoio parlamentar, diz investigação

Petrolão
Igo Estrela/ObritoNews/Fato Online

O ex-ministro José Dirceu é preso pela PF em Brasília, durante nova fase da Operação Lava Jato
O ex-ministro José Dirceu é preso pela PF em Brasília, durante nova fase da Operação Lava Jato
03/08/2015 11h35
O procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, afirma que o esquema de corrupção na Petrobras utilizou o mesmo procedimento do mensalão: a compra de parlamentares para formação de apoio ao governo.



Segundo os investigadores, o ex-ministro José Dirceu, preso nesta segunda-feira (3) em nova fase da Lava Jato, foi um dos responsáveis por criar e comandar o esquema na estatal, ainda quando esteve à frente da Casa Civil, durante o primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. 
Além da compra de apoio parlamentar, diz Lima, no petrolão o ex-ministro também foi beneficiado de maneira pessoal, com recebimento de propina e outros pagamentos, como relacionados a imóveis.

Lima justificou a prisão de Dirceu –que já estava cumprindo pena em prisão domiciliar em razão de sua condenação no mensalão– afirmando que ele continuou recebendo valores oriundos da corrupção na Petrobras durante as investigações do mensalão e mesmo após ser preso após o julgamento daquela ação.

"Não temos porque crer que, agora, em prisão domiciliar, ele deixaria de receber [do esquema na Petrobras]. Isso inclusive atenta contra a ordem pública", disse.

Os investidores afirmam que o lobista Fernando Moura, também preso nesta segunda, foi quem indicou Renato Duque para Dirceu, que era responsável pelas nomeações no primeiro governo Lula.

"Dirceu era aquele que tinha responsabilidade de indicar nomes. Ele aceitou a indicação de Duque para a diretoria de Serviços na Petrobras, e essa diretoria começou um trabalho de cooptação de empreiteiras, dando início ao esquema de corrupção na Petrobras", disse Lima.

Segundo o procurador, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu e sócio dele na JD Consultoria –outro que foi preso, assim como Roberto Marques, ex-assessor do petista– terá que explicar a ida às empresas envolvidas na Lava Jato enquanto o ex-ministro estava preso.

JD ASSESSORIA

Dirceu virou alvo dos procuradores da Operação Lava Jato porque várias empreiteiras sob investigação fizeram pagamentos à empresa de consultoria que ele abriu depois de deixar o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, no auge do escândalo do mensalão.

O ex-ministro faturou como consultor R$ 39 milhões entre 2006 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu –o que ele nega– e atualmente preso em Curitiba.

Os procuradores desconfiam que alguns desses pagamentos eram propina para facilitar negócios das empreiteiras com a Petrobras. Dirceu diz que sua empresa de consultoria prestou serviços, ajudando seus clientes a prospectar negócios e resolver problemas no exterior.
O ex-ministro foi citado pelo ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo durante depoimento dele à Justiça Federal do Paraná. Camargo afirmou que entregou R$ 4 milhões em dinheiro vivo a Dirceu a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, presos em Curitiba (PR).


 
Editoria de Arte/Folhapress



 
Dois dos antigos clientes de Dirceu, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, e o lobista Milton Pascowitch, fizeram acordo de delação premiada para colaborar com as investigações e associaram alguns dos pagamentos à propina paga ao PT para garantir seus contratos com a Petrobras. 

Segundo eles, esses pagamentos foram feitos sem que qualquer serviço fosse prestado, por causa da influência de Dirceu no PT, e com a concordância do ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, que também está preso em Curitiba e é apontado como principal operador do PT no esquema de corrupção.

Pessoa disse aos procuradores que contratou Dirceu para prospectar negócios no Peru e na Espanha, mas afirmou que depois fez aditivos ao contrato original sem que houvessem novos serviços a serem prestados, apenas porque Dirceu precisava de dinheiro para despesas pessoais.

A UTC pagou à consultoria de Dirceu R$ 2,3 milhões, entre 2012 e 2013. Parte do dinheiro foi paga quando Dirceu estava preso no presídio da Papuda, em Brasília, cumprindo pena pela condenação no julgamento do mensalão.

O lobista Pascowitch, que ajudou a aproximar a empreiteira Engevix do PT e abrir portas para a empresa na Petrobras, disse aos procuradores que Dirceu foi uma espécie de "padrinho" dos interesses da empreiteira na estatal e fazia pedidos "insistentes" de dinheiro. 

Entre 2008 e 2011, a Engevix pagou R$ 1,1 milhão à consultoria de Dirceu. Em 2011 e 2012, a Jamp, de Pascowitch, pagou mais R$ 1,5 milhão, período em que Dirceu enfrentava o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.

Pela versão do delator, Dirceu chegou a prospectar alguns negócios para a Engevix. Mas continuou a receber repasses mesmo quando não havia mais justificativa concreta para as cobranças.

ADVOGADO NEGA

O advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, negou que ele tenha recebido propina e disse que o delator não falou a verdade. O depoimento de Camargo complicou a situação do ex-ministro, que é alvo de um inquérito da Lava Jato por causa dos pagamentos que recebeu de empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras.

Camargo colabora com as investigações sobre corrupção na Petrobras desde dezembro do ano passado e já prestou vários depoimentos às autoridades, mas esta foi a primeira vez em que falou no assunto.

MENSALÃO
Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão no processo do mensalão, por corrupção ativa, José Dirceu ficou 11 meses e 20 dias na cadeia. Hoje cumpre pena no regime aberto.



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