Igor Gadelha - O Estado de S.Paulo
05 Junho 2016 | 08h 57 - Atualizado: 05 Junho 2016 | 09h 12
Crise. Menção à presidente afastada em delação de Marcelo Odebrecht faz líder do governo no Senado pedir a inclusão das informações no processo de impeachment da petista
BRASÍLIA - O conteúdo inicial da delação premiada
do executivo Marcelo Odebrecht causou impacto na ação do impeachment, em
trâmite final no Senado, e deverá fortalecer a base governista na
tentativa de acelerar o desfecho do processo. As informações prestadas
pelo empreiteiro à Operação Lava Jato envolvem diretamente a presidente afastada Dilma Rousseff.
A
ação de afastamento tem por base as pedaladas fiscais e ainda precisa
ser votada novamente no Senado (mais informações no placar do
impeachment na pág. 7). Porém, a própria defesa de Dilma tentou incluir
semana passada no processo elementos da Operação Lava Jato, que apura
desvios na Petrobrás. A petista buscava ganhar tempo, enquanto a base
governista no Senado quer acelerar o desfecho desta etapa final do
trâmite.
Até anteontem, a estratégia de Dilma e do PT era protelar o
impeachment apostando no desgaste do presidente em exercício Michel
Temer por conta das revelações do ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado na Lava Jato, que atingem aliados importantes de Temer no PMDB,
como o senador Romero Jucá (RR). A divulgação das primeiras revelações
de Odebrecht, no entanto, ampliaram o fogo sobre Dilma e forneceram
munição para o Planalto.
O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP),
defendeu ontem a inclusão das informações prestadas por Odebrecht como
prova no processo de impeachment. Para o tucano, as declarações do
empresário deverão ajudar a convencer senadores indecisos de que a
petista não tem condições de voltar a comandar o País.
Segundo reportagem da revista IstoÉ, em acordo de
confidencialidade com a Operação Lava Jato, Odebrecht disse que Dilma
pediu pessoalmente uma doação de R$ 12 milhões para sua campanha
eleitoral em 2014. Conforme a publicação, o empreiteiro diz que o então
tesoureiro da campanha, Edinho Silva, solicitou o montante, mas
Odebrecht se recusou a pagar. O empresário, então, teria procurado
Dilma, que teria afirmado: “É para pagar”.
“Essas declarações ajudam a formar a convicção de que ela não
pode permanecer na Presidência. É mais uma elemento para corroer aquela
fímbria de autoridade que ela tinha”, disse Aloysio. Para o senador, as
afirmações de Odebrecht devem ser levadas em consideração no julgamento
do impeachment. “Isso contribui para desmoronar aquela imagem virginal
que ela o PT construíram dela e da gestão dela”.
De acordo com a revista Veja, Odebrecht também afirmou que a
reeleição de Dilma foi financiada com propina depositada em contas no
exterior.
Áudios. Na avaliação de Aloysio Nunes, o próprio advogado de
Dilma, José Eduardo Cardozo, abriu espaço para essa inclusão, ao pedir
ontem na comissão do impeachment do Senado a inclusão como prova dos
áudios em que Jucá defende estancar as investigações da Lava Jato. “Já
que é para falar do conjunto da obra, fica evidente que (a declaração de
Odebrecht) deve ser levada em consideração.” Na sessão da comissão do
impeachment do Senado, na quinta-feira, o pedido de Cardozo foi negado
pelo relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O tucano
mineiro sustentou que os áudios de Jucá são estranhos ao processo. “Os
áudios não são fatos novos, não alargam o objeto. Não são estranhos ao
processo, eles são o processo”, rebateu o advogado de Dilma.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que Dilma
Rousseff deveria renunciar ao cargo e “poupar o Brasil” da espera pelo
desfecho do processo de impeachment. “Já existiam insinuações nesse
sentido e agora vem a comprovação final da participação direta da
presidente da República em todos esses atos irregulares e criminosos na
operação da Petrobrás”, afirmou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que as
acusações de Marcelo Odebrecht sobre pedido de doação ilegal para a
campanha da presidente afastada reforçam a tese de cassação da chapa das
eleições presidenciais de 2014 formada pela petista e por Temer.
“Se confirmado, isso contamina a chapa. Afinal, Temer não
seria presidente interino se Dilma não tivesse sido eleita”, afirmou
Randolfe. Para o senador, a declaração de Odebrecht reforça a
necessidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar logo o caso. A
chapa Dilma-Temer é alvo de quatro ações ajuizadas pelo PSDB, pedindo a
cassação por abuso de poder econômico nas eleições presidenciais de
2014.
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