terça-feira, 4 de agosto de 2015

Dirceu pediu que filha pequena não o visse preso

Petrolão

 Nos últimos tempos, o ex-ministro José Dirceu, 69, resignava-se com frequência. "Se eu for preso de novo, não saio mais", contava a amigos e políticos que o visitavam em sua residência em Brasília.

"Deixarei de ser réu primário", explicava, temendo uma regressão da pena cumprida em casa desde o fim de 2014.

Quando a Polícia Federal executou nesta segunda (3) o mandado de prisão do ex-ministro forte de Lula, Dirceu trocou de roupa e tomou café, o último antes do cárcere. Agradeceu ainda ter podido tirar de casa sua filha de 4 anos, Maria Antônia, para que não o visse sendo preso.

Nos cerca de 12 meses em que Dirceu esteve detido depois da condenação no mensalão, Simone Tristão Pereira, a mãe da criança, justificava a ausência do pai alegando uma longa viagem. Foi a pedido da mulher que, durante o período na Papuda, José Dirceu se ajoelhou e rezou para Nossa Senhora.

No caminho à carceragem, Dirceu comentou com o delegado Luciano Flores de Lima que já esperava a prisão e que "todos os dias havia jornalistas" na porta da casa dele.

"Estão tentando me varrer para a Lava Jato", dizia, depois de deixar o regime semiaberto e de ter sido citado por delatores do esquema de propina.

Prisões da Lava Jato










 
A todos que o visitavam ao longo do último semestre –foram muitos os políticos e até ministros do governo Dilma– ele insistia ter como provar suas consultorias. E afirmava não ter mais dinheiro. Mas Dirceu jamais negou a informação de ter recebido R$ 39 milhões nos tempos de consultor, entre 2006 e 2013.

PLANOS

A versão de que possui poucos recursos contrasta com o teor de colaborações premiadas. Segundo delatores, ele teve despesas pagas por empresários acusados de envolvimento no esquema.

Na segunda, já sob custódia da polícia pela terceira vez –a primeira ocorreu no período da ditadura–, Dirceu transpareceu algum abatimento, mas estava tranquilo. Passou a tarde na cela lendo um livro que levara consigo.

Nas últimas semanas, gastava boas horas do dia assistindo a desenhos animados ao lado de Maria Antônia. Marcara um almoço de família para comemorar o Dia dos Pais, no próximo domingo.

Fazia planos de estudar inglês fora do Brasil assim que fosse liberado pela Justiça. Calculava uns três meses de imersão, mais ou menos. Também falava em se casar com Simone e admitia até uma cerimônia religiosa.

O relato de amigos e aliados que conversaram com ele dias atrás indica um Dirceu fragilizado emocionalmente e fisicamente –diferente do estereótipo de homem forte do PT–, mas conformado.

Quem o conhece não aposta na hipótese de assinar uma delação premiada. Não combina com ele, afirmam. "Dirceu tinha vontade de ser redescoberto depois do mensalão, mas agora a vontade dele era ser esquecido", resumiu um correligionário, ouvido sob condição de anonimato.

HÁBITOS

O ex-ministro acordava cedo para ler jornais, blogs e sites jornalísticos, e nunca perdeu o hábito de palpitar sobre política. Há alguns meses, exortava aliados do partido a reagir às denúncias da Operação Lava Jato. "Ou será a pá de cal no PT", dizia.

Apesar da política, sua maior preocupação, conforme relatos, era com o futuro da filha pequena. Receava ficar muito tempo privado do convívio com Maria Antônia. Ela fará 5 anos em setembro.

Chamava a atenção dos amigos a postura "totalmente entregue", diferente de quando ficou detido na Papuda, manifestava se sentir um preso político e planejava reconstruir a vida pública.

Desde que a Lava Jato começou a assombrá-lo, Dirceu passou a falar menos sobre seu principal objetivo nos últimos anos: pedir revisão criminal do julgamento do mensalão. A hipótese foi perdendo fôlego, assim como o próprio Dirceu, hoje mais magro e com problemas de saúde –ele toma remédio controlado para pressão alta.


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