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Robson Ventura - 3.set.2011/Folhapress
Lula, na obra do Itaquerão, com o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez e Emílio Odebrecht (dir.) |
A Polícia Federal concluiu que o apelido "Amigo", que consta numa
planilha de pagamentos de propina apreendida com funcionários da
Odebrecht, faz referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
É o que afirma o despacho que indiciou o ex-ministro Antonio Palocci Filho, divulgado nesta segunda-feira (24) pelos investigadores da Operação Lava Jato.
"Há respaldo probatório e coerência investigativa em se considerar que o
'AMIGO' das planilhas faça referência a Luiz Inácio Lula da Silva",
escreveu o delegado Filipe Hille Pace.
As planilhas indicam um saldo, supostamente de propinas, de R$ 23
milhões em favor do "amigo", ou Lula. Desse total, R$ 8 milhões teriam
sido pagos em 2012, "sob solicitação e coordenação de Palocci", segundo o
relatório. Não se sabe o que ocorreu com os R$ 15 milhões restantes.
Os outros beneficiados da planilha são "Itália", que seria Palocci,
segundo os investigadores, e "Pós-Itália", cuja identidade ainda não foi
identificada pela PF. Segundo a Folha apurou, o apelido faria referência ao ex-ministro Guido Mantega, segundo informaram delatores da Odebrecht.
Lula diz que jamais recebeu ou solicitou propinas e afirma ser perseguido politicamente pela Lava Jato.
A conclusão sobre a identidade do "Amigo" é baseada em e-mails e
mensagens de Marcelo Odebrecht, que fazem referência às alcunhas "Amigo
de meu pai" e "Amigo de EO [Emílio Odebrecht]", de acordo com relatório
policial.
Um dos e-mails, de 2014, foi enviado pelo o ex-executivo Alexandrino
Alencar para Marcelo Odebrecht. Na mensagem, segundo a PF, Alencar se
refere a "amigo de EO" (Emílio Odebrecht) para relatar detalhes de uma
programação de viagens com Lula pela África.
Em outro e-mail, de 2013, Alencar afirma ao empreiteiro que a "reunião
com o amigo de seu pai foi boa" e diz que está uma viagem para Peru,
Equador e Colômbia está "ok". Nas datas mencionadas na mensagem, Lula de
fato viajou para esses países.
Emílio, pai de Marcelo, era o principal interlocutor de Lula na
empreiteira. Durante acordo de delação, ele afirmou, conforme revelou a Folha, que o estádio do Corinthians, construído pela Odebrecht, foi uma espécie de presente ao ex-presidente.
Pace destaca, porém, que a apuração de responsabilidade criminal de Lula
não compete a ele, mas ao delegado federal Marcio Anselmo, que conduz
os inquéritos contra o ex-presidente.
"Consigne-se que tais elementos probatórios já são de conhecimento do
Exmo. Delegado de Polícia Federal Márcio Adriano Anselmo, responsável
pelo núcleo de investigação dos crimes que, em tese, teriam sido
praticados por Luiz Inácio Lula da Silva", escreve o delegado.
OUTRO LADO
Em nota, o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, afirmou
que as acusações contra Lula são "frívolas, típicas do lawfare, ou seja,
da manipulação das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de
perseguição política".
"Na falta de provas, usa-se da 'convicção' e de 'achismos'", declarou o defensor.
Ele diz que os policiais repetiram o "abuso praticado" na entrevista
coletiva convocada por procuradores da Lava Jato sobre a denúncia
apresentada contra o ex-presidente à Justiça Federal, em setembro, e que
a suspeita de repasse para o ex-presidente se trata apenas de uma
"indevida e inconsequente opinião de um membro da Polícia Federal, sem
elemento algum para autorizar a conclusão de que Lula recebeu qualquer
vantagem indevida".
"Todas as contas de Lula já foram analisadas pela Polícia Federal e nenhum valor ilegal foi identificado."
FOLHA
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