O pedido de impeachment de Dilma Rousseff nasceu como vingança de
Eduardo Cunha e por um bom tempo não andou porque Michel Temer não se
viabilizava como alternativa. Só pegou embocadura quando o vice saiu em
campo, armou o rompimento do PMDB com o Planalto, negociou com o
Congresso e conquistou as graças do PIB com o documento “Uma ponte para o
futuro”. Da mesma forma, a hipótese de volta de Dilma ao cargo só
deixará de ser muito remota quando houver sinais concretos de
articulação em torno do cenário que virá depois. As forças políticas que
bancarem a operação retorno terão que dizer como, com quem, para quê e
até quando ela governará.
Não serão, portanto, dois votos para lá, dois para cá, que irão
definir, de forma furtiva ou inesperada, os destinos do país na votação
final do impeachment no Senado. Nos últimos dias, os aliados de Dilma se
animaram e os neoplanaltinos se apavoraram com declarações de senadores
como Cristovam Buarque (PPS-DF), Acyr Gurgacz (PDT-RR) e Romário
(PSB-RJ), entre outros, de que, diante dos rumos que vêm tomando o
governo Temer, podem mudar de voto para absolver a presidente no
julgamento final, viabilizando sua volta. Afinal, na primeira rodada
Temer obteve 55 votos, apenas um a mais do que o necessário para tornar
efetivo o hoje presidente interino.
Com isso, o Planalto passou a cortejar esses senadores, enquanto os
aliados de Dilma iniciavam ofensiva para virar o jogo no Senado acenando
com futuros acordos. Bom para eles. Só que, no caso em questão,
dificilmente as coisas vão se resolver assim, no varejo de um ou outro
voto.
Há uma série de requisitos para que a articulação em torno da volta de
Dilma ao Planalto seja bem sucedida, a começar pelo interesse do PT e do
ex-presidente Lula na causa. Até agora, temos visto a presidente
afastada lutando como guerreira, cavando diariamente espaços na mídia e
buscando apoio na sociedade para denunciar o que considera um golpe. Mas
Dilma parece sozinha, tendo a seu lado uns poucos ex-ministro que a
acompanham nas agendas ou gravam vídeos para Facebook com criticas ao
novo governo.
Lula faz uma reunião aqui, outra ali, chama senadores para conversar,
manda dizer que vai percorrer o país denunciando o golpe... Mas tudo
ainda a portas fechadas. Já vimos esse filme, e ele não conseguiu evitar
a autorização para abertura do impeachment nem na Câmara e nem no
Senado. Mas todos sabem que, ainda que o ex-presidente ande acabrunhado
com as investidas da Lava Jato contra ele, temendo mesmo ser preso, a
única chance de restaurar o governo da petista Dilma passa por ele.
Se o criador não sair a campo para salvar a criatura, quem se animará a
fazê-lo? Se Lula não for à luta e mostrar a cara, não vai convencer
ninguém de que quer a volta da sucessora ao Planalto e que isso é
politicamente viável. Ao contrário, alimentará as intrigas de que
prefere Dilma fora, o que lhe permitirá passar a mão na bandeira da
oposição e construir a estratégia para 2018.
Da mesma forma, dificilmente o PT de Dilma conseguiria agregar em torno
de sua volta outras forças políticas sem um compromisso para o futuro.
Diversos senadores que admitem mudar de voto a favor da presidente
afastada não querem nem Temer, nem Dilma. São favoráveis à realização de
novas eleições presidenciais.
Assim como boa parte dos brasileiros nas pesquisas, esse senadores não
acreditam que Dilma seria capaz de reunir as condições necessárias para
governar numa hipotética volta, seja pelo desgaste político no
Congresso, seja pela falta de apoio popular. Ainda que divida o PT e
aliados, a questão da nova eleição – autorizada por um plebiscito –
teria que fazer parte do pacote na negociação, com todas as complicações
que poderia acarretar. No mínimo, mais alguns meses de incerteza no
país.
Não há solução fácil. O desfecho, em qualquer hipótese, vai depender da
capacidade de articulação de interesses diversos – e, no momento,
Michel Temer, com quilometragem nas negociações políticas e a caneta na
mão, tem melhores condições de jogo.
Só que o peemedebista está tendo mais dificuldades do que se esperava
para governar. Fez escolhas complicadas para o Ministério, constatou que
a Lava Jato continua desembestada como um caminhão descendo a ladeira
na banguela e continua longe de conquistar a simpatia da população.
Descuidou-se dos pleitos e movimentos da sociedade. Sua chance de se
tornar presidente definitivo passa por dois decisivos fatores: 1) a
capacidade de se blindar da Lava Jato, o que não depende só dele; 2) a
economia, ou seja, de convencer o país de que a competente equipe que
montou para tocar a área vai dar um jeito nas coisas antes que ela dê
de fato.
Nos próximos dois meses, tudo isso vai ficar claro. Será mais um agosto daqueles.
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POLÍTICA E ECONOMIA