Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Lava Jato tem o registro das reuniões
com políticos do presidente da OAS, que negocia delação premiada, para
escapar da cadeia por corrupção na Petrobrás
A Operação Lava jato apreendeu na casa de um
funcionário da OAS uma agenda com o registro das reuniões, almoços e
jantares com políticos, do presidente da empreiteira, José Aldemário
Pinheiro, o Léo Pinheiro, logo após a deflagração da Operação Lava Jato.
São encontros, a maior parte deles em hotéis de Brasília, com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os ex-ministros José Dirceu
e Gilberto Carvalho e com o ex-assessor da presidente Dilma Rousseff
Charles Capela de Abreu – todos investigados pela Procuradoria da
República.
A agenda foi encontrada em 14 de abril, nas buscas
que tinham como alvo o funcionário da OAS Marcos Paulo Ramalho,
secretário de Léo Pinheiro. Nas anotações, há registros ainda de
encontros com parlamentares como Rodrigo Maia e Jutahy Magalhães – alvos
de pedidos de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo
Janot.
Listado pela Polícia Federal entre os itens
recolhidos nas buscas da Operação Vitória de Pirro – em que Léo Pinheiro
é acusado de se associar ao ex-senador Gim Argello para comprar
parlamentares da CPI das Petrobrás, em 2014 -, o caderno preto com o
nome da OAS em relevo na capa guarda ainda os registros de encontros com
outros políticos, como Onix Lorenzoni, Índio da Costa e Paulo Skaf –
presidente da Fiesp e candidato derrotado ao governo de São Paulo pelo
PMDB, em 2014.
Preso em 14 de novembro, alvo da 7ª fase batizada de
Operação Juízo Final e condenado pelo juiz federal Sérgio Moro – da 13ª
Vara Federal, em Curitiba – , Léo Pinheiro negocia com a força-tarefa da
Lava Jato um acordo de delação premiada, em busca de redução de pena.
Sua rotina de encontros com políticos poderosos faz parte dos itens que a
Procuradoria quer que o empresário detalhe.
As anotações do secretário de Léo Pinheiro surgiram
após ele ser mandado para casa para cumprir prisão cautelar, por ordem
do Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns dos nomes registrados são
alvos de inquéritos ou pedido de investigação feitos pela PGR.
Na mesma agenda estão os encontros de Léo Pinheiro, a
maioria em abril e maio de 2014, com outros presos da operação, como o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o lobista Julio Gerin Camargo,
delator dos processos. Ele confessou ter atuado em parceria com Léo
Pinheiro para blindar empreiteiras na CPI da Petrobrás.
PSDB. Há ainda nomes que não havia
sido citados, de partidos como o PSDB. O deputado federal Jutahy Júnior
(PSDB-BA) é um dos que integra a lista.
Jutahy afirmou que o encontro foi agendado a seu
pedido. “Esteve comigo, da mesma forma que esteve comigo em 2010 e
2012.” O parlamentar afirmou que na ocasião foi acerta da contribuição
de R$ 600 mil para sua campanha e para campanhas de deputados estaduais
na Bahia. Desse valor, apenas a primeira parcela de R$ 300 mil foi paga,
em agosto.
Outro nome que aparece na agenda de reuniões de Léo
Pinheiro é o ex-deputado federal do PSB Alfredo Sirkis (RJ), um dos
principais articuladores das campanhas de Marina Silva, em 2010 e 2014 –
quando ela assumiu a disputa no lugar do ex-governador Eduardo Campos,
morto em desastre aéreo durante a disputa eleitoral.
O ex-presidente Lula, procurado por meio da assessoria de imprensa do Instituto Lula, não comentou o caso.
Alfredo Sirkis não foi localizado para comentar o caso.
COM A PALAVRA, GILBERTO CARVALHO
“Gilberto Carvalho nunca se reuniu com o senhor Léo Pinheiro”
COM A PALAVRA, O DEPUTADO FEDERAL JUTAHY MAGALHÃES JÚNIRO (PSDB-BA)
O deputado Jutahy Magalhães Junior, do PSDB da Bahia,
afirmou que esteve com Léo Pinheiro e que procurou o empresário para
pedir doação eleitoral para sua campanha. “Ele (Léo Pinheiro) esteve
comigo. Sou uma pessoa muito organizada na minha campanha. Nos meses de
abril, maio e junho procuro os possíveis doadores, para saber se é
possível me ajudarem. Em 2010 e 2012 a OAS ajudou a minha campanha e o
PSDB da Bahia. Está tudo registrado, ou no diretório estadual ou na
minha campanha. Então, em 2014, eu estive com ele e quis saber: ‘é
possível que a OAS pudesse me ajudar?’. E ele disse sim e combinou fazer
duas doações.”
O parlamentar disse que no encontro foram combinadas
as datas das doações, a primeira a ser feita na primeira quinzena de
agosto e a segundo em setembro. “
“Quem procurou fui eu, em função da campanha
eleitoral, como fiz com outras pessoas”, explicou Jutahy. “Eu pergunto
se pode ajudar e só digo uma coisa, não diga que pode e depois não
ajude. Porque minha campanha é vinculada receita com despesa.”
O deputado disse que o encontro não teria ocorrido no
dia 14. “Ele me ligou e disse que não poderia estar em São Paulo nessa
data. Deve ter sido no final de abril.”
Ficou combinado que ele faria duas doações, mas no
final das contas só uma se concretizou. Ele combinou doar R$ 300 mil em
agosto, para o partido. Sendo que R$ 30 mil foi para minha campanha e R$
270 mil para deputados estaduais.”
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