Antonio Cícero/FramePhoto/Folhapress | ||
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves |
06/06/2016 02h00
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ao STF (Supremo
Tribunal Federal) que o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) atuou
para obter recursos desviados da Petrobras em troca de favores para a
empreiteira OAS.
Parte do dinheiro do esquema desbaratado pela Operação Lava Jato teria
abastecido a campanha de Alves ao governo do Rio Grande do Norte em
2014, quando ele acabou derrotado.
A negociação envolveria o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o
ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. As afirmações da Procuradoria constam
do pedido de abertura de inquérito para investigar os três, enviado no
fim de abril ao Supremo, mas até hoje mantido sob sigilo.
No despacho obtido pela Folha, Janot aponta que Cunha e Alves atuaram para beneficiar empreiteiras no Congresso, recebendo doações em contrapartida.
"Houve, inclusive, atuação do próprio Henrique Eduardo Alves para que
houvesse essa destinação de recursos, vinculada à contraprestação de
serviços que ditos políticos realizavam em benefício da OAS", escreveu
Janot.
"Tais montantes (ou, ao menos, parte deles), por outro lado, adviriam do
esquema criminoso montado na Petrobras e que é objeto do caso Lava
Jato", completou.
É a primeira vez que Janot liga os repasses feitos para Alves aos
desvios ocorridos na Petrobras. O peemedebista foi ministro do Turismo
do governo Dilma e voltou ao cargo com Michel Temer.
Como o processo se encontra oculto, não há informações se houve decisão
do ministro do Supremo Teori Zavascki pela abertura do inquérito. As
suspeitas são de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.
A investigação tem como base mensagens apreendidas no celular de Pinheiro.
Janot diz que Cunha recebeu valores indevidos, em forma de doações
oficiais, por ter atuado em favor de empreiteiras. O mesmo teria
ocorrido com o ministro.
"Verificou-se não apenas a participação de Henrique Eduardo Alves nesses
favores, como também o recebimento de parcela das vantagens indevidas,
também disfarçada de 'doações oficiais'".
Entre 10 e 23 de outubro de 2014, houve ao menos oito pedidos de
recursos para Alves, feitos por Cunha a Pinheiro. Também há cobranças
diretas do atual ministro ao empreiteiro.
Alves, segundo a PGR, prometeu ao comando da OAS atuar junto ao Tribunal
de Contas da União e ao Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte, onde
a empreiteira tinha pendências.
As mensagens também citam diversos encontros dos empreiteiros com Alves.
Na prestação de contas da campanha de Alves, há o registro do
recebimento de R$ 650 mil da OAS. Além disso, outros R$ 4 milhões,
doados pela Odebrecht, são considerados suspeitos por Janot, porque as
doações teriam sido feitas a pedido de Cunha para um posterior acerto da
Odebrecht com a OAS.
TEMER
O pedido de inquérito também cita outros nomes fortes do governo Temer,
como o próprio presidente interino, o ministro Geddel Vieira Lima
(Secretaria de Governo) e Moreira Franco (secretário-executivo do
Programa de Parcerias de Investimento).
Janot faz referências a doação de R$ 5 milhões que Pinheiro teria feito a
Temer e afirma que o pagamento tem ligação com a obtenção da concessão
do aeroporto de Guarulhos, atualmente com a OAS.
"Léo Pinheiro afirmou que explicaria, pessoalmente, para Eduardo Cunha
[sobre a doação], mas que o pagamento dos R$ 5 milhões para Michel Temer
estava ligado a Guarulhos", escreveu Janot.
O procurador-geral, porém, não pede especificamente para investigar
esses fatos relacionados a Temer nem diz se entrarão no objeto do
inquérito.
*
CONVERSAS INDISCRETAS
Para Procuradoria, mensagens de celular mostram Henrique Eduardo Alves e Cunha pedindo doações à OAS
Para Procuradoria, mensagens de celular mostram Henrique Eduardo Alves e Cunha pedindo doações à OAS
OS ENVOLVIDOS
Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo (PMDB-RN)
Eduardo Cunha, deputado federal afastado (PMDB-RJ)
Léo Pinheiro, ex-presidente e sócio da OAS condenado a 16 anos
22.jun.2013
Henrique Eduardo Alves (para Léo Pinheiro): Charles [não
identificado] poderia me procurar seg cedo em casa? la marcaria com Pres
TC, irmão do Garibaldi. Discutiríamos problema. Se ele puder, 8 e 30!Ok
14.jul.2013
Henrique Eduardo Alves (para Léo Pinheiro): Seg, em BSB, vou pra cima do TCU. Darei notícias!
Segundo a Procuradoria, o ministro diz que procurará o então
presidente do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte, Paulo Roberto
Chaves Alves, irmão do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), para
resolver demandas da OAS
26.mar.2013
Léo Pinheiro (para Antonio Carlos Mata Pires, sócio da OAS):
Henrique Alves me ligou x nossa negociação com o América de
Natal.Falo-me do nOde cadeiras: 1650 para 2000 E do valor mensal: 50mil
para 100mil. Vc vê com Cadu? Bjs.
Segundo a Procuradoria, Pinheiro relata conversa que teve com Alves
sobre negociação de cadeiras com o time de futebol América de Natal
10.out.2014
Eduardo Cunha: Vê Henrique seg turno
Léo Pinheiro: Vou ver
13.out.2014
Eduardo Cunha: Amigo a eleição e semana que vem preciso queveja urgente...
15.out.2014
Eduardo Cunha: Henrique amigo?
Léo Pinheiro: Está muito complicado
Eduardo Cunha: Mas amigo tem de encontrar uma solução senão todo esforço será em vão
16.out.2014
Henrique Eduardo Alves (para Léo Pinheiro): Amigo, como Cunha falou, na expectativa aqui. Abs e Obrigado
17.out.2014
Eduardo Cunha: Amigo qual a saída para Henrique?
Léo Pinheiro: Infelizmente não tenho
21.out.2014
Eduardo Cunha (para Léo Pinheiro): Deixa falar tive com Junior pedi a ele paradoar por vc ao henrique acho que ele fará algo. Tudo bem?
Eduardo Cunha: Preciso que de um reforço ao Junior ao menos 1 dele da. Sua contaprecisava de emergência
23.out.2014
Eduardo Cunha (para Léo Pinheiro): Ok bom tocando com junior qui na pressão ele vai resolver e se entende com vc
Segundo a Procuradoria, "Junior" é Benedicto Barbosa Silva Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura
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