'Isto É' revela negociata para calar amiga íntima do ex-presidente
Publicado: 13 de agosto de 2016 às 20:28 - Atualizado às 20:32
Redação
Em negociação de delação premiada, o ex-presidente da empreiteira
OAS Léo Pinheiro revela que, a pedido do ex-presidente Lula, contratou a
empresa do então marido de Rosemary Noronha, a Rose, a ex-chefe de
gabinete da Presidência da República em São Paulo, com o objetivo de
silenciá-la. A revelação é da edição da IstoÉ que circula neste fim de semana. Leia a reportagem de Paulo Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas para a revista:
Um dos capítulos do acordo de delação premiada que o ex-presidente da
OAS, Léo Pinheiro, vem negociando com a Lava Jato trata especificamente
dos favores prestados pela empreiteira a Lula. É nele que Pinheiro vai
relatar aos procuradores como foi montada e executada uma operacão
destinada a comprar o silêncio de Rosemary Noronha, a protegida do
ex-presidente petista. Detalhará como a empreiteira envolvida no
Petrolão a socorreu após ela ser demitida do gabinete da Presidência em
São Paulo, em dezembro de 2012, e ter se tornado alvo da Polícia Federal
na Operação Porto Seguro pelo envolvimento com uma organização
criminosa que fazia tráfico de influência em órgãos públicos. Conforme
Léo Pinheiro já adiantou aos integrantes da Lava Jato, uma das maneiras
encontradas pela OAS para ajudá-la foi contratar a New Talent
Construtora, empresa do então cônjuge de Rose, João Vasconcelos. A
contratação, disse Pinheiro, atendeu a um pedido expresso de Lula.
Documentos em poder da força-tarefa da Lava Jato e de integrantes do
Ministério Público de São Paulo, aos quais IstoÉ teve acesso, confirmam que a New Talent trabalhou para a OAS.
Mensagens
trocadas por executivos da OAS no fim de 2014 interceptadas pela
Polícia Federal na Operação Lava Jato mostram a pressa dos dirigentes da
empreiteira em “resolver o problema de João Vasconcelos e Rose.” Nas
conversas, em que chegaram até a mencionar os telefones da protegida de
Lula e do ex-marido dela, os executivos narram a pressão do “amigo”,
possivelmente o ex-presidente Lula, para que fosse encontrada logo uma
solução. Pudera. Fora do cargo, respondendo criminalmente na Justiça e
sem o prestígio de outrora, Rosemary Noronha fazia chegar à cúpula do
partido que se sentia abandonada. Não escondia o descontentamento com
integrantes da gestão Dilma. Acreditava que o Palácio do Planalto nada
fez para protegê-la da Operação Porto Seguro. Rose atemorizava os
petistas com uma possível delação. Os petistas temiam que ela contasse o
que testemunhou graças à proximidade de décadas com o ex-presidente
Lula. Os dois se conhecem desde 1988. Na época, ela trabalhava na
agência em São Bernardo do Campo onde o Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC possuía conta. Pouco depois, passou a gerenciar as contas do próprio
Lula e recebeu um convite para secretariá-lo no escritório do PT em São
Paulo. Ficou doze anos no cargo. Nos bastidores do partido,
comentava-se que uma opinião dela poderia viabilizar ou encerrar de vez
as chances de alguém se reunir com o futuro presidente. Quando o PT
chegou ao Palácio do Planalto em 2003, Rose logo recebeu um cargo. Foi
designada assessora do gabinete do executivo federal em São Paulo e,
depois, chefe do escritório da presidência da República na capital
paulista. Não raro, ausentava-se da cidade para acompanhar as comitivas
do petista em eventos e viagens ao exterior. Seu poder era tanto que
poucas pessoas arriscavam se indispor com Rosemary. Mesmo com a posse de
Dilma, Rose se manteve no posto na cota de Lula.
Com a delação da OAS em mãos, não será difícil para as autoridades
comprovarem como foi, de fato, colocado em prática o plano para comprar o
silêncio de Rosemary Noronha via a contratação da empresa do seu
ex-marido. A primeira prova que estabelece o elo entre a New Talent e a
OAS já foi fornecida aos promotores paulistas e procuradores do
Petrolão. Diz respeito à recuperação judicial da própria empreiteira.
Denunciada na Lava Jato, a OAS viu os seus caixas secarem com o
cancelamento de contratos e o atraso de pagamentos de obras suspeitas de
superfaturamento. Precisou ingressar com um pedido na Justiça para
ganhar tempo para pagar bancos e fornecedores. É justamente no edital em
que constam as empresas que dizem ter créditos a receber da OAS que a
empresa do ex-marido de Rosemary figura. Não se sabe quanto João
Vasconcelos recebeu da empreiteira no total, mas a New
Talent Construtora reclama R$ 15,4 mil que teriam ficado pendentes.
Os procuradores federais e os promotores paulistas tiveram mais
surpresas ao esquadrinharem a empresa. Apesar de se dizer uma companhia
de engenharia de “construção de edifícios” na Junta Comercial do Estado
de São Paulo (Jucesp), a New Talent sequer possui um veículo. Sua sede
fica em uma pequena sala de um prédio simples de quatro andares em cima
de uma farmácia na zona sul da capital paulista. Possui capital social
de R$ 120 mil, valor irrisório se comparado ao de outras firmas do mesmo
ramo. No papel, a New Talent tem outras duas pessoas como donas. A
primeira é o genro de Rose, Carlo Alexandro Damasco Torres. A segunda,
Noemia de Oliveira Vasconcelos é mãe do ex-marido de Rose. Em comum, os
dois sócios possuem patrimônios incompatíveis com um negócio deste
porte. Segundo as autoridades, a empresa pertence a João Vasconcelos, o
ex-cônjuge de Rose. Em contratos da companhia, é ele quem aparece como o
responsável.
Na ficha da New Talent na Jucesp consta ainda um pedido de bloqueio
de bens de outubro de 2015 de mais de R$ 2 milhões. Trata-se de uma
decisão tomada pela Justiça Federal com base nas acusações de
improbidade administrativa contra Rose, o ex-marido João Vasconcelos, a
New Talent e outros investigados na Operação Porto Seguro por integrarem
uma rede de tráfico de influência no setor público.
UM PRESENTE MILIONÁRIO
As ajudas recebidas por Rosemary Noronha foram além do contrato firmado pela OAS com a New Talent a pedido de Lula. Como IstoÉ
mostrou com exclusividade na sua última edição, a amiga do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria recebido um dúplex no
Condomínio Residencial Ilhas D’ Itália, com cerca de 150 metros
quadrados e piscina interna, localizado em uma área valorizada da
capital paulista. Documentos e depoimentos colhidos por integrantes do
Ministério Público de São Paulo que conduzem a operação Alcatéia, uma
nova fase da investigação do tríplex ocultado pela família Lula no
Guarujá, mostram que há fortes indícios de que Rose recebeu o
apartamento sem pagar nada pelo bem. O empreendimento foi iniciado pela
falida Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), que lesou sete
mil famílias, e finalizado pela OAS. Rose faria parte de um grupo de
pessoas ligadas a Lula, à cúpula do PT e à Central Única dos
Trabalhadores que teria se beneficiado de fraudes na cooperativa e das
transferências de empreendimentos inacabados para a OAS.
Em nota enviada à IstoÉ na última semana, Rosemary Noronha
afirmou que não recebeu “nenhum apartamento” e que forneceu
“documentação que comprova a quitação do apartamento que” adquiriu. A
questão, para o Ministério Público de São Paulo, é que Rosemary enviou
apenas os comprovantes de pagamento de um outro imóvel, localizado no
Condomínio Torres da Mooca. Não mandou aos promotores nenhum documento
ou explicação do dúplex de 150 metros quadrados, que está em nome de sua
filha Mirelle. Às autoridades, a própria Mirelle disse que quem obteve o
dúplex foi sua mãe. Em janeiro de 2014, Rose teria repassado o imóvel
para a filha, que também não conseguiu comprovar o pagamento.
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